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Agricultores europeus elegem Brasil como inimigo

(as)19 de julho de 2005

Protestos de agricultores contra a reforma do setor açucareiro se voltaram contra o Brasil, acusado de seguir reduzidos padrões sociais e ambientais para produzir açúcar a baixos preços.

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Cartazes dizem: 'Açúcar agora só do Brasil? Não, obrigado!'Foto: dpa

Os ministros europeus da Agricultura estão reunidos até esta terça-feira (19/07) em Bruxelas para debater a reforma do setor de açúcar do bloco. Em discussão está a redução de 39% no preço mínimo pago ao produtor até 2010, proposta pela Comissão Européia.

O encontro começou sob protestos de cerca de 7 mil agricultores de toda a Europa. Eles são contra a reforma do setor e dizem que os grandes beneficiados com as mudanças serão os produtores brasileiros. Os agricultores europeus acusam o Brasil de tentar deter o monopólio mundial da produção e da industrialização de açúcar.

Segundo eles, o baixo preço do açúcar brasileiro se deve aos reduzidos padrões sociais e ambientais de produção do país. Para a ministra da Agricultura da Alemanha, Renate Künast, essa crítica é correta, mas não se pode encontrar uma solução olhando para o passado.

Trabalhadores mexicanos

Zuckerstreit in der EU Treffen der Agrarminister in Brüssel Protestaktion irischer Bauern
Agricultores europeus protestam em BruxelasFoto: AP

Para Künast, é verdade que os trabalhadores do setor açucareiro brasileiro precisam ser remunerados de forma digna. "Mas se os grandes latifundiários não puderem exportar, os trabalhadores rurais não terão nem mesmo ocupação", afirmou.

De acordo com queixa apresentada à Organização Mundial do Comércio (OMC) por Brasil, Tailândia e Austrália, os altos subsídios concedidos pela União Européia prejudicam o acesso ddo açúcar produzido nesses países ao mercado europeu. A OMC deu ganho de causa aos três países em abril deste ano.

As críticas dos agricultores europeus misturam argumentos plausíveis com outros discutíveis. Em entrevista à influente emissora de rádio Deutschlandfunk, um agricultor belga que cultiva 70 hectares de beterraba apresentou suas opiniões contra a reforma do setor açucareiro: "No Brasil, os produtores possuem áreas enormes, com mais de mil hectares. Eles contratam mexicanos por cinco francos ao dia. E podem usar produtos químicos proibidos por aqui. Isso é claramente uma concorrência injusta".

Fora Künast

Além do Brasil, os agricultores alemães elegeram um outro inimigo: a ministra Künast, do Partido Verde. Em Bruxelas, vários cartazes traziam a expressão "Fora Künast". A ministra não se intimidou e, cercada por seguranças e sob proteção policial, subiu num palanque improvisado para defender a reforma do setor.

Die deutsche Agrarministerin Renate Künast in Brüssel Protestaktion Zuckerstreit in der EU
Ministra Renate Künast encara a multidãoFoto: AP

"Eu entendo a preocupação de vocês", disse ela. "Mas a reforma virá." Künast defendeu a sugestão da Comissão Européia de reduzir, até 2010, o preço mínimo garantido ao produtor em 39%. "A agricultura precisa mostrar que sabe lidar de maneira responsável com o dinheiro de impostos", disse a ministra aos manifestantes. Ela disse esperar que os países-membros da União Européia cheguem a um acordo sobre a reforma até novembro.

Os agricultores afirmam que as mudanças colocam em risco a ocupação de 46 mil produtores de beterraba, 6,5 mil empresários e 20 mil empregados da indústria açucareira. A Federação Alemã de Agricultores considerou a sugestão de reforma apresentada pela Comissão Européia como uma declaração de guerra ao setor.