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Busca de matéria-prima

2 de novembro de 2010

Um dos países que mais consome matéria-prima no mundo, a Alemanha depende completamente de seus fornecedores para a manutenção da indústria de tecnologia de ponta. Demanda global cresce e preços sobem, assustando Berlim.

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Indústria fotovoltaica depende de terras-rarasFoto: dpa

Estatisticamente, cada cidadão que vive na Alemanha consome, no decorrer de sua vida, aproximadamente mil toneladas de matéria-prima. Enquanto o país dispõe de quantidades suficientes de carvão, bases e sais, bem como de saibro e areia, a indústria do país depende completamente das importações de diversos metais como o cobre, o cobalto, a platina e das chamadas terras-raras, minérios essenciais à indústria de tecnologia de ponta.

Diante de uma procura crescente por essas matérias-primas em todo o mundo, obtê-las torna-se cada vez mais um problema. Hoje, a oferta já não dá mais conta de suprir a demanda.

Edwin Eichler é membro da diretoria do grupo ThyssenKrupp, o maior fabricante de aço da Alemanha. Os negócios no setor vão muito bem, a crise parece ter sido superada. Entre abril e junho deste ano, a ThyssenKrupp conseguiu aumentar seu faturamento em 25%.

Eichler, no entanto, não se diz satisfeito, sobretudo devido à ascensão vertiginosa dos preços do minério de ferro. "Há 50 anos, o preço do minério era estabelecido por um ano, em um procedimento específico. De repente, esse preço passou a ser fixado a cada três meses, sendo que o último reajuste foi de 100%", diz o executivo.

Oligopólios governam o mundo

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Produção de aço na ThyssenKrupp: aumentos astronômicos nos preços do minério de ferroFoto: dpa

A maior parte da extração de minério de ferro no mundo está concentrada em quatro países e nas mãos de três mineradoras. Um oligopólio exemplar para vários outros recursos naturais. Isso é um problema para vários setores dependentes de matéria-prima, bem como para os fabricantes de tecnologias de ponta.

Não há geradores eólicos sem metal, nem carros elétricos sem lítio ou cobre, tampouco sistemas de energia solar sem silício ou terras-raras. Terras-raras englobam um total de 17 minerais com propriedades eletromagnéticas. Nada menos que 97% do fornecimento mundial dos mesmos provêm da China. Nos últimos meses, os chineses reduziram gradualmente o comércio mundial livre com terras-raras.

Ulrich Grillo, presidente da comissão de matéria-prima da Confederação da Indústria Alemã (BDI), diz-se alarmado com a situação. "Só em julho é que a China anunciou que reduziria sua produção para o segundo semestre em 64%. De acordo com o jornal China Daily, o país pretende reduzir as exportações de terras-raras em 30% no ano de 2011. Isso já surte efeitos imediatos. A indústria fotovoltaica na Alemanha, por exemplo, já está precisando enfrentar a falta do minério lantânio. Isso faz com que as células fotoelétricas, pelo menos na Alemanha, não possam ser produzidas como requer a demanda.

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Indústria de alta tecnologia depende de terras-rarasFoto: AP

Matéria-prima como instrumento de poder

Máterias-primas, reclama Ulrich Grillo, vêm sendo usadas em escala cada vez maior como instrumento de poder geoestratégico. "Há um número cada vez maior de países buscando matéria-prima de forma intensa, a fim de impulsionar seu próprio desenvolvimento. Eles querem participar da produção industrial, do crescimento e do bem-estar. É um direito que lhes compete. Para mim, contudo, é alarmante que nos encontremos em um sistema de concorrência assimétrico", diz Grillo.

Com entraves como cotas de exportação, taxas alfandegárias de exportação e redução de importações, os países emergentes de maior destaque subvencionam suas indústrias e distorcem a concorrência internacional. Os países industrializados, pobres em matéria-prima, pouco têm como se opor.

Esses, diga-se de passagem, não são completamente inocentes na história, como se pode observar em relação às terras-raras. Já em 1990, mais de dois terços da extração mundial se dava nos EUA. No entanto, tais minérios são tóxicos e a sua extração é trabalhosa. Como a China passou a oferecer esses minérios por preços mais baixos no mercado mundial, a extração nos EUA foi completamente suspensa. Isso deverá mudar a partir de agora. Mineradoras anunciaram a extração de terras-raras em diversas regiões do planeta e minas que haviam sido desativadas entrarão novamente em atividade.

Rainer Brüderle Veranstaltung zum Internationalen Tag der Elektromobilität
Rainer Brüderle, ministro alemão da EconomiaFoto: picture-alliance/dpa

Reivindicação de apoio político

O ministro alemão da Economia, Rainer Brüderle, saudaria uma participação da indústria alemã em tais iniciativas. "Os preços crescentes de matéria-prima abrem novos modelos de negócios. Aqui será definido o futuro e para isso precisamos de empresários corajosos, que podem iniciar seus próprios projetos de extração. A participação em outros grupos de extração de matéria-prima é também uma possibilidade", diz o ministro.

Só isso, contudo, não será suficiente. A Alemanha importa por ano o equivalente a 80 bilhões de euros em matéria-prima. Ou seja, é absolutamente impossível assegurar esse fornecimento apenas através da participação na mineração nacional, salienta Hans-Peter Keitel, presidente do BDI. Keitel reivindica, mais do que isso, um apoio político na garantia de fornecimento de matéria-prima.

"Em termos de política externa, pode-se perguntar também quais são os interesses políticos de uma região como a Ásia Central, por exemplo. Pode ser que haja ali desejos políticos em relação aos quais poderíamos ser úteis. Caso recebamos, em troca, matérias-primas", afirma o representante do empresariado alemão.

Cooperação econômica

A estratégia de matérias-primas do governo alemão, aprovada em fins de outubro, prevê de fato mais parcerias com países em desenvolvimento e emergentes ricos em matérias-primas. Os ministérios da Economia, das Relações Exteriores e da Cooperação Econômica deverão trabalhar de forma estratégica neste sentido.

Os países ricos em matéria-prima, explica Dirk Niebel, ministro alemão da Cooperação Econômica, deverão receber da Alemanha apoio no uso sustentável de seus potenciais de matérias-primas e na integração no comércio internacional das mesmas. "Defendo uma cooperação econômica orientada por valores, mas ela pode também se orientar pelos interesses", confessa o ministro.

Tag der Deutschen Industrie - Keitel
Hans-Peter Keitel, da Confederação da Indústria Alemã (BDI)Foto: dpa

Transferência tecnológica?

No entanto, por mais que se esforce, a Alemanha continuará no futuro dependente do fornecimento de matéria-prima por parte da China. Trata-se de matérias-primas, como formula Keitel, tão importantes para a indústria como o ar que respiramos.

Por isso, o presidente do BDI reivindica uma nova estratégia na conduta em relação aos chineses. "Deveríamos nos perguntar se a China não tem razão quando diz que não queremos vender nossas matérias-primas, em primeira linha, em troca de dinheiro". Segundo Keitel, a China está interessada na tecnologia e a tecnologia é a real moeda dos alemães, conclui.

"Sob quais condições estamos dispostos então a exportar tecnologia em troca de matéria-prima?", pergunta ele. De qualquer forma, seria necessário obviamente regulamentar de forma satisfatória questões relacionadas às patentes e à proteção da propriedade intelectual. Isso, contudo, pode demorar muito e é exatamente aí que reside o problema da indústria alemã. "Não temos mais tempo de continuar discutindo eternamente. Precisamos de soluções imediatas", conclui Edwin Eichler, da diretoria da ThyssenKrupp.

Autora: Sabine Kinkartz (sv)
Revisão: Carlos Albuquerque