Aftosa e gripe aviária preocupam exportadores brasileiros
11 de outubro de 2005As notícias sobre o foco de febre aftosa no Mato Grosso do Sul e o avanço da gripe aviária na Europa preocupam os exportadores brasileiros de carne e frango presentes na Anuga, que termina nesta quarta-feira (12/10), em Colônia, na Alemanha.
"Os concorrentes do Brasil podem explorar as especulações que envolvem o caso da febre aftosa, como já aconteceu no passado", teme o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Marcus Vinícius Pratini de Moraes. "Ainda bem que os importadores conhecem o Brasil e sabem que o combate à doença é levado a sério", disse em entrevista à DW-WORLD.
O último foco de aftosa no país, registrado há um ano, no Amazonas, resultou em um embargo de cinco meses imposto pela Rússia ao Brasil. Nesta terça-feira (11/10), o governo russo impôs um embargo temporário às importações de carne, leite e produtos derivados, vindos do Mato Grosso do Sul, informou a agência de notícias russa RIA-Novosti, no final da tarde na Europa.
O governo brasileiro confirmou nesta segunda-feira (10/10) a doença em 140 animais no Mato Grosso do Sul. Segundo Moraes, 24 horas após a confirmação, todas as medidas já foram tomadas "para evitar que esse foco restrito se alastre. Todos os 582 animais da propriedade atingida foram sacrificados e a área foi isolada num raio de 25 quilômetros para investigação epidemiológica. Somos profissionais em lidar com isso e queremos garantir alimento seguro aos consumidores."
O Ministério da Agricultura comunicou a ocorrência da doença à OIE (Organização Mundial de Saúde Animal) em Paris, ao Panaftosa (Centro Pan-Americano de Febre Aftosa), às nações vizinhas e aos países e blocos econômicos com os quais o Brasil mantém intercâmbio comercial, entre eles a União Européia. Moraes não descarta que possa ocorrer "uma parada nas importações de carnes brasileiras pela UE, mas até agora não há nenhuma sanção".
O Brasil tem um rebanho de 195 milhões de bovinos, o equivalente a 19% do rebanho mundial. As 300 indústrias do setor pecuário processam 8,6 milhões de toneladas de carne por ano (16,4% do volume mundial). Vinte por cento da carne (1,9 milhão de toneladas) são exportados para 153 países. Nos últimos 11 meses, as exportações do setor renderam 3,1 bilhões de dólares.
Barreiras tarifárias
"Poderíamos produzir o dobro, se as barreiras tarifárias para a exportação não fossem tão altas. Na UE, chegam a 176%, enquanto o Brasil cobra taxas de importação de, no máximo, 30% sobre artigos de luxo", afirmou Moraes.
Ele ressaltou que 90% da área usada para a criação de gado são livres de febre aftosa e 100% da carne exportada é controlada de acordo com as normas sanitárias internacionais. "Não há nenhuma justificativa técnica para que outros países deixem de comprar carne brasileira. Temos uma política de fiscalização e informação transparente e os importadores sabem disso."
O governo brasileiro pretende erradicar completamente a febre aftosa no país até 2008, uma meta a ser atingida na América do Sul dois anos mais tarde. "Não há como o Brasil ficar livre de aftosa, se os vizinhos, como Paraguai e Argentina, continuarem com o problema", explicou. O último foco da doença no Mato Grosso do Sul, em 1999, teve sua origem na Argentina. "Desta vez, pode ter sido gado contrabandeado do Paraguai, embora não se possa comprovar isso", disse.
Leia a seguir: Frangos e outros produtos brasileiros na Anuga
Não só de carne bovina vive a presença do Brasil na Anuga 2005. Também a carne de frango brasileira é cobiçada no exterior. De janeiro a agosto de 2005, as exportações do produto renderam um recorde de 2,2 bilhões de dólares, enquanto o setor de suínos ficou em US$ 786 milhões.
Segundo o secretário-executivo dos da Associação Brasileira de Produtores e Exportadores de Frango (Abef), Pablo Marcos Marshall, o Brasil produz nove milhões de toneladas de frango por ano (2º lugar no mundo, depois dos EUA), dos quais exporta três milhões de toneladas, principalmente para o Oriente Médio e Japão. Trezentas mil toneladas vão para a União Européia, sobretudo para a Alemanha, Inglaterra e Holanda.
Segundo Marshall, os tornados nos EUA e a gripe aviária na Ásia (Tailândia) favoreceram as exportações de frango brasileiro. As vendas poderiam ser ainda maiores, não fossem as altas taxas de importação, que na UE atingem até 1500 euros por tonelada. Não só as barreiras tarifárias, mas também o avanço da gripe aviária na Europa preocupam os exportadores brasileiros. A UE já proibiu as importações de frango da Turquia e Romênia, onde foram identificados casos da doença.
"O Brasil tem uma equipe sanitária bem preparada para enfrentar a gripe do frango, mas para aves migratórias não há como adotar medidas de quarentena, o que é possível, por exemplo, no caso da febre aftosa", disse Marshall. "É preciso detectar, controlar e erradicar rapidamente o vírus, além de tomar medidas preventivas para evitar sua entrada no país", afirmou.
Outros produtos brasileiros
A Anuga em Colônia – considerada a meca da indústria de alimentos – reuniu este ano 6300 empresas de 108 países. Do Brasil, vieram 125 expositores de 14 Estados, entre eles 36 do setor de carnes. Durante a feira, a Abiec pretende servir meia tonelada de picanha, filé mignon e contra-filé na Churrascaria Barbacoa, instalada no estande da entidade, onde os visitantes podem também degustar cachaça (ou caipirinha) e vinhos nacionais.
A produção brasileira de cachaça atinge cerca de 1,3 bilhão de litros anuais, gerando uma receita próxima de US$ 500 milhões e empregando 450 mil pessoas. No primeiro semestre de 2005, o Brasil exportou US$ 1,17 milhão em vinhos.
Em Colônia, o Brasil tenta mostrar também que tem café torrado e moído com qualidade para exportação. "O país exporta 24 milhões de sacas de café verde, mas apenas 65 mil sacas de café torrado por ano", disse Jean Frederic Bailly, diretor de exportações da Café do Ponto.
Um destaque brasileiro é o "Coco, the natural drink", um suco de frutas 100% natural, produzido pela empresa Paraibana Agroindustrial (CE) e escolhido como um dos 50 produtos mais inovadores da feira. Além disso, o país apresenta alimentos em geral e matérias-primas, conservas especiais, doces e produtos para lojas de conveniência, alimentos finos e dietéticos, congelados e produtos de sorveteria.