Sem plano de retirada
7 de outubro de 2008O Bundestag, câmara baixa do Parlamento alemão, anunciou nesta terça-feira (07/10) sua aprovação à solicitação do governo de elevar de 3,5 mil para 4,5 mil soldados o contingente alemão no contingente da Isaf (forças da Otan no Afeganistão), bem como de prorrogar a missão do Bundeswehr, pela primeira vez, por outros 14 em vez de 12 meses.
A votação no Bundestag sobre a renovação do mandato, que terminaria em 13 de outubro próximo, está prevista para a próxima semana. No entanto, sua aprovação é tida como certa, uma vez que não só os partidos da coalizão de governo, formada por social-democratas e democratas-cristãos, sinalizaram seu apoio, como também grande parte da bancada liberal. A principal oposição vem do partido A Esquerda, que o rejeita completamente.
A medida tornou-se necessária após as Forças Armadas enviarem mais 200 soldados à região em 1º de julho último, ultrapassando assim o limite máximo de 3.500 soldados previsto pelo atual mandato. Sua prorrogação também no ano que vem já parece certa, por mais que a aprovação da população alemã ao mandato diminua constantemente.
Quando a Alemanha aprovou pela primeira vez o envio de soldados à região, em dezembro de 2001, o mandato previa um máximo de 1,2 mil soldados. Hoje, há cerca de 3,3 mil militares alemães em ação no Afeganistão, quase o triplo do contingente inicial. A atual decisão de aumentar ainda mais a participação alemã atende a um pedido do inspetor-geral da Isaf, informou o ministro alemão da Defesa, Franz Josef Jung (CDU).
Desde 2001, o mandato vinha sendo revisado anualmente e prorrogado por 12 meses. Ao propor a prorrogação inédita logo para 14 meses, o governo espera evitar que a próxima revisão caia justamente na época da campanha eleitoral das próximas eleições legislativas, marcadas para setembro de 2009.
Sem plano de retirada
O ministro alemão das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, recusou a exigência da União Social Cristã (CSU) de que fosse estabelecido desde já um plano de retirada das tropas do Afeganistão. Em entrevista ao jornal Leipziger Volkszeitung, Steinmeier afirmou que o trabalho de convencer a opinião pública alemã, o que considera essencial para a missão, não se tornaria mais fácil ao tentar ludibriar a população com datas marcadas.
Segundo ele, as Forças Armadas alemãs não estão no Afeganistão com um objetivo próprio, mas muito contribuem para que seja possível transferir aos próprios afegãos a tarefa de garantir a segurança no país. Steinmeier acrescentou ainda que muito já foi alcançado, mas que a situação é crítica em muitas regiões do país, de forma que não seria possível encerrar a participação alemã sem mais nem menos.
O líder da bancada social-democrata no Parlamento, Peter Struck, aprova a decisão do governo. "Foi uma decisão acertada e vou recomendar à bancada que também a aprove. Se o governo, atendendo a um pedido da Otan, solicitar o envio de mais aviões [de reconhecimento do tipo] Awacs, também recomendarei à bancada que aprove", disse Struck, que também rejeita a necessidade de se estabelecer um plano de retirada.
"Precisamos observar a situação muito minuciosamente. Espero que o presidente Karzai tome mais iniciativas a fim de estabilizar a polícia e o Exército. Nós aumentaremos significativamente nosso auxílio no treinamento de policiais. Precisamos nos concentrar mais em objetivos civis, mas ainda não é hora de falar em retirada."
Comando de elite retornará
Por outro lado, o governo anunciou na segunda-feira que os cem soldados de elite de seu Comando de Forças Especiais (KSK, do alemão ) não mais estarão à disposição da operação antiterrorismo Enduring Freedom (Operação Paz Duradoura), comandada pelos EUA. Nos últimos três anos, a unidade especial da Bundeswehr não foi mobilizada uma única vez e seu mandato teria que ser prolongado até novembro próximo.