Agência alemã antidoping pede investigação sobre brasileiros
7 de agosto de 2016Depois do escândalo envolvendo um suposto esquema estatal de dopagem no esporte russo, o doping voltou a ser tema nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Desta vez, porém, o Brasil é o centro das atenções. Um dia após a Agência Mundial Antidoping (Wada) ter revelado a ausência de testes em atletas brasileiros durante as semanas que precederam os Jogos, foi a vez da Agência Alemã de Antidoping (Nada) se queixar, nesta sábado (06/08), e exigir uma investigação.
Na sexta-feira, a Wada tinha confirmado à revista britânica Times que o Brasil deixou de realizar exames de doping nos "principais atletas" do país. A Wada inclusive acusou autoridades brasileiras de pressionar pela suspensão dos controles e fala em "condições inaceitáveis".
Durante a semana, o diário esportivo Lance publicou uma entrevista com ex-assessor da Agência Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD) Luis Horta, que afirmou ter sofrido pressão do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e do Ministério do Esporte para reduzir os testes.
"Isso é um escândalo. E, obviamente, também é característico. Mostra como é fraudado", disse o especialista alemão em doping, Fritz Sörgel, que não descarta um esquema estatal de doping no Brasil, assim como foi feito na Rússia. "Depois das más experiências com a Rússia, temos que questionar: será que há também doping estatal no Brasil? Ou será que foi uma forma de ganhar tempo para 'limpar os corpos' e evitar um escândalo antes dos Jogos."
"Sem controle no período mais importante"
Em vista dos recentes acontecimentos, a Nada exigiu uma investigação completa. "A Wada precisa analisar as acusações no Brasil. Se for verdade que participantes olímpicos brasileiros não foram controlados antes dos Jogos, devem ser tomadas as devidas consequências", disse a presidente da Nada, Andrea Gotzmann.
A fase de treinamento antes de grandes competições é "o período mais importante" para controles, segundo Gotzmann. "Na Alemanha, todos os atletas com possibilidades de irem ao Rio de Janeiro foram acompanhados e submetidos a teste de doping meses antes do início dos Jogos", disse, garantindo que a rigidez dos exames seguiu até os últimos dias antes dos Jogos.
"O maior número de medalhas, limpas ou não"
A Wada alegou ter sido informada por Horta, em julho, de que o Ministério do Esporte tinha suspendido as fiscalizações sem anúncio prévio em diversos atletas de ponta. Segundo Horta, o COB também exerceu pressão. Posteriormente, o Ministério do Esporte admitiu que não foram realizados examos entre 1º e 24 de julho, no entanto, negou qualquer irregularidade e influência política.
O Ministério do Esporte alegou que os testes não tinham como ser feitos, já que a Wada havia revogado, em junho, a licença do laboratório antidoping no Rio de Janeiro. Horta fala em um período de 45 dias antes dos Jogos sem controles. Segundo ele, o objetivo era "conquistar o maior número de medalhas, limpas ou não".
Segundo Horta, os primeiro problemas vieram em junho. "O Ministério do Esporte e o COB disseram que nós estávamos realizando muitos controles e que estávamos perturbando os treinamentos dos atletas", disse. Normalmente, cada atleta passa por três exames por ano – atletas de ponta por seis. As autoridades também teriam se queixado que Horta e sua equipe tinham interpretado o sistema antidoping de forma muit rígida.
COI não demonstra preocupação
Enquanto isso, o Comitê Olímpico Internacional (COI) disse não ver problemas com a ausência de testes de doping em atletas brasileiros. "Confiamos que os brasileiros foram devidamente testados", limitou-se a dizer o porta-voz do COI, Mark Adams.
Também o porta-voz do Comitê Organizador da Rio 2016, Mario Andrada, assegurou que a equipe brasileira foi controlada conforme demanda o regulamento. "O presidente do COB, Carlos [Arthur] Nuzman, reiterou que a tolerância com doping é zero", afirmou.
PV/dpa/sid