Afeganistão às vésperas de sua primeira eleição direta
8 de outubro de 2004A realização da primeira eleição direta para presidente no Afeganistão será um importante passo rumo à democratização de um país que ainda está longe de alcançar o padrão ocidental. Em algumas regiões, os talibãs resistem, a produção de ópio continua fora de controle e a infra-estrutura básica, como canalização e eletricidade, permanece excluída da paisagem urbana. A explosão de um míssil em Cabul nas proximidades da embaixada da Alemanha, na madrugada desta sexta-feira (08/10), é o mais recente exemplo da determinação da forças de resistência.
Mesmo assim, nos últimos três anos o Afeganistão vem consolidando, embora de forma lenta e por vezes tumultuada, o processo de democratização e de pacificação em seu território. A eleição direta no sábado (09/10) está sendo considerada pela comunidade internacional como um marco do progresso político do país.
Candidatos e promessas
Dezoito candidatos concorrem à eleição, entre eles o atual presidente de transição Hamid Karzai, tido como o favorito, e a médica Masuda Djalal, que além de ser mulher é também a mais jovem concorrente, com 41 anos. Embora tímida, a campanha eleitoral, encerrada oficialmente na quinta-feira (07/10), deixou entrever que os candidatos, de maneira geral, têm os mesmos propósitos: oferecer educação para as crianças, garantir água potável e eletricidade, bem como um teto para cada cidadão.
Quando questionados sobre como serão angariados recursos para que estas metas sejam implementadas, as respostas são sempre vagas. Alguns candidatos afirmam que o país é rico e possui grandes reservas de gás e petróleo, por exemplo.
Ainda é cedo?
"Eu tenho a carta de registro para votar, mas não faço a menor idéia de como vai ser", revelou uma moradora de Cabul. Ela não é nenhuma exceção. Muitos eleitores não sabem de fato o que é uma eleição e como se faz para votar. Com uma taxa de 90% de analfabetismo no país, as cédulas trarão as fotos dos candidatos para facilitar a escolha.
A alemã Susanne Schmeidl, que coordena um projeto de esclarecimento à população e aos mais de 100 mil mesários, admitiu que a instrução foi bastante superficial e não irá abranger todo o país, devido à demora na entrega do material. "Mal conseguimos explicar para as bases qual a relação entre o registro, o voto e a democracia. A ONU enviou o material a menos de dez dias da eleição e temos que distribuí-lo em todas as províncias. Será impossível chegar a todos os cantos."
Será que a eleição não está então sendo precipitada? O diretor do Instituto Democrático Nacional, uma ONG canadense, Grant Kippen, afirmou que não. "Quando seria o momento adequado? 10,6 milhões de eleitores já se registraram e eu considero isto um sinal de que o povo está interessado e quer participar deste processo.
Passo importante
A grande dúvida é saber como transcorrerão estas eleições. Além de representantes de ONGs que ajudarão na supervisão e na parte organizacional, 60 mil policiais afegãos e 27 mil soldados estrangeiros cuidarão da segurança dos mais de 20 mil locais de votação.
Será um passo importante, caso as eleições transcorram sem problemas, afirmou o comentarista da Deutsche Welle, Peter Philipp, acrescentando que o exemplo servirá para o Iraque, onde o mundo, passado um ano do fim da guerra, ainda espera por um milagre. No Afeganistão, três anos após a guerra, o país pelo menos está consolidando uma base para o futuro, concluiu o comentarista.