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AfD é acusada de insuflar o ódio e estimular atentados

21 de fevereiro de 2020

Políticos dizem que retórica do partido estimula ataques como o de Hanau. Legenda populista de direita rejeita responsabilidade, mas teoria conspiratória da "grande troca populacional" já foi usada por seus líderes.

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Manifestante exibe cartaz contra a AfD durante vigília pelas vítimas de HanauFoto: picture-alliance/dpa/S. Wurtscheid

Não demorou muito para representantes de partidos políticos alemães associarem o atentado ocorrido nesta quarta-feira (19/02) em Hanau à Alternativa para a Alemanha (AfD), apontando para semelhanças entre a visão de mundo expressada pelo atirador e declarações de membros da sigla populista de direita.

A presidente da União Democrata Cristã (CDU), Annegret Kramp-Karrenbauer, disse que o ataque mostra como é importante manter distância da AfD. "Não pode haver cooperação com um partido que tolera extremistas de direita, ou, eu digo claramente, nazistas, em suas fileiras."

O secretário-geral do Partido Social-Democrata (SPD), Lars Klingbeil, chamou a AfD de "braço político da extrema direita" e disse que ela deve ser posta sob vigilância pelo serviço secreto interno, que monitora grupos ou pessoas que ofereçam riscos à democracia alemã. Para ele, "uma pessoa atirou em Hanau, mas muitas lhe deram munição, e isso definitivamente inclui a AfD".

A AfD negou que tenha qualquer relação com o atentado ou com o atirador, que matou nove pessoas de origem estrangeira em dois bares de narguilé. O co-presidente da AfD, Jörg Meuthen, disse que "a instrumentalização política desse ataque terrível é um equívoco cínico" e que se trata da ação de um louco e não de terrorismo de direita ou de esquerda.

É verdade que não são conhecidas ligações entre o atirador de Hanau e a AfD, mas analistas políticos veem uma clara relação entre o atentado e teses defendidas por membros do partido. Em entrevista à emissora alemã ARD, o pesquisador político Carsten Koschmieder afirmou que a legenda populista de direita tem responsabilidade no atentado.

"É evidente que não se pode falar de culpa no sentido jurídico. Mas está claro que a AfD e aquilo que alguns políticos do partido dizem contribui para que crimes como esse ocorram", afirmou.

Um exemplo são posições do líder da AfD na Turíngia, Björn Höcke. Em livro de sua autoria, ele encampou ideias da ideologia de extrema direita, como a chamada "grande troca populacional", uma teoria da conspiração que sustenta que governos europeus, com a cooperação das "elites", conspiram para trocar a população branca por imigrantes de países árabes, muçumanos ou africanos.

O co-líder da bancada do partido no Bundestag, Alexander Gauland, também já fez uso da expressão. Ele declarou em 2017 que a "troca populacional" está "a todo vapor" na Alemanha ao comentar a possibilidade de refugiados sírios levarem seus familiares para o país.

Essa teoria se reflete também no manifesto deixado pelo atirador de Hanau, comenta Koschmieder. "Ele escreveu que o povo alemão está decaindo porque há muitas pessoas com passaporte alemão que nem mesmo são etnicamente alemães. É exatamente o discurso que se ouve na AfD", observou.

Nas redes sociais, vários usuários comentaram que postagens da AfD costumam associar os bares de narguilé à criminalidade.

Em seu livro, Höcke também defende que imigrantes e refugiados que vivem na Alemanha devem ser expulsos do país, e que "não será sempre possível fazer isso sem a força e sem criar cenas que não são bonitas".

"No que isso acaba resultando? Sempre numa expulsão violenta, sempre naquilo que vimos na Iugoslávia no início dos anos 1990 e que ficou conhecido como a limpeza étnica", disse o cientista político Claus Leggewie em entrevista à ARD em agosto de 2019, ao comentar o livro de Höcke no contexto dos atentados de Christchurch, na Nova Zelândia.

AS/ard/dpa/afp

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