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A nova filosofia de Klinsi

Daniel Martínez (as)17 de setembro de 2008

Segundo o assistente técnico Martín Vásquez, a nova filosofia que Jürgen Klinsmann levou para o Bayern de Munique tem por objetivo promover o desenvolvimento humano dos jogadores.

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Vásquez foi escolhido pelo próprio Jürgen Klinsmann para ser o seu assistente técnicoFoto: AP

Ele é no Bayern de Munique o que Joachim Löw foi na seleção alemã: o braço direito do técnico Jürgen Klinsmann. O mexicano naturalizado norte-americano Martín Vásquez, de 44 anos, foi escolhido pelo próprio Klinsmann para ser o seu assistente no clube alemão.

Em entrevista à DW-WORLD, ele deixa claro o motivo dessa escolha: a afinidade entre os dois treinadores. Vásquez endossa totalmente a nova filosofia de trabalho que o técnico alemão adotou no Bayern de Munique.

Segundo Vásquez, a visão de Klinsmann é "dar aos jogadores a possibilidade de se desenvolver como pessoas". Nisso ele tem todo o apoio da equipe técnica, assegura o assistente, que nos seus tempos de jogador defendeu as seleções do México e dos EUA.

Para implementar a filosofia de Klinsmann, o Bayern remodelou seu centro de treinamento. Os jogadores dispõem de áreas de relaxamento, cursos de ioga e podem ler em tranqüilidade ou mesmo estudar línguas. Tudo com o objetivo de auxiliar no "desenvolvimento humano" dos jogadores, como explica Vásquez na entrevista abaixo.

DW-WORLD: O quanto lhe custa ser o braço direito do técnico Jürgen Klinsmann no Bayern de Munique?

Martín Vásquez: Meus dias são muito longos, bem mais do que os dias dos jogadores. Durante a preparação para a atual temporada trabalhei 10, 12 horas seguidas. Essa é a mentalidade de trabalho de Jürgen Klinsmann. Uma de suas virtudes é a disciplina e, para o bem da equipe, planejar tudo em detalhes.

Bundesliga Klinsmann Jubel
Klinsmann comemora um gol do Bayern de MuniqueFoto: picture-alliance/ dpa

Qual seu balanço dos três primeiros meses no Bayern?

Muito positivo. Estamos num caminho muito bom. Quando começamos, sabíamos do calendário dos jogadores que estariam na Eurocopa, nas Eliminatórias da Copa 2010 e nos Jogos Olímpicos. Com isso em mente, traçamos um plano para ter o grupo no mesmo nível de rendimento na quarta ou quinta rodada da Bundesliga. Tudo está saindo como previsto.

Quando se ouve falar em todas as mudanças no Bayern de Munique parece que Klinsmann é um novo messias e você e os demais integrantes da equipe técnica são os apóstolos de uma nova religião.

Não somos apóstolos nem nos vemos como tal. Klinsmann tem uma visão, quer dar aos jogadores a possibilidade de se desenvolver como pessoas, como seres humanos. Essa visão conta com o apoio de todo o corpo técnico. Não somos os pioneiros nesse tipo de coisa. Em vários países já há treinadores, ainda que poucos, que trabalham nesse campo. Trata-se de preparar o jogador para a sua vida depois do futebol, abrindo novos horizontes para ele.

De onde vem essa idéia?

A filosofia é de Klinsmann, que não teve essas opções como jogador e hoje conhece as carências dos jogadores. Muitos deles, se não forem grandes estrelas, não tem opções ao final de sua carreira. O desejo de Klinsmann é que, daqui a 10 ou 15 anos, os jogadores que trabalharam com ele estejam numa boa posição e levem uma vida boa.

O que há de Mártin Vásquez nessa filosofia?

Como jogadores, como técnicos ou como pessoas comuns, nós tivemos uma experiência semelhante e, como muitos outros jogadores, temos vivido as mesmas coisas. Conversamos muito sobre isso e ficou claro que muitos profissionais do futebol nunca tiveram a oportunidade de uma educação nem de se preparar para buscar e encontrar opções e alternativas fora dos estádios ao final de seu ciclo ativo. Este é o momento para algum como Jürgen ser fiel a sua visão, pois não é coisa de dois meses, é algo de longo prazo.

E hoje o Bayern incorpora essa visão?

No futebol se fala de quatro dimensões: técnica, tática, física e mental. Nós acrescentamos uma quinta: o desenvolvimento humano, para que o jogador seja cada vez melhor. O projeto no Bayern é oferecer aos jogadores essa quinta dimensão.

Mas o sucesso do clube continuará sendo medido em vitórias e pontos.

Está muito claro para nós que a régua mais importante para medir nosso trabalho são os resultados. A infra-estrutura de um clube, sozinha, não ganha sozinha as partidas. Por isso, de nenhuma maneira descuidamos das outras quatro dimensões. Sabemos que temos de mostrar resultados para termos a possibilidade de seguir com o nosso projeto e a nossa filosofia.

Não está se dando muita importância a essa quinta dimensão?

Não, para nós continua sendo um elemento do conjunto. Acredito que lá fora está se dando muita importância, mas para nós o aspecto futebolístico continua sendo o mais importante, segue sendo prioridade e não o perdemos de vista. Mas agora temos no Bayern um clube que oferece mais possibilidades. A filosofia de Klinsmann é simples: fazer do jogador algo melhor, e nisso ele tem o apoio de toda a equipe técnica.

Sobre o que conversavam Martín Vásquez e Jürgen Klinsmann antes de começar este projeto no Bayern de Munique? O que motivou Klinsmann a querer trabalhar com você?

Falamos sobre essa filosofia, sobre o desenvolvimento humano do jogador e do que isso significava para ele [Klinsmann]. Desde o primeiro momento acreditei nele porque vivi essa situação. Temos algo em comum, ambos queremos o melhor para o jogador e para a equipe, sem vaidades pessoais. Em algum momento se encontraram duas pessoas com a mesma idéia: o jogador é mais do que um atleta que chuta uma bola, é uma pessoa.