Alemanha critica anulação das eleições em Istambul
7 de maio de 2019O ministro de Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, criticou nesta terça-feira (07/05) a decisão que anulou os resultados da eleição para prefeito de Istambul.
Na segunda-feira, a instância máxima da Justiça Eleitoral da Turquia ordenou a anulação do pleito, que havia marcado uma contundente derrota para o presidente Recep Tayyip Erdogan e encerrado um ciclo de mais de 20 anos de hegemonia do grupo político do mandatário na administração da cidade.
A eleição municipal ocorreu em 31 de março. Na ocasião, o opositor Partido Republicano do Povo (CHP) conseguiu desbancar o candidato de Erdogan por uma diferença de 0,16% – menos de 14 mil votos.
A Justiça Eleitoral determinou ainda a realização de um novo pleito na cidade, a maior da Turquia. A decisão provocou protestos da oposição, que acusou Erdogan de ter influenciado os membros do tribunal. O CHP disse ainda que a decisão "escancara a ditadura" no país.
Já o ministro alemão Maas chamou a decisão do órgão eleitoral de "não transparente e incompreensível".
"A escolha da pessoa que deve ocupar o cargo de prefeito de Istambul deve ser decidida exclusivamente pela vontade dos eleitores turcos", disse o ministro em um comunicado. "Manter os princípios democráticos com condições eleitorais transparentes é a nossa principal prioridade", completou.
A decisão também provocou críticas do deputado federal alemão Cem Özdemir, ex-líder dos Verdes e primeiro membro do Bundestag (Parlamento alemão) de origem turca. Segundo Özdemir, a anulação do pleito "não tem nada a ver com a democracia" e prova que Erdogan é um "velho amargo que há muito passou do apogeu de seu poder". "No mundo de Recep Tayyip Erdogan, todo mundo que pensa diferente é um terrorista, e toda eleição que ele perde é uma eleição fraudulenta", disse.
A anulação também provocou críticas do belga Guy Verhofstadt, membro do Parlamento Europeu e líder grupo Alianças dos Liberas e Democratas pela Europa. No Twitter, ele disse que "essa decisão escandalosa escancara como a Turquia de Erdogan está caminhando para uma ditadura". "Com tal liderança, negociações para a entrada (da Turquia na União Europeia) são impossíveis", escreveu.
Erdogan celebra
Apesar das críticas, o presidente Erdogan disse nesta terça-feira que a decisão de realizar uma nova eleição municipal em Istambul é "um passo importante para fortalecer a democracia". Segundo ele, a votação de março foi maculada pela "corrupção organizada" e pela ilegalidade.
A decisão atendeu a um pedido da legenda de Erdogan, o Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), que havia apontado supostas irregularidades no pleito vencido pelo oposicionista Ekrem Imamoglu, do CHP.
Essa não foi a única derrota de Erdogan, que formou sua base política em Istambul após governar a cidade nos anos 1990. Nas eleições municipais do país, em março, Seu partido também perdeu em Ancara, a capital do país, e falhou em desbancar a oposição do controle de Izmir, a terceira maior cidade da Turquia.
Após o anúncio da anulação, a lira turca despencou diante do dólar após a decisão eleitoral, elevando suas perdas a 14% neste ano. Investidores temem a incerteza política e líderes empresariais criticaram a medida.
A nova eleição está prevista para ocorrer em 23 de junho. O oposicionista Imamoglu já tomou posse como prefeito de Istambul, em uma cerimônia no dia 17 de abril.
Durante as eleições municipais, Erdogan qualificou seus adversários de inimigos do Estado, acusando-os de manter relações com milícias curdas ou com o banido Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que o governo considera terrorista.
O presidente ainda exibiu durante comícios o vídeo registrado pelo autor do recente massacre de muçulmanos na Nova Zelândia, como parte de uma tentativa para agitar o eleitorado religioso do seu país. O uso do vídeo provocou protestos do governo neozelandês.
Organizações de defesa dos direitos humanos e até países aliados da Turquia no Ocidente vêm alertando para as ameaças à democracia sob a liderança de Erdogan, em particular após o fracassado golpe de Estado em 2016, ao qual o governo reagiu com medidas repressivas e com a prisão de dezenas de milhares de pessoas.
JPS/dpa/efe/ots
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