Inovação na Alemanha
24 de janeiro de 2007A Alemanha é líder mundial em inovação na indústria automobilística. Seus pesquisadores e engenheiros registram patentes que vão desde o motor até o conforto dos assentos, passando por sistemas de segurança.
Também na tecnologia ambiental o país detém a liderança mundial em patentes, sobretudo nas áreas de energia hidrelétrica e eólica. Na pesquisa sobre energia solar e células combustíveis, a Alemanha igualmente está entre os primeiros colocados, mas ainda pode avançar.
É o que indica um estudo da empresa de consultoria Boston Consulting Group (BCG), divulgado nesta terça-feira (23/01), em Munique. Segundo o relatório, porém, o país perde para os EUA e a Ásia a corrida por patentes nas áreas de software e eletrônica de entretenimento.
"Quanto mais acelerado for o ritmo de inovação num setor, pior é a posição da Alemanha", constatou a BCG, que avaliou mais de 700 mil patentes registradas mundialmente entre 1998 e 2005.
O estudo comparou ainda os investimentos em pesquisa e desenvolvimento de algumas nações industrializadas. Na Alemanha, foram 68 bilhões de dólares em 2004 contra 146 bilhões aplicados pelo Japão e 313 bilhões de dólares investidos pelos EUA.
Improvisadores de bits
Os dados da BCG confirmam conclusões de um estudo realizado pela empresa de desenvolvimento de projetos Schlüngel/Holl, a pedido do Ministério da Pesquisa, sobre "inovação na indústria alemã de software". A análise de cerca de 500 empresas indicou que o setor improvisa muito e inova pouco.
"As empresas alemãs de software até geram inúmeras inovações, mas isso acontece mais por acaso, sem qualquer flanqueamento organizacional ou acompanhamento pelas formas convencionais de marketing e venda. Empresas tradicionais chegam a ser mais inovadoras do que as de TI", conclui o estudo.
Muitas idéias se perdem no caminho entre a pesquisa e a realização de um produto, um problema que não se restringe à área de software, segundo um levantamento feito entre 1200 empresas pelo Instituto de Pesquisa Aplicada sobre Inovação da Universidade de Bochum. Na Alemanha, apenas 13% de todas as idéias para novos produtos chegam a se transformar, de fato, em produtos lançados no mercado.
Para um país pobre em recursos naturais, a exploração dos recursos intelectuais é decisiva para garantir competitividade internacional, dizem os especialistas. Neste ponto, a indústria alemã de software ainda apresenta sérias deficiências.
Microempresas
Segundo o estudo encomendado pelo Ministério da Pesquisa, um dos empecilhos é a própria estrutura empresarial: 90% das empresas de software da Alemanha têm menos de dez funcionários. Quase 50% são "empresas de uma só pessoa".
"Em empresas pequenas, falta gerenciamento da inovação, os processos de desenvolvimento seguem pouco os princípios da engenharia de software e há insuficiente consciência de qualidade. O gerenciamento da qualidade desempenha um papel em apenas 30% das empresas de pequeno porte. Em firmas com mais de 20 funcionários, a situação melhora", conclui a pesquisa.
Os peritos da Schlüngel/Holl constataram ainda que grande parte das empresas do setor desenvolve e vende apenas um produto. Apenas 40% das firmas estariam planejando uma ampliação de seu portfólio.
Vender a firma em vez de inovar
Um outro problema apontado é a insuficiente qualificação dos funcionários – muitos deles não são formados em informática ou engenharia de software. "Somente as grandes empresas oferecem cursos de aperfeiçoamento de forma considerável", diz o estudo.
Os autores da pesquisa também avaliaram 800 "trabalhos relevantes" da área de software livre e concluíram que esse setor muitas vezes foi superestimado. "Somente nos últimos anos o software livre pôde oferecer uma alternativa real a produtos comerciais. Mas também no futuro ele não conseguirá suprir toda a demanda, por exemplo, de software para empresas."
O estudo conclui que, em termos de inovação, a indústria alemã de software se encontra diante de um dilema: "Num mercado tão dinâmico, até mesmo as microempresas precisam inovar, mas, muitas vezes, não dispõem dos recursos necessários. Por isso, freqüentemente, sua política empresarial não é sobreviver no mercado e, sim, a médio prazo, vender a firma".