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Alemanha atrai cada vez mais estudantes americanos

Hang-Shuen Lee / Gabriel Borrud (mp) 30 de julho de 2015

Com baixos custos e ensino de qualidade, país é o terceiro que mais recebe alunos estrangeiros, segundo relatório. Curiosamente, boa parte desses jovens vem justamente do número um no ranking, os Estados Unidos.

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Foto: picture-alliance/dpa/Oliver Berg

O americano Edgar Martinez já sabia que queria estudar na Alemanha quando estava no Ensino Médio. O idioma fascina o estudante de 20 anos de tal maneira que ele deixou Chicago para estudar Administração de Empresas numa cidade bem menor – Marburg, na região central da Alemanha.

"A língua me estimula intelectualmente e quero que ela faça parte da minha vida", diz Martinez. "Estudar aqui foi a solução perfeita."

Allan Liversidge, por sua vez, não ficou muito feliz com a própria decisão. Após se formar em História, ele deixou Wisconsin, nos Estados Unidos, para fazer mestrado em Bonn. Apesar de cheio de expectativas no inícioele ficou decepcionado com o pouco apoio que recebia dos professores fora das aulas e seminários. "Eu me senti abandonado e tive que sair", diz. Em 2014, o estudante de 23 anos desligou-se da Universidade de Bonn.

Assim como Martinez e Liversidge, cada vez mais americanos decidem estudar na Alemanha. O número de alunos vindos dos EUA foi recorde no ano letivo 2013/2014, passando de 2.817 em 2003/2004 para 4.359 – um crescimento de 54,7%.

O fato de estudantes americanos procurarem mais as universidades alemãs – apesar de as instituições de ensino superior do próprio país serem muito bem colocadas nos rankings globais sobre o setor – é um sinal de que o ensino superior alemão está ganhando popularidade.

Conforme a publicação Wissenschaft Weltoffen 2015 – lançada neste mês pelo Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD) e o Centro Alemão para Pesquisa sobre Ensino Superior e Ciências Sociais (DZHW, na sigla em alemão) –, a Alemanha se tornou o terceiro país que mais recebe estudantes estrangeiros, atrás apenas dos Estados Unidos e do Reino Unido.

Por que estudantes americanos escolhem a Alemanha quando podem aproveitar a alta qualidade do ensino no próprio país, sem passar pela dificuldade de aprender um novo idioma e se adaptar às diferenças culturais?

Qualidade "made in Germany"

Martinez diz que a qualidade da educação foi o fator fundamental para a decisão de estudar na Alemanha. "Fiz apenas dois semestres e já tenho uma boa ideia do que quero fazer com o meu diploma. Tenho a sensação que estudar aqui é mais objetivo", diz.

"A qualidade do ensino […] foi ressaltada como importante por 96% dos entrevistados" numa pesquisa do DAAD, diz Margret Wintermantel, presidente do serviço. "O cenário do ensino superior alemão é constituído essencialmente por universidades públicas bem colocadas em rankings internacionais", frisa.

Além disso, o fato de mais e mais cursos estarem sendo oferecidos em inglês e de o ensino superior, com seus mestrados e bacharelados, ser universalmente compatível, facilitou a vinda de estudantes internacionais ao país.

Diploma de graça

Além disso, um fator-chave é o mito do diploma gratuito na Alemanha, que tem um apelo enorme entre os estudantes americanos. Comparado ao dos Estados Unidos, o custo de uma graduação na Alemanha é extremamente baixo.

As universidades públicas alemãs são gratuitas. Há apenas algumas taxas, como a do passe semestral de transporte público. Conforme a britânica Quacquarelly Symonds (QS), que publica o QS World University Rankings anualmente, o valor cobrado por ano nas universidades americanas mais bem posicionadas variou entre 41 mil e 45 mil dólares (138 mil e 152 mil reais) no ano acadêmico de 2014/2015. Ou seja, os custos de um ano de estudos nos Estados Unidos excedem a quantia média que os estudantes na Alemanha precisam pagar por todo o curso.

Para Martinez, o custo não foi o fator que mais o influenciou na decisão de estudar na Alemanha, mas lhe agrada o fato de a faculdade não custar nada para o estudante na Alemanha. "Esta ideia de educação gratuita vai ao encontro da forma como vejo o mundo. Isso me motiva a dar ainda mais duro", revela.

Professor Dr. Margret Wintermantel
"O cenário do ensino superior alemão é constituído essencialmente por universidades públicas bem colocadas em rankings internacionais", diz Margret Wintermantel, presidente do DAADFoto: picture-alliance/dpa

"Educação não é via de mão única"

Mas todas as vantagens de estudar na Alemanha não foram suficientes para fazer com que Liversidge terminasse seus estudos. "Eu não conseguia lidar com a carência de comunicação com meus professores. Era quase impossível marcar uma reunião com eles. Educação não é uma via de mão única. Não é assim que realmente se aprende”, lamenta.

Martinez também acredita que os estudantes estão por sua conta nas universidades alemãs. Mesmo assim, ele conseguiu uma forma de se adaptar ao modelo alemão de educação, mas admite que o começo foi difícil.

"Ninguém vai te levar pela mão. Não há aconselhamento ou mesmo orientação de verdade. Mas isso não significa que a qualidade da educação seja inferior", afirma.

Todos são bem-vindos

Não apenas a presença de americanos nas universidades alemães cresceu, mas a de estudantes internacionais em geral. No ano letivo 2002/2003 havia 215,8 mil alunos estrangeiros na Alemanha. Em 2013/2014, o número subiu para 289,8 mil - um aumento de 34,3%.

Por um lado, isso faz da Alemanha um país ainda mais multicultural; por outro, são os contribuintes do país que pagam por esses estudantes. Mesmo assim, a alemã Marlene Vossen, de 19 anos, acha bom o aumento do número de estudantes estrangeiros. "O fato de eles não terem que pagar não tem problema. Trata-se de oportunidades iguais”, opinou.

"Os estudantes são o nosso futuro. Deveríamos pagar por eles, mesmo para os que não são alemães", disse à DW um idoso que não quis se identificar. O jovem Sascha Bock, por sua vez, aprova a presença de alunos internacionais, mas afirma que os estudantes que estudam no país deveriam aprender alemão para melhorar as chances de entrarem no mercado de trabalho.

A presidente do DAAD afirma que o passado ensinou a Alemanha a valorizar a construção de relações e de confiança com outros países. Ela enfatiza que laços fortes, sobretudo em pesquisa e educação, têm valor inestimável. "Aqueles que se concentram tão somente em vantagens imediatas não têm uma perspectiva de longo prazo."

Além disso, a Alemanha se beneficia com jovens profissionais. Quase metade dos estudantes estrangeiros decide ficar no país depois da graduação, diz Wintermantel. Mais de 70% deles procuram emprego em tempo integral, o resto se torna freelancer ou busca qualificação profissional em nível mais elevado.

Em cinco anos, todas as despesas públicas para educar os estudantes estrangeiros podem estar completamente pagas, segundo o DAAD. Isso porque os estudantes geram uma receita fiscal de 1,36 bilhão de euros por ano (5 bilhões de reais).

Para Wintermantel, alunos estrangeiros também contribuem com diferentes pontos de vista, o que é crucial para a abordagem de problemas globais. "Para entender como devemos enfrentar as mudanças climáticas, a pobreza, epidemias e a falta de energia precisamos fomentar a colaboração internacional", diz. "Universidades, pesquisadores e estudantes devem participar ativamente do enfrentamento desses desafios, de maneira responsável e comprometida", conclui.