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AfD planeja sua própria redação de notícias

10 de maio de 2018

Partido populista de direita quer criar sua própria redação porque se considera vítima de notícias falsas na imprensa alemã. Mas estudo mostra que é justamente ele quem mais divulga "fake news".

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Symbolbild Europa & Fake News
Foto: picture-alliance/dpa/M. Murat

No início de março, Alice Weidel, copresidente do partido populista Alternativa para a Alemanha (AfD), foi buscar aconselhamento com um interlocutor famoso: Steve Bannon, o ex-estrategista-chefe do presidente Donald Trump e propulsor do site de notícias Breitbart News.

Ambos se encontraram num hotel em Zurique, na Suíça. Sobre o que falaram, não se sabe. A assessoria de Weidel divulgou, de forma genérica, que ela estava especialmente interessada na experiência de Bannon com comunicação política e mídias alternativas.

A declaração faz todo sentido, pois, semanas antes, a AfD anunciara que pretendia abrir sua própria redação de notícias. O motivo para essa decisão, também segundo Weidel, é que a imprensa alemã apresenta o partido de forma negativa ou o ignora.

"Esse é o único caminho possível enquanto a AfD for ignorada ou desacreditada de propósito com fake news por muitas mídias", argumentou Weidel. "Nosso ambicioso objetivo de longo prazo é que os alemães, um dia, assistam à AfD e não à ARD", declarou, em referência à emissora pública alemã.

A redação da AfD deveria começar a funcionar em abril, mas, depois do anúncio dos planos, em fevereiro, pouco se ouviu falar nela. Porém, esta semana Weidel garantiu ao jornal suíço Neue Zürcher Zeitung que os planos continuam de pé. E deu mais detalhes.

Como não cair em "fake news"?

Metade das 20 vagas estão preenchidas, afirmou. A redação vai produzir conteúdo para as redes sociais e também para um canal de televisão. Um estúdio de televisão está sendo montado. Mas o foco mesmo serão as mídias sociais.

A AfD aposta muito em mídias sociais e é reconhecida até pelos adversários como o partido alemão que melhor as utiliza. São 400 mil seguidores no Facebook, bem mais do que qualquer outra legenda.

Essa nova incursão da AfD na mídia será financiada com a verba da sua bancada no Bundestag, pois, oficialmente, a tarefa da redação será informar sobre o trabalho dos deputados do partido.

A legislação alemã permite que as bancadas utilizem a verba disponível para relações públicas para informar a população sobre o seu trabalho. Não é permitido utilizar esse dinheiro para fazer propaganda do partido. A iniciativa da AfD corre, portanto, o risco de virar uma questão para o tribunal de contas.

E mesmo que a AfD assim o nomeie, o trabalho da sua redação não vai ser, de forma alguma, jornalismo. Afinal, a independência intrínseca ao jornalismo não pode ser garantida por uma redação ligada a um partido político e cuja finalidade é justamente divulgar o que a bancada desse partido está fazendo. Na prática, trata-se de um trabalho de relações públicas.

E a parte irônica de toda essa história: segundo um estudo da fundação Neue Verantwortung, justamente a AfD é a ponta da lança na difusão de notícias falsas na Alemanha.

"O terreno fértil [para a difusão de fake news] é a AfD. Sete dos dez casos por nós analisados foram instrumentalizados também pela AfD", afirmou o especialista em mídia Alexander Sängerlaub, da Neue Verantwortung, à emissora Deutschlandfunk.

A coluna Zeitgeist oferece informações de fundo com o objetivo de contextualizar temas da atualidade, permitindo ao leitor uma compreensão mais aprofundada das notícias que recebe no dia a dia.

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