Alemanha: 50 anos sem Adenauer
19 de abril de 2017Konrad Adenauer chegou a chanceler federal alemão em 15 de setembro de 1949, quando já tinha 73 anos. Seus médicos disseram que ele poderia exercer o cargo por dois anos, e ele ficou quatorze, e seus próprios aliados políticos tiveram que tirá-lo quase a força.
Entre as duas datas, a da sua chegada ao poder e a da sua renúncia, quando deixou o governo nas mãos de seu ministro da Economia, Ludwig Erhard, Adenauer criou os fundamentos da nova Alemanha e foi fundamental no processo de integração europeia.
"Depois de uma guerra terrível, Adenauer renovou seu país, ele trabalhou incansavelmente na organização da Europa e esteve na vanguarda da reconciliação entre a França e a Alemanha", resumiu no dia de sua morte o lendário presidente francês Charles de Gaulle.
Em um discurso por ocasião dos 50 anos da morte de Adenauer, nesta quarta-feira (19/04), o presidente da Fundação Konrad Adenauer, Bernhard Vogel, afirmou que o primeiro chanceler da Alemanha do pós-guerra conseguiu definir a integração ao Ocidente, a reconciliação com os vizinhos e a economia social de mercado como diretrizes da política alemã. Além disso, ele observou que o partido fundado por Adenauer, a União Democrata Cristã (CDU), presidido hoje por Angela Merkel, tem sido decisivo na história da atual Alemanha.
Milagre econômico
No lado positivo, sua gestão é identificada com a reconstrução do país e com o chamado "milagre econômico", embora este último seja mais associado ao nome de Erhard que de Adenauer. A parte negativa do seu mandato, lembrada pelos críticos tem a ver com sua atitude benevolente em relação ao passado nazista do país.
Ele nomeou como chefe de gabinete da chancelaria Hans Globke, um ex-nazista e autor de uma das principais interpretações das chamadas Leis de Nuremberg, que criaram a base jurídica para a discriminação dos judeus e representaram uma prévia do que ocorreria no Holocausto.
"Diante de críticas, deve ser dito que nos turbulentos anos do pós-guerra a prioridade estava na integração e na reconciliação, e não nas acusações e na punição", afirmou Vogel em seu discurso. No entanto, mesmo assim o tratamento dado ao passado nazista permanece para muitos historiadores como o lado obscuro daquela era.
Prisão durante nazismo
Adenauer, no entanto, não foi um nazista e esteve mesmo muito perto dos opositores do regime de Hitler, o que o levou a passar um curto período de tempo na prisão após a tentativa de revolta de 20 de julho de 1944.
Outro fato que influenciou a atitude de Adenauer foi o início da Guerra Fria, em que a República Federal da Alemanha claramente se alinhara a países ocidentais e contra o bloco soviético. Foi aberto, assim, o caminho para o rearmamento do país, a criação do Exército Federal Alemão (Bundeswehr) e a entrada na Otan.
Em 1952, como Vogel lembrou em seu discurso, Stalin se declarou pronto para aceitar uma Alemanha unificada, sob a condição de que fosse neutra, mas Adenauer preferiu permanecer na aliança ocidental, embora isso implicasse no prolongamento da divisão do país, que não terminaria até 1990.
Carreira política
Formado em Direito e Sociologia, a partir de 1917 Adenauer foi prefeito de Colônia, cargo que ocupou durante 16 anos. Com a ascensão dos nacional-socialistas ao poder, em 1933, sob a liderança de Adolf Hitler, passou a ser perseguido e acabou destituído do cargo.
Várias iniciativas do democrata-cristão haviam angariado o desagrado dos nazistas, como a ordem de retirar bandeirolas com a suástica de uma ponte em Colônia, ou a recusa de apertar a mão do Führer, durante uma visita oficial.
Terminada a Segunda Guerra Mundial, em 1945, Adenauer voltou à vida política e à frente da prefeitura de Colônia, com o apoio dos Aliados. Meses depois, porém, foi deposto pela força de ocupação britânica, que o acusou de incompetência.
Em 1948 elegeu-se presidente do Conselho Parlamentar, em Bonn. No ano seguinte, foi eleito deputado federal, ingressando no Bundestag, a câmara baixa do Parlamento, onde se manteria até sua morte, em 1967.
Adenauer foi escolhido primeiro chefe de governo da República Federal da Alemanha em 15 de setembro de 1949, aos 73 anos de idade, como candidato do partido que ajudara a fundar. Adenauer pouco se importou com o fato de ter sido eleito com apenas um voto de vantagem, provavelmente o seu próprio voto. Reelegeu-se em 1953, 1957 e 1961.
Deixou a Chancelaria Federal em 1963, enfraquecido politicamente, tanto por não ter reagido à construção do Muro de Berlim em 1961, quanto devido o escândalo desencadeado por um artigo crítico da revista Der Spiegel, em 1962. Konrad Adenauer morreu em 19 de abril de 1967, aos 91 anos.