Alemanha e França discutem o futuro europeu
6 de junho de 2006Pela terceira vez, desde que assumiu o cargo de chanceler federal alemã, Angela Merkel encontrou-se para uma conversa informal com o presidente francês Jacques Chirac, nesta terça-feira (06/06). Do encontro também participaram os ministros das Relações Exteriores de ambos os países, o alemão Frank-Walter Steinmeier e o francês Philippe Douste-Blazy.
Os chefes de governo teuto-franceses encontram-se várias vezes anualmente para uma troca informal de idéias nos chamados "Encontros de Blaesheim", iniciados na cidade francesa de Blaesheim, na Alsácia, por Chirac e Schröder em 2001. As conversas se destinam a uma coordenação mais estreita entre Paris e Berlim em temas políticos de grande importância.
Como herança da política externa de aproximação entre França e Alemanha do antigo chanceler federal alemão, Merkel e Chirac já se encontraram em dezembro de 2005, em Berlim, em janeiro último, em Versalhes e agora em Rheinsberg, no Estado alemão de Brandemburgo. Para o novo encontro, fica em aberto a pergunta de que bases comuns possuem, hoje, Alemanha e França para uma estreita cooperação – declarações conjuntas à parte.
Declarações conjuntas
A questão iraniana, a fusão entre a Bolsa de Frankfurt e a plataforma de bolsas de valores européias Euronext, a política de ampliação da UE e a Constituição européia estavam entre os temas da pauta de discussão deste terceiro encontro informal bilateral.
Na conferência de imprensa após o encontro, Merkel e Chirac declararam estar "em sintonia" quanto à futura política de ampliação da União Européia. Os atuais compromissos assinados com a Romênia, Bulgária e Croácia devem ser cumpridos. Novos candidatos só devem ser aceitos, entretanto, quando a capacidade de absorção da União permitir. Uma posição, diga-se de passagem, não compartilhada pelo Reino Unido.
Chirac agradeceu a Merkel o envio de soldados alemães para garantir as eleições no Congo. "Isto será condição de garantia de um desenvolvimento calmo e transparente daquele país", afirmou Chirac. Merkel e Chirac também se demonstraram uníssonos quanto à oferta de negociações e quanto ao apelo à Teerã para que desista de suas pretensões nucleares. "Nós estamos falando sério, nós esperamos uma reação positiva", afirmou Merkel.
Quanto à disputa da Bolsa de Frankfurt com a Bolsa de Nova York pela parceria com a plataforma de bolsas européias Euronext, o presidente francês admitiu preferir uma solução franco-alemã. Chirac salientou, entretanto, que a "Euronext não é a França". Tanto Chirac quanto Merkel admitiram que esta é uma decisão exclusiva de mercado, onde os chefes de governo teriam pouca influência.
Calcanhar de Aquiles
Em editorial, o jornal francês Ouest-France afirma, nesta terça-feira (06/06), que as relações entre as autoridades francesas e alemãs não mudaram. Não há semana em que não haja encontro de ministros. O jornal comenta que entre os povos, entretanto, a rotineira amizade se esvai.
Com 9% de desemprego na França e 11% na Alemanha, e com seus sistemas sociais exauridos, fica difícil para os dois países caminharem com os mesmos passos. Não há consenso também quanto à questão energética. A França aposta na energia nuclear para escapar da dependência de fornecimento. Para a grande coalizão na Alemanha, por sua vez, a energia atômica é tabu, comenta o jornal.
Mas o calcanhar de Aquiles das relações teuto-francesas é a Constituição européia, ratificada por 15 países, incluindo a Alemanha, e rejeitada por dois países, um deles a França. Angela Merkel a quer intacta, segundo o jornal. Paris sugere melhorar o texto existente e acrescentar alguns novos dispositivos, já que os franceses não estariam dispostos a votar o mesmo texto.
Tempo de reflexão
Como esperado, não houve consenso na discussão sobre a Constituição européia em Rheinsberg. Durante a conferência de imprensa, Merkel e Chirac sugeriram uma fase de reflexão, até 2008, para um novo escrutínio constitucional.
Este tempo de reflexão se iniciaria com a presidência alemã do Conselho da União Européia, no primeiro semestre de 2007, indo até 2008, quando a França deverá assumir a presidência. Ambos os países terão, então, condições de trabalhar as sugestões de melhorias no texto constitucional, afirmou Chirac.
Às portas de uma eleição presidencial, não se esperava de qualquer maneira que, por parte da França, qualquer tipo de decisão importante fosse discutida no encontro de Rheinsberg, que serviu sobretudo como preparação para a reunião de cúpula da União Européia a ser realizada em meados de junho em Bruxelas.