Plágios de ministro
20 de fevereiro de 2011O ministro alemão da Defesa, Karl-Theodor zu Guttenberg, enfrenta fogo cruzado da oposição desde a revelação de que diversos trechos de sua tese de doutorado, defendida em 2006, foram copiados de outros autores, sem a devida menção das fontes. A tese de doutorado do ministro, atualmente o político mais popular da Alemanha, contém textos de pelo menos 19 autores sem citação adequada, conforme levantamento do diário Süddeutsche Zeitung.
Os plágios encontrados na tese de doutorado de Guttenberg incluem até mesmo trechos do trabalho de um calouro da Universidade Livre de Berlim, segundo reportagem publicada no sábado (19/02) pelo jornal Berliner Zeitung. De acordo com o semanário Der Spiegel o ministro também usou textos de autoria de um funcionário do departamento de pesquisa do Parlamento alemão, sem citar o autor.
Título de doutor
Na sexta-feira, Guttenberg havia admitido haver "erros" em sua dissertação e disse que não utilizará o título de doutor temporariamente até que as acusações sejam analisadas pela Universidade de Bayreuth, onde o trabalho foi apresentado. Ele ressaltou, entretanto, que "em nenhum momento cometeu incorreções conscientemente".
Conforme reportagem do diário Süddeutsche Zeitung, pelo menos 50 das 400 páginas da tese de doutorado de Guttenberg contêm trechos de outros autores copiados na íntegra ou em parte. Na última terça-feira, o ministro havia afirmado que se disporia a avaliar eventuais "erros isolados" em "notas de pé de página". Além disso, garantiu ter ele mesmo escrito o trabalho.
Plágios incluem trabalho de calouro
O jornal Berliner Zeitung noticiou que em diversas páginas da tese podem ser encontradas passagens de um trabalho universitário de março de 2003. Um professor da Faculdade de Ciências Políticas da Universidade Livre de Berlim havia disponibilizado o texto na internet, sem mencionar o autor, como exemplo de bom trabalho a ser usado como modelo e orientação para seus alunos.
Na dissertação de Guttenberg podem ser encontradas, entre outras, a conclusão de duas páginas escritas pelo aluno do primeiro semestre do curso de Ciências Políticas, com formulações ligeiramente modificadas.
Segundo a revista Der Spiegel, um texto de cerca de 10 páginas de autoria de um funcionário do serviço de pesquisa do Parlamento alemão, foi inserido na tese de doutorado do político "quase sem modificações".
O documento havia sido encomendado pelo próprio Guttenberg na época em que era deputado federal. A publicação ressaltou que políticos só são autorizados a utilizar os serviços do departamento de pesquisa do Parlamento alemão para apoio de suas funções como deputados.
Oposição levanta suspeitas
A oposição levanta suspeitas de que Guttenberg empregou ghostwriters na elaboração de sua tese de doutorado. "Temos a impressão de que parte do trabalho de doutorado foi escrita por ghostwriters na administração do Bundestag", afirmou o deputado Thomas Oppermann, do SPD.
"A opinião pública tem direito a saber se o serviço de pesquisas do Parlamento foi usado para fins particulares, e se Guttenberg escreveu seu trabalho de doutorado às custas dos contribuintes", complentou. O líder da bancada do SPD no Parlamento alemão, Frank-Walter Steinmeier, pediu ao ministro que esclareça as dúvidas sobre o caso. "Guttenberg é inteligente o suficiente para saber que toda a responsabilidade recai sobre seus próprios ombros", disse.
A chanceler federal alemã, Angela Merkel, tentou minimizar a importância do caso. "Acho que o ministro da Defesa e a Universidade de Bayreuth vão esclarecer as coisas", afirmou em entrevista à emissora NDR.
O escândalo foi revelado em pesquisas de Andreas Fischer-Lescano, professor de Direito da Universidade de Bremen, divulgadas em reportagem publicada na última quarta-feira pelo jornal Süddeutsche Zeitung. Fischer-Lescano acusou a tese de doutorado, concluída em 2006 pelo então deputado federal Guttenberg, de ser "um plágio descarado".
Longos trechos copiados de jornais
Entre os trechos copiados, o professor de Direito localizou uma longa passagem retirada do jornal suíço Neue Zürcher Zeitung am Sonntag. A própria introdução da tese foi retirada quase que textualmente de um artigo do diário alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung publicado em 1997, citado apenas na bibliografia.
O ministro Karl-Theodor zu Guttenberg é atualmente o político mais popular da Alemanha, com 68% de aprovação entre o eleitorado, segundo sondagens recentes, à frente da premiê Angela Merkel e do líder da bancada democrata-cristã no Parlamento, Frank-Walter Steinmeier, ambos com 52%.
MD/afp/dpa/rtrs
Revisão: Soraia Vilela