Ainda faltam dois corpos e muitas respostas
6 de julho de 2002Os trabalhos de busca e resgate dos corpos e dos destroços devem terminar somente após o fim de semana. "Vamos procurar as duas vítimas restantes até encontrá-las. Queremos evitar a todo custo que pedestres ou cachorros ainda encontrem mais tarde pedaços de corpos por aí", informa o policial Wolfgang Hoffmann. Agora, até mesmo mergulhadores estão vasculhando o fundo de um pequeno lago em Aufkirch, um povoado nas proximidades de Überlingen, cidade sobre a qual aconteceu o desastre na noite da última segunda-feira (1/7).
A mais de 11 mil metros de altitude, um Tupolev russo, com 45 crianças a bordo rumo a férias na Espanha, e um cargueiro alemão Boeing 757, com destino a Bruxelas, chocaram-se pouco antes da meia-noite, iluminando com fogo o céu escuro sobre a margem alemã do Lago de Constança, fronteira com a Suíça. Os destroços se espalharam por vários quilômetros, sem porém atingir qualquer pessoa ou prédio em Überlingen e redondezas. Em alguns pontos, caíram a poucos metros de casas. Apenas 15 corpos foram identificados até agora.
Chuva atola guindastes e atrapalha remoção de destroços
Neste sábado, 400 policiais e colaboradores percorreram os campos de trigo e milho, assim como os bosques da região, em busca dos restos das duas vítimas ainda desaparecidas e de mais pedaços dos aviões. As chuvas, porém, estão dificultando a retirada dos destroços. As partes maiores estão tendo de ser cortadas para serem transportadas, pois os guindastes que deveriam retirá-los do meio do campo acabaram atolando no chão encharcado.
A traseira do Boeing e a fuselagem do Tupolev já foram levados para o aeroporto de Friedrichshafen, onde todos os restos dos aviões serão minuciosamente investigados. Da análise dos dados e gravações registrados nas caixas pretas, não se espera novidades até a próxima quarta-feira. O exame está sendo realizado no Escritório Alemão para Investigação de Acidentes Aéreos, em Braunschweig, no norte da Alemanha.
Skyguide: "Tudo o que poderia dar errado, deu errado"
Até o momento a maior parte dos fatos apontados como causadores da tragédia recai sobre a Skyguide, responsável pelo controle de vôos em Zurique e que monitorava os aviões. Uma seqüência de fatores fez com que "tudo o que poderia dar errado, desse errado naquela noite", conforme admitiu um porta-voz da empresa. Neste sábado, a empresa anunciou a redução em 20% da capacidade do espaço aéreo sob seu controle, como medida para aliviar a carga de trabalho de seus funcionários.
Segundo depoimentos, na noite do acidente, a torre de Zurique demorou a assumir o monitoramento do Tupolev, que conforme sua rota estava antes sob controle de Munique. Naquele momento, um dos controladores de vôo encarregados da aeronave fazia pausa para lanche. O outro estava tentando passar a responsabilidade sobre outro avião para o aeroporto de Friedrichshafen. A linha telefônica principal da Skyguide estava, porém, em manutenção e o funcionário teve de recorrer a outra linha.
Equipamentos em manutenção prejudicaram controlador
Quando finalmente ocupou-se dos outros quatro aviões que tinha em seu outro monitor, o Tupolev já estava em rota de colisão com o Boeing. Não estivesse o sistema de alarme de colisões igualmente em manutenção naquela noite, o controlador teria sido alertado pelo equipamento para o perigo, mesmo que estivesse ao telefone.
Menos de um minuto antes do choque, o controlador teria ordenado ao piloto russo baixar sua altitude. A medida, porém, só seria executada após um novo alerta, quase 30 segundos depois. Por coincidência, a mesma ordem parece ter sido dada ao alemão, pelo sistema anticolisão TCAS de seu Boeing, de modo que ambos teriam direcionado suas aeronaves para baixo, que acabaram colidindo.
Esclarecimento do desastre ainda pode demorar
Dúvidas persistem sobre o funcionamento do TCAS do Tupolev. Como os sistemas de alarme dos aviões se comunicam sozinhos e "acertam" entre si a solução para evitar uma colisão, seria presumível que o aparelho russo tivesse indicado a seu comandante a necessidade de subir. Por que não o fez? Estaria o TCAS com defeito ou desligado? Ou o piloto preferiu seguir a orientação da torre e ignorar a de seu equipamento?
Estas e muitas outras perguntas certamente ainda ficarão bom tempo sem resposta. O controlador de vôo envolvido na colisão está em estado de choque, afastado do trabalho e mantido no anonimato pela Skyguide.