Agência de espionagem alemã empregou filha de Himmler
30 de junho de 2018A filha do comandante da SS Heinrich Himmler trabalhou entre 1961 e 1963 como secretária no serviço secreto da Alemanha Ocidental, segundo uma reportagem do tabloide Bild publicada nesta sexta-feira (29/06).
Gudrun Burwitz morreu em 24 de maio de 2018, aos 88 anos. Ativa em círculos neonazistas, ela nunca renegou a ideologia nazista e passou décadas tentando reabilitar a imagem do pai, que foi um dos principais arquitetos do Holocausto.
Burwitz, segundo o jornal, começou a trabalhar para o Serviço Federal de Investigações da Alemanha (BND, na sigla em alemão) quando a agência ainda era chefiada por Reinhard Gehlen, um ex-general das forças armadas da Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial que, após o conflito, passou a trabalhar em conjunto com a CIA (a agência de inteligência dos EUA).
Muitos dos agentes recrutados por Gehlen nos anos 1950 e 1960 para trabalhar no BND tinham sido empregados pela Gestapo, a polícia secreta do regime nazista, e pela SS, as forças de elite do regime. Na metade dos anos 1960, no entanto, a presença de tantos ex-nazistas na organização passou a ser alvo de críticas na Alemanha. A organização também foi acusada de ineficiência após a descoberta de que alguns de seus membros eram agentes duplos da Alemanha Oriental ou da União Soviética.
Segundo o Bild, o BND confirmou que Burwitz trabalhou para a organização até 1963. "O BND confirma que Burwitz era membro do BND por alguns anos até 1963 sob um nome falso", disse ao jornal Bodo Hechelhammer, chefe do departamento de história do BND. "O momento de sua partida coincidiu com o início de uma mudança no entendimento e no emprego de funcionários envolvidos com os nazistas", disse Hechelhammer.
O funcionário também disse que, como Burwitz morreu, o BND foi capaz de confirmar a história sem romper sua política de não comentar sobre empregados atuais ou antigos que ainda estão vivos.
Nazista incorrigível
Nascida em 1929, Gudrun conviveu com seu pai até os 15 anos. Em maio de 1945, Heinrich Himmler se suicidou após ser capturado por tropas britânicas. Gudrun e sua mãe, Margarete, também foram capturadas. Acabaram sendo soltas em 1946.
Ao contrário de outros filhos de nazistas, que renegaram publicamente o legado de seus pais, Gudrun nunca desaprovou as ações de Heinrich Himmler.
Ela também permaneceu ativa em organizações neonazistas como a Juventude Viking, uma organização ilegal fundada nos anos 1950 que seguia o modelo da antiga Juventude Hitlerista. Ela também apoiou e atuou ativamente na organização Stille Hilfe (Ajuda Silenciosa), um grupo que ajudava antigos criminosos de guerra em fuga, como Klaus Barbie, um membro da SS conhecido como o "Açougueiro de Lyon" por sua brutalidade com prisioneiros na França ocupada pelos nazistas. Ele foi deportado da Bolívia em 1983 e morreu numa prisão francesa.
Ela também ajudou Anton Malloth, um ex-guarda do campo de concentração de Theresienstadt, acusado de matar pessoalmente mais de cem prisioneiros. No final dos anos 1980, ela conseguiu um apartamento em um asilo nos arredores de Munique para o já idoso Malloth e costumava visitá-lo duas vezes por semana.
Ao longo da sua vida, Burwitz só concedeu uma entrevista, em 1959, quando tinha 30 anos, e nela definiu como sua missão mudar a imagem de seu pai diante da história. "Meu pai é visto hoje como o maior genocida da história. Quero tentar mudar essa imagem", disse Burwitz na época ao jornalista Norbert Leber.
Em 1955, ela também visitou o Reino Unido junto com Adolf von Ribbentrop (filho do antigo ministro do Exterior do regime nazista e que foi executado em 1946). Os dois atenderam um convite do partido neofascista Union Movement, que era chefiado por Oswald Mosley. Num discurso para membros do partido, ela disse que seu pai era "um grande homem que teve a reputação destruída pelos judeus".
Nos anos 1960, Gudrun se casou com Wulf-Dieter Burwitz, uma figura também ativa em movimentos neonazistas e que foi funcionário do Partido Nacional-Democrático da Alemanha (NPD).
JPS/ots
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