Alemanha comemora 400 anos de imprensa escrita
9 de julho de 2005Há 400 anos foi lançado em Estrasburgo, em alemão, o primeiro jornal de que se tem notícia. Historiadores situam o evento em julho de 1605, porém a data precisa é desconhecida, já que a primeira edição desapareceu. De lá para cá, o papel impresso, como fonte de informação, venceu as mais diversas crises políticas e econômicas, assim como o avanço tecnológico.
O Museu Gutenberg, de Mainz, comemora esse momento central da história da mídia com uma grande exposição, Preto no branco, 400 anos de jornal – um meio de comunicação faz história, aberta a partir deste sábado (09/07).
Piratas e Galileu Galilei
Ao pedir ao conselho municipal de Estrasburgo, em 1605, permissão para publicar sua "relação de todas as histórias nobres e memoráveis", o editor e impressor Johann Carolus jamais poderia imaginar que estava criando um novo meio de comunicação. Na verdade, Carolus estava simplesmente cansado de escrever suas notícias à mão, em papel fabricado com velhos trapos.
Na época, as novidades mais atuais eram sempre trazidas pelos viajantes. Por onde esses "repórteres" passavam, nasciam jornais. Gabriele Toepser-Ziegert, do Instituto de Pesquisa de Periódicos de Dortmund, explica o processo: "Os jornais se desenvolveram ao longo das rotas de comércio. Os comerciantes que as utilizavam reuniam notícias, as anotavam à mão, copiavam e então distribuíam. Mas o advento da imprensa permitiu também imprimir jornais. Foi isso que ocorreu em 1605".
O tema principal desses primeiros periódicos eram acontecimentos do exterior: ataques de piratas no Mar Mediterrâneo, novidades sobre o papa, ou até informações sobre um telescópio inventado por Galileu Galilei. Essa escolha devia-se não só aos interesses específicos da clientela, formada por comerciantes, mas também pelo fato que noticiar sobre assuntos locais era proibido por censura.
Ascensão irrefreável na Alemanha
Nem mesmo a censura pôde impedir a campanha vitoriosa do novo meio de comunicação. Em 1650 aparecia em Leipzig o primeiro jornal diário da Alemanha. E o mais antigo periódico alemão vendido até hoje data de 1705, o Hildesheimer Allgemeine Zeitung.
Porém só com as inovações técnicas no campo da impressão, no século 19, o jornal tornou-se um verdadeiro meio de comunicação de massa. O papel, até então manufaturado, passou a ser fabricado em escala industrial: os enormes rolos, de impressão muito mais veloz, representaram um progresso revolucionário para o novo veículo.
Assim, o jornal tornou-se acessível para todos, e também interessante do ponto de vista econômico. Na segunda metade do século, ao lado da imprensa política partidária, os jornais independentes – general-anzeiger – difundiram-se cada vez mais, graças ao interesse de anunciantes e leitores. No princípio do século 20, o número dos periódicos já alcançava três mil, em todo o país.
Crise apesar da fidedignidade
Após a queda do regime nazista, que eliminara a imprensa independente, coube de início às forças de ocupação estipular quais jornais podiam ser publicados. Sobretudos os norte-americanos se empenharam em impor um novo estilo jornalístico. Assim passou-se, por exemplo, a distinguir estritamente "notícia" de "opinião".
Para Gabriele Toepser-Ziegert, essa procura de objetividade é uma das razões por que o jornal continua sendo considerado pelos alemães como um veículo digno de crédito: "É como no provérbio 'está tudo preto no branco': ter um fato impresso já é prova suficiente de veracidade".
Apesar dessa reputação positiva, os jornais atravessam uma fase difícil, no momento. O número de anúncios cai, assim como o de assinantes, e a concorrência é cada vez maior: primeiro veio o rádio, depois a televisão, e por último a internet. Estas duas últimas, em especial, são as fontes preferenciais de informação para os mais jovens.
Assim, muitos jornais e revistas tentam penetrar também nesses meios, como publicação online ou magazine de TV. E agora, até mesmo o Hildesheimer Zeitung, com seus veneráveis 300 anos de existência, pode ser acessado com um simples clique.