Alemanha cria plano para integração de estrangeiros
10 de março de 2021Em muitos lugares, conseguir um emprego pode ser considerado o suficiente para que um estrangeiro esteja integrado com sucesso na sociedade. Mas, na Alemanha, esse tipo de pensamento simplista está prestes a desaparecer.
Após quase três anos de planejamento e discussões, a chanceler federal, Angela Merkel, e líderes estaduais e cívicos anunciaram nesta terça-feira (09/03) 100 medidas para um Plano de Ação Nacional para a Integração.
Um dos projetos, por exemplo, é introduzir um sistema em que estagiários alemães sejam mentores de estagiários estrangeiros, para que ninguém se sinta excluído.
"A verdadeira coesão social exige mais do que apenas a ausência de ódio e violência", disse Merkel. "Requer tolerância e abertura um para o outro", completou.
A cúpula de integração foi a última de Merkel antes do fim do seu mandato, já que novas eleições ocorrem no outono europeu e ela já deixou claro que não pretende seguir no cargo, que ocupa desde 2005.
Observando como o conceito de integração mudou ao longo de seus 15 anos de governo, Merkel disse que a Alemanha aprendeu que "a integração não afeta apenas alguns grupos, mas a sociedade como um todo".
A cúpula, liderada pela comissária de Integração, Annette Widmann-Mauz, reuniu cerca de 120 pessoas, representando estados, municípios e organizações civis.
Em uma conferência de imprensa após a cúpula, Widmann-Mauz enfatizou a importância, especialmente durante a pandemia, de traçar uma estratégia de integração eficaz o mais rapidamente possível para garantir o papel da Alemanha como "um país economicamente forte e moderno para a imigração do futuro".
"Conseguimos muito nos últimos anos e, agora, devemos fazer tudo ao nosso alcance para que a pandemia do coronavírus não seja um obstáculo para essas conquistas", disse ela.
O que é o Plano de Ação Nacional para a Integração?
Lançado em 2018, o Plano de Ação Nacional tem como objetivo a construção de um roteiro de integração para a década de 2020.
O projeto conta com a participação de cerca de 300 parceiros, que representam estados, cidades e aproximadamente 75 organizações de migrantes.
Em sua essência, os 100 pontos se dividem em cinco categorias, que vão desde medidas de pré-integração, como definir expectativas antes de uma pessoa imigrar para a Alemanha, até reforçar a coesão social por meio da educação e de atividades sociais.
A discriminação foi um dos principais focos das conversas de terça-feira. Merkel e outros palestrantes enfatizaram que os ataques terroristas com motivação racial, como o ocorrido no ano passado em Hanau, quando nove pessoas de origem estrangeira foram assassinadas, são grandes retrocessos para a criação de um ambiente seguro e inclusivo na Alemanha.
Junto com a prevenção da violência, o plano de ação também exige uma expansão dos esforços de combate à discriminação, como centros de aconselhamento que podem ajudar pessoas que, por exemplo, passaram por incitação ao ódio ou se viram impedidas de trabalhar por causa de sua etnia ou religião.
"As vítimas de discriminação não podem ser abandonadas. Suas experiências devem ser levadas a sério. Para garantir isso, elas precisam do apoio de um aconselhamento profissional antidiscriminação", disse o chefe da Agência Federal Antidiscriminação da Alemanha, Bernhard Franke, em um comunicado à imprensa.
Por que a integração é um tema tão latente na Alemanha?
A integração tem sido o foco de muitos debates acalorados na Alemanha nos últimos anos, desencadeados em grande parte pelo fluxo migratório histórico de refugiados entre 2015 e 2019. Durante esse período, a Alemanha recebeu mais de 1,8 milhão de pedidos de asilo – o equivalente a cerca de 75% de todos pedidos apresentados na última década.
As discussões sobre como lidar com a logística de uma grande população de refugiados, oriunda principalmente de Síria, Afeganistão e partes da África, rapidamente se concentraram em preocupações com a integração.
Essas preocupações reacenderam discussões sobre a integração de outros grupos de imigrantes há muito estabelecidos na Alemanha, particularmente os turcos e seus descendentes, que constituem a maior minoria do país. Apesar de uma melhoria nas taxas de educação, esse grupo tinha, em 2017, ainda três vezes mais probabilidade de ter problemas para encontrar um emprego ou depender do bem-estar do Estado do que os alemães sem raízes turcas, de acordo com um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Tendência de imigração vai além da crise de refugiados
Aproximadamente uma em cada quatro pessoas que vivem atualmente na Alemanha tem raízes estrangeiras. Além disso, a Alemanha ocupa o segundo lugar entre os países da OCDE com mais imigração, atrás apenas dos Estados Unidos. Esses tópicos reforçam que a integração vai muito além dos refugiados.
Graças a uma economia forte, a Alemanha também viu crescer o número de trabalhadores estrangeiros qualificados. Na maior parte, eles vêm de estados membros da União Europeia. Em 2018, essa parcela representava 60% de todos os imigrantes que vieram para a Alemanha. O sistema de ensino superior alemão também tem sido um ímã para estudantes estrangeiros, com mais de 400 mil matriculados em universidades alemãs antes da pandemia.