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Alemanha e EUA divergem sobre governo do Talibã

9 de setembro de 2021

Alemanha descarta reconhecer governo interino, já os EUA dizem que legitimidade terá de ser merecida. Exclusão de mulheres e militantes nos cargos mais altos são consideradas quebras de promessas por parte dos talibãs.

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Secretário de Estado americano, Antony Blinken e ministro alemão do Exterior, Heiko Maas, posam para foto em sala de conferências, em frente a bandeiras de seus países.
Secretário de Estado americano, Antony Blinken (esq.) e ministro alemão do Exterior, Heiko MaasFoto: Thomas Koehler/photothek/imago images

Países do Ocidente observam com ceticismo a formação do novo governo do Afeganistão, após o Talibã indicar militantes veteranos para os principais cargos da administração pública, alguns dos quais constam na lista de procurados pelos Estados Unidos por acusações de terrorismo.

Nesta quarta-feira (08/09), o secretário de Estado americano, Antony Blinken, afirmou após uma reunião com ministros do Exterior de vinte países que a legitimidade do novo governo terá de ser merecida.

"Apesar de anunciarem que o novo governo seria inclusivo, a lista anunciada consiste exclusivamente de membros do Talibã, sem nenhuma mulher", observou.

Ministro afegão procurado por terrorismo

O governo interino iniciou seus trabalhos nesta quarta sem a presença de mulheres nas funções de maior destaque, o que foi considerado uma quebra da promessa feita pelos extremistas de estabelecer um governo com a participação de todos os setores da sociedade.

Blinken se reuniu nesta quarta-feira com o ministro alemão do Exterior, Heiko Maas, na base americana de Ramstein na Alemanha. O local é utilizado pelos EUA como ponto de acolhimento de pessoas retiradas do Afeganistão após a tomada de poder pelo Talibã.

Segundo o governo alemão, 34.103 pessoas chegaram à base de Ramstein, vindas do Afeganistão, até esta segunda-feira. Mais de 23 mil foram encaminhadas para os Estados Unidos ou outros países, e 90 pediram asilo à Alemanha. Outras 269 ainda devem chegar ao local.

Blinken disse que os EUA estão "preocupados com as afiliações e avalia os registros de alguns desses indivíduos". Entre os nomeados estão ex-detentos da prisão americana de Guantánamo, em Cuba, conhecida por receber suspeitos de terrorismo.

O novo ministro afegão do Interior, Sirajuddin Haqqani, é procurado por terrorismo pelos EUA, que impuseram uma recompensa de 10 milhões de dólares por sua captura. Seu tio, que assumiu o Ministério de Refugiados e Repatriações, é alvo de uma recompensa de 5 milhões de dólares.

Ao contrário de Blinken, Maas disse que a Alemanha descarta reconhecer o governo interino do Afeganistão, mas se pronunciou a favor da manutenção do diálogo com o Talibã, enquanto seu país ainda tenta retirar pessoas do território afegão. Ele pediu uma coordenação internacional sobre a forma de lidar com o regime talibã.

Os Estados Unidos e a Alemanha foram os países que mais enviaram soldados para a coalizão militar, que permaneceu no Afeganistão por duas décadas.

Protestos de mulheres desafiam extremistas

Enquanto militantes islamistas tentam se metamorfosear em administradores públicos, o Talibã já enfrenta uma série de protestos em diferentes pontos do país, muitos deles liderados por mulheres.

Em Cabul, um grupo de mulheres desafiou os talibãs, ao realizar um pequeno protesto contra a exclusão no novo governo, depois de uma manifestação de maior porte ter sido dispersada a tiros pelos extremistas no dia anterior. Segundo relatos, jornalistas que tentaram cobrir o protesto foram presos, e alguns deles, agredidos.

O novo Ministério do Interior tentou se justificar ao afirmar em nota que, para evitar distúrbios, os pedidos de autorização para a realização de atos públicos devem ser submetidos com 24 horas de antecedência.

rc (Reuters, AFP, DPA)