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Ainda incipiente, consumo de madeira certificada ganha apoio do Rio 2016

Clarissa Neher31 de janeiro de 2014

Comitê dos Jogos Olímpicos se compromete a adquirir somente produtos de origem florestal certificada para o evento. Certificação ajuda a combater desmatamento e promove melhores condições de trabalho.

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Marca da FSC garante que a madeira teve manejo adequadoFoto: AP

A exploração ilegal de madeira é uma das responsáveis pelo desmatamento da Amazônia e de florestas no mundo inteiro. Uma forma de combater esse crime é adquirir somente produtos de origem florestal certificados. Mas no Brasil essa prática ainda é incomum, e o preço é a principal barreira.

O consumidor, na maioria das vezes, adquire madeira olhando o quanto ela custa, e, seguindo essa lógica, artigos produzidos com madeira certificada não têm muitas chances, pois costumam ser mais caros do que os que não possuem selos.

Mas o "preço mais em conta" esconde, muitas vezes, a extração ilegal. Por vias escusas, a madeira originária do desmatamento de florestas acaba entrando no mercado. E, por ser ilegal, não paga impostos, além de não respeitar leis ambientais e trabalhistas.

"A certificação florestal assegura que determinado produto tem boa origem, ou seja, respeita as boas práticas ambientais, sociais e até mesmo econômicas em sua produção. A certificação florestal é a segurança de que aquele produto não veio, por exemplo, de exploração ilegal, de trabalho escravo ou da exploração de uma unidade de conservação", afirma Marco Lentini, coordenador do programa Amazônia do grupo ambientalista WWF-Brasil.

Segundo Lentini, a madeira certificada é a única cuja origem é garantida. Existem diversas certificações no mundo. Os selos mais conhecidas no Brasil são o do Conselho Brasileiro de Manejo Florestal (FSC Brasil) e o do Programa Brasileiro de Certificação Florestal (Cerflor).

Entre os certificados oferecidos, os dois mais comuns sãos o de manejo florestal – a garantia de que a floresta é explorada de forma responsável – e o de cadeia de custódia – para artigos produzidos com essa matéria-prima.

Proteção ambiental e social

O destino de quase dois terços dos quase 33 milhões de metros cúbicos de madeira certificada no Brasil é a fabricação de papel e celulose. A demanda de produtos de origem florestal certificados na indústria moveleira e na construção civil ainda é baixa, e o potencial de expansão é grande.

Abholzung Regenwald Amazonas
Consumo de madeira certificada combate o desmatamentoFoto: picture-alliance/dpa

"Ainda é a escassa a oferta de madeira certificada no Brasil, embora esteja crescendo nos últimos anos", afirma Adalberto Veríssimo, cofundador do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), um instituto de pesquisa sem fins lucrativos.

Na Amazônia, apenas 3% da mata passível de ser manejada é certificada. No país, 6,961 milhões de hectares de florestas possuem o selo de manejo florestal do FSC Brasil. Pelo Cerflor, quase 1,5 milhão de hectares eram certificados em 2012.

Para estimular esse setor, medidas como o combate ao desmatamento, a fiscalização de empresas que vendem e compram madeira ilegal, além de incentivos fiscais para produtores que trabalham com certificações são essenciais. O incentivo ao consumo de produtos certificados pode ser promovido através de campanhas de esclarecimento sobre esses selos e sua importância.

Parceria com os Jogos Olímpicos

A madeira certificada ganhou um defensor importante no país. O Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos Rio 2016 e a FSC Brasil assinaram um acordo, garantindo que toda a madeira e produtos de origem florestal adquiridos pela organização do evento, desde estruturas para construção até papelaria, sejam certificados.

"Esse tipo de compromisso, assumido por um comprador desse porte, tem um poder de influência muito grande e pode realmente alterar o quadro atual da certificação, no sentido de mais oferta e mais atores envolvidos, interessados e buscando esse processo, e também fazendo com que mais pessoas entendam e conheçam o selo", diz Fabíola Zerbini, secretária executiva do FSC Brasil.

Ainda não se sabe o volume total de madeira que será necessário para os Jogos Olímpicos. Mas os primeiros dados divulgados pelo comitê já dão uma ideia. A organização do evento vai comprar 43 mil camas, 80 mil mesas, 40 mil cadeiras e 26 mil sofás ou poltronas. Essa procura deve movimentar o mercado moveleiro na busca de certificações.

"Temos o objetivo de trabalhar com toda a nossa cadeia de suprimentos para integrar critérios de responsabilidade ambiental, social e econômica. Para isso é preciso ajudar a desenvolver o mercado, não apenas para garantir oferta, mas para cumprir nosso objetivo de incentivar práticas mais sustentáveis", conta Tânia Braga, gerente geral de Sustentabilidade, Acessibilidade e Legado da Rio 2016.