'Nem boa nem má'
6 de maio de 2008A Alemanha pretende auxiliar o Brasil a proteger suas matas, assim como a utilizar de forma sustentável seus recursos naturais. Para tal, haverá também "ofertas financeiras" de Berlim, declarou o ministro do Meio Ambiente, Sigmar Gabriel, nesta terça-feira (06/05), sem revelar porém a dimensão de tais ofertas.
Por outro lado, ele se manifestou contra uma suspensão da importação de biomassa, pois tal anularia os esforços de cooperação com o Brasil e outras nações emergentes. "A bioenergia, em si, não é boa nem má. Ela precisa ser julgada segundo padrões concretos de sustentabilidade ecológica e social." Gabriel acaba de retornar de uma visita ao Brasil.
"Brasil faz muito pelas florestas"
Além disso, seria preciso observar as condições precisas no local de produção, prosseguiu o ministro. Assim, no Brasil o cultivo de cana-de-açúcar para produção de biomassa ocorreria quase exclusivamente em áreas até então abandonadas ou dedicadas à cafeicultura. O país disporia igualmente de áreas para a produção de óleo de dendê.
Contudo, a fim de evitar futuros problemas para as florestas brasileiras, seria necessário apoiar os planos do país de manter áreas fixas para cultivo e para reservas naturais. "O Brasil está fazendo muito para preservar as florestas úmidas", afirmou o ministro. Parte desses esforços seria a criação de 50 milhões de hectares de novas áreas protegidas.
Apesar de ressalvas consideráveis, o governo brasileiro aprovou também um conjunto de diretrizes sobre critérios comprováveis de sustentabilidade para biomassa, acrescentou o ministro. A chanceler federal alemã, Angela Merkel, assinará um acordo neste sentido na próxima semana, por ocasião de viagem à América Latina.
Críticas a Gabriel
Em respeito à biopirataria, Gabriel insistiu ser necessário impedir que multinacionais utilizem informações genéticas e saber tradicional dos países emergentes no desenvolvimento de produtos comerciais, sem lhes prover uma participação adequada nos lucros resultantes.
Organizações ambientalistas criticam o apoio do ministro alemão do Meio Ambiente ao biocombustível. "Permanece o fato de que a quota de etanol [a ser acrescentada à gasolina na Alemanha] acarretará o desmatamento de milhões de hectares de matas no sudeste da Ásia e na América do Sul", explicou Alexander Hissting, do Greenpeace.
O especialista em agricultura ressalvou que, no momento, países como o Brasil não teriam condições nem de impor leis para a preservação das florestas nem de garantir sua observação. Para tal, careceriam tanto de meios pessoais quanto financeiros. Organizações humanitárias também acreditam que a produção de biocombustível destruirá lavouras e fomentará a pobreza nas regiões emergentes.
Biocombustível na berlinda
A porta-voz do partido A Esquerda para assuntos ambientais, Eva Bulling-Schröter, lembrou o posicionamento da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Segundo esta, com certeza a fabricação de etanol no país se daria necessariamente em detrimento das áreas florestais e da produção de alimentos.
O ministro alemão da Agricultura, Horst Seehofer, rebateu que a bioenergia não pode ser responsabilizada pelo aumento dos preços dos gêneros alimentícios nem pela fome no mundo. Para ele, as causas principais seriam antes o crescimento da população mundial e a grande demanda.
"O biocombustível ajuda a proteger o clima, traz independência em relação ao petróleo e gás natural e cria fontes de renda para agricultores de todo o mundo, também para os lavradores pobres dos países em desenvolvimento", assegurou Seehofer. Segundo ele, a influência da bioenergia sobre os preços dos alimentos é superestimada: em 2007, somente 7% da produção de óleo vegetal e 3,5% da de cereais haveriam sido utilizadas como combustível.