"Alemanha está abaixo da média em políticas demográficas"
16 de março de 2017Nesta quinta-feira (16/03), a chanceler federal alemã, Angela Merkel, e quatro de seus ministros se reúnem numa cúpula em Berlim para discutir a política demográfica nacional. O envelhecimento da sociedade alemã tem sido tema há décadas, e até se cogitou que o afluxo em massa de refugiados poderia ser o remédio ideal para o problema.
A DW entrevistou James W. Vaupel, diretor-fundador do Instituto Max Planck de Pesquisa Demográfica, em Rostock. Sua avaliação das políticas populacionais alemãs é severa: o país está abaixo da média no incentivo à natalidade, devido a uma legislação trabalhista inflexível e anacrônica.
"A atitude de que mulheres com filhos não devem trabalhar equivale à de 50 anos atrás, e não é benéfica para a taxa de natalidade", critica Vaupel. Sua primeira medida para sanear a política populacional seria prorrogar a idade de aposentadoria: "Ainda há inflexibilidade demais no sistema alemão."
DW: Alguns anos atrás, a Alemanha temia um colapso demográfico. Tratava-se simplesmente do típico angst (medo) alemão?
James Vaupel: Sim, era principalmente angst alemão. Mas não só: na Itália, Polônia ou Rússia os cidadãos estão igualmente preocupados com o colapso demográfico. A população começou a cair em diversos países, e estimativas para um futuro distante permitem vislumbrar um cenário assustador, com uma população muito menor. Mas isso levaria muito tempo, talvez décadas. E até então as políticas podem mudar, as atitudes podem mudar.
Foi isso que aconteceu na Alemanha em tempos recentes? Tem-se visto uma espécie de pequeno baby boom ultimamente.
Se as pessoas tivessem o número de filhos que desejam, uma família média alemã teria duas crianças. Mas o número ainda é muito mais baixo. Por quê? Um problema é o sistema de creches. É difícil combinar emprego e família. Principalmente na Alemanha Ocidental, se espera que as mães fiquem em casa com as crianças pequenas, o que prejudica suas carreiras e sua renda.
O governo tem tentado melhorar a situação com mais vagas em creches e mais benefícios para os pais. Não houve impacto positivo algum?
Teve um impacto modesto, mas é pouco. Quando um jovem casal tem uma criança, fica submetido a uma enorme carga. E o governo poderia fazer várias coisas para reduzir essa carga. A Dinamarca e a Suécia, por exemplo, têm muito mais sucesso em ajudar os jovens a terem filhos do que a Alemanha. Na Dinamarca, a licença paternidade e maternidade é longa, há jornadas de trabalho flexíveis e também oportunidades de trabalhar meio período. E há muitas creches, a custo bem baixo.
Como avalia as políticas demográficas alemãs? Temos desempenho mediano em relação a outros países desenvolvidos?
Acho que a Alemanha está abaixo da média em termos da assistência fornecida aos jovens. Especialmente quanto à atitude de que mulheres com filhos pequenos não devem trabalhar. Esta é uma atitude como a de 50 anos atrás, que não é benéfica para a taxa de natalidade.
Vai caber aos refugiados da Síria e outros lugares preencher essa lacuna?
É claro que um imigrante de 20 anos pode substituir um bebê que deixou de nascer 20 anos atrás. Mas a dificuldade está na integração à sociedade. Esse é um problema em muitos países europeus.
Se pudesse alterar as políticas demográficas da Alemanha, o que mudaria primeiro?
O sistema de pensões, a idade de aposentadoria. Uma das razões por que a Alemanha não tem dinheiro suficiente para ajudar as famílias é porque se gasta tanto com os mais velhos, que não trabalham. Se os cidadãos trabalhassem mais tempo, isso pouparia muito dinheiro e contribuiria para a economia. Aí a Alemanha poderia gastar mais na educação, saúde, na integração dos imigrantes, na defesa, pesquisa.
E como convenceria as pessoas a trabalharem por mais tempo?
Muito importante seria ter horários de trabalho mais flexíveis. Para encorajar os mais idosos a permanecer na força de trabalho, é preciso ter mais empregos de meio período, com horários flexíveis, onde se possa escolher as horas em que se quer trabalhar. Ainda há inflexibilidade demais no sistema alemão.