Alemanha – o paraíso das cervejas
24 de agosto de 2005O título de "país das cervejas" foi conquistado em virtude das mais de 1200 cervejarias ativas na produção de mais de 5 mil marcas. Contando as bebidas não-alcoólicas, a cerveja é a terceira mais consumida (depois de água e café).
Das ultras às lights
As cervejas na Alemanha se classificam não só pelas cores, sabores, aromas, mas também pelo teor alcoólico e pelo tempo de fermentação. Dependendo do processo de fabricação, elas tomam as suas características especiais, podem até se tornar menos calóricas – as lights (Leichtbier).
No caso da Diätpils (pilsen dietética) por exemplo, os hidratos de carbono (açúcares) são transformados em álcool. Com isto, sua porcentagem alcoólica é multiplicada, mas posteriormente reduzida ao normal. Para quem não quer nem saber de álcool, existem as produzidas sem ele na categoria da alkoholfreies Bier. Para ser classificado como tal, o produto deve ser totalmente livre ou conter um baixo teor alcoólico, que não pode passar do 0,5%.
As mais pedidas
Quem vai para a Baviera, o paraíso das cervejarias ao ar livre (Biergärten), e "pede uma", recebe a Weissbier (ou Weizenbier). A cerveja de trigo, com um aroma floral, é servida em copos grandes de meio litro.
Uma cerveja mais turva chamada de Lager é benquista não só na Baviera, Baden-Württemberg e nas regiões do Rio Ruhr, como também tem apreciação internacional. Seu sabor é um tanto forte e adocicado, com leve aroma de malte. Ela passa por um processo de repouso e fica armazenada durante um longo período, quase completando as quatro estações do ano.
A cerveja preta (Schwarzbier) tem a cor dominante originada pelo uso do malte torrado. Até a metade do século passado, esta cerveja era a mais popular. Hoje, as claras são as mais consumidas.
A mais consumida
A Pils – conhecida como pilsen no Brasil – é o tipo de cerveja mais consumido no país. É servida nos copos em forma de tulipa ou troféu e famosa pela sua coroa cremosa de espuma.
A cerveja Bock contém em média 7% a 7,5% de álcool, tem uma cor bem dourada e origens bávaras. Não é encontrada com facilidade por ser uma especialidade de temporada, sendo geralmente mais vendida em dias festivos, conhecida também como "bock de Natal".
Em Düsseldorf, que tem a fama de maior balcão do mundo, toma-se a Alt, que é mais escura e tem um frescor mais amargo, muito benquista no alto verão. Esta é servida em copos de 0,2 litro.
A Berliner Weisse é a favorita dos berlinenses: com um sabor um tanto ácido, ela tem cor um pouco turva e é servida em taças. Apreciada também quando adoçada com glucose de frutas silvestres, como a framboesa e a aspérula. É a exótica entre as cervejas pelo seu visual colorido.
As cervejas mais escuras misturadas com coca-cola ou refrigerantes de sabor limão levam o nome de Russ, já quando levam a cerveja do tipo Lager ou pilsen são chamadas de Bierbowle ou Radler. Quando as cervejas mais claras são misturadas com refrigerante de sabor laranja, chamam-se Alster. Existem as misturadas com tequila ou bebidas energéticas com alto teor de cafeína e também com sucos de banana ou de cereja (por exemplo a Bananenweizen ou a Kirschweizen).
Kölsch não é só cerveja, já é tradição para a cidade de Colônia. Foi declarada como especialidade regional pela União Européia em 1997. É servida num copo estreito de 0,2 litro. Não se deve recusar uma Kölsch, isto já é quase uma ofensa para um Köbes (assim são chamados os garçons nos recintos típicos da região).
Na região de Bamberg, o malte é defumado, o que dá um sabor típico à cerveja de lá. Na cidade de Schorschbräu, a cerveja Donnerbock se diferencia das outras por ser a mais forte de todas com os seus 13% de álcool.
Muitos grupos, sociedades e clubes se dedicam aos estudos da cerveja na Alemanha, como por exemplo os "entendidos" da equipe da página eletrônica www.bier.de. Neste site eles recomendam saborear a cerveja com a temperatura entre 7 a 9 graus centígrados. Aconselham a não gelar a bebida bruscamente e nem guardá-la em freezer. Na hora do brinde, os alemães costumam se olhar no fundo dos olhos e clamam o "Prost", o saúde ou tim-tim no Brasil.
Eles são loucos por elas
Enquanto uns colecionam fotos e broches dos grandões hollywoodianos, os fanáticos por cerveja surpreendem com as suas manias. Guardar o paladar na memória parece não bastar, os restinhos como as chapinhas, garrafas e emblemas são eternizados dentro das casas dos colecionadores. Nem os copos são perdoados.
Do balcão, eles acabam com freqüência destinando-se às repartições alheias, como as bolsinhas dos fãs das loiras e das morenas geladas, por exemplo. Outros enchem as estantes com centenas de latinhas, anúncios, bonezinhos, camisetas e ainda existem aqueles que enchem os porões e as garagens com barris. O colecionador Bernd Speer é um deles, conseguiu juntar em quase 30 anos 1600 emblemas de cervejas, mas não se dá por satisfeito e no seu site ele faz um apelo, pois na sua coleção ainda faltam mil marcas.
Do barril ao fogão
A cerveja conquistou seu espaço na gastronomia e vem sendo usada em muitas receitas requintadas ou bem caseiras na Alemanha – as variedades se desenrolam dos pratos principais até as sobremesas. Dependendo da região, ela aparece nos cardápios retocando várias receitas de sopas, omeletes, assados, cozidos e até bolos.
Preceito da pureza
O duque Guilherme 4º, da Baviera, decretou em 1516 o preceito de pureza (Reinheitsgebot), que vigora até hoje na Alemanha e só permite o uso de quatro elementos para a fabricação da cerveja: malte, água, lúpulo e fermento. Em outros países, como o Brasil, costuma-se complementar ou substituir parte dos ingredientes por certos cereais com amido, como o arroz e o milho. Para alguns cervejeiros, uma alternativa mais barata de produção.
Descoberta faraônica
Por volta de 4000 a.C., os sumérios, um povo que habitava a região entre os rios Tigres e o Eufrates, já usavam cereais e leveduras, como a cevada, para fazer pães. Esta mistura de grãos era amolecida em potes d'água até germinar. Os ingredientes entravam em processo de fermentação e o líquido com teor alcoólico gerado já era bem similar à cerveja dos dias de hoje.
O Egito ainda mantém o sistema produzindo a bouza, uma cerveja rústica. Crê-se então que, desde aquela época, os habitantes já saboreavam a bebida fermentada. Provavelmente, a fórmula da cerveja dos germânicos foi inspirada nas receitas milenares destes primeiros criadores do "prazer".