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Popularidade sem apoio

3 de novembro de 2009

As altas taxas de popularidade do presidente Barack Obama entre os alemães não se traduzem em aprovação à sua política externa. Especialistas veem crescente distanciamento entre Europa e EUA nas questões internacionais.

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Foto: AP

A popularidade do presidente Barack Obama continua em alta na Alemanha, mas cresce no país uma certa desilusão em relação à política externa do novo governo dos Estados Unidos, principalmente no que diz respeito a questões como Afeganistão, proteção climática e combate ao terrorismo.

Na opinião da especialista em política internacional e de segurança Constanze Stelzenmüller, do German Marshall Fund (GMF), em Berlim, o fenômeno não é recente e já faz tempo que Europa e Estados Unidos estão se afastando um do outro.

Ela nota que essas relações transatlânticas se dão hoje num contexto histórico totalmente diferente do existente na época da Guerra Fria, quando havia um inimigo comum claramente definido.

"As relações transatlânticas – especialmente no campo da política de segurança – mudaram muito. A época da Guerra Fria era, de certo modo, uma anomalia. Hoje em dia, é muito mais difícil para americanos e europeus identificarem ameaças e desafios comuns, que sejam percebidos como tal pelos dois lados. E a complexidade dos assuntos com os quais nos ocupamos hoje – crise financeira, Irã, Afeganistão etc. – parece sobrecarregar a política."

Divergências

Enquanto a popularidade de Obama entre os alemães supera os 90% segundo a pesquisa Transatlantic Trends da GMF, apenas 13% dos entrevistados disseram aprovar o aumento das tropas no Afeganistão defendido por Obama.

"Por um lado, Obama recebeu o Prêmio Nobel da Paz, o que alegrou muitas pessoas e boa parte da opinião pública no mundo", argumenta o cientista político Jürgen Wilzewski, da Universidade de Kaiserslautern. "Por outro lado, é ele quem está ampliando a presença militar dos EUA no Afeganistão. E isso evidencia a situação conflituante na qual todos nós nos encontramos."

Também o pedido de que a Alemanha abrigasse alguns dos ex-detentos de Guantánamo – e dessa maneira ajudasse no processo de fechamento do polêmico centro de detenção – não foi recebido com entusiasmo pelos alemães.

Muitos europeus também estão decepcionados com os rumos da anunciada virada na política climática dos Estados Unidos. Devido à pouca disposição dos congressistas norte-americanos, aparentemente os Estados Unidos chegarão à Conferência de Copenhague, em dezembro, sem ter muito a oferecer para ajudar na redução das emissões de gases do efeito estufa.

Sanções contra o Irã

Um ponto recente que uniu europeus e americanos foram as negociações sobre política nuclear com o governo iraniano. Mas aumentar as sanções contra o Irã foi a única coisa que ocorreu aos dois parceiros, após a descoberta de uma segunda unidade de enriquecimento de urânio perto da cidade de Qom.

"O problema das sanções é que elas afetam a população e, no fim das contas, apenas elevam a solidariedade da população com o regime. É necessário encontrar as chamadas smart sanctions, como a proibição de viagens e vistos e restrições no setor bancário internacional. Mas também aí as opções são poucas. O fato é que não nos ocorre mais coisas que possamos oferecer ao Irã ou com que possamos ameaçar o Irã", afirmou Stelzenmüller, do GMF.

Condenar Obama seria erro

Diante de tudo isso, a imagem de Obama entre os alemães está arranhada mesmo antes de ele completar um ano no poder. "Surgiu um certo ceticismo, principalmente diante da situação política interna dos Estados Unidos, onde aparentemente o novo presidente não está conseguindo impor suas posições", avalia Wilzewski.

Já Stelzenmüller alerta que seria um erro condenar desde já Obama. "Ele provou que é uma pessoa incrivelmente inteligente e talentosa, uma verdadeira exceção como talento político. Um presidente como ele o mundo não verá de novo tão cedo. Por isso acredito que os europeus estejam interessado em colaborar com ele. Afinal, ninguém sabe o que virá depois."

Autor: Daniel Scheschkewitz (as)

Revisão: Rodrigo Rimon