Armas de fogo
24 de novembro de 2006As investigações iniciais sobre a invasão de uma escola que deixou 37 feridos e um morto na cidade de Emsdetten, no noroeste da Alemanha, no começo desta semana, indicaram que o atirador comprou seu arsenal de armas pela internet.
O atirador, o ex-aluno Sebastian B., de 18 anos, carregava consigo três armas de fogo e explosivos. Investigações sobre como ele adquiriu as armas concentraram-se sobre o portal de vendas de armas por internet eGun, onde se acredita que Sebastian comprou pelo menos uma das armas.
Ainda que a legislação vigente se aplique também às vendas por internet, Gabriele Hermani, uma porta-voz do Ministério do Interior, informou que as autoridades estão reavaliando se vendas de armas por internet não significariam uma lacuna na legislação.
Lobistas dizem que leis são adequadas
"Um maior controle legal não é a solução", afirma Joachim Streitberger, porta-voz do grupo de lobby de armas de fogo Forum Waffenrecht, sediado em Emmendingen. "Os instrumentos legais são de pouco uso quando alguém não se importa com a lei", acrescenta Strietberger, comentando que a corrente discussão é um "pseudodebate".
A Alemanha teria uma das legislações sobre armas mais restritivas do mundo. "Mas é mais fácil comprar uma arma de fogo atrás da estação ferroviária do que fazê-lo legalmente", comenta o lobista.
Na Alemanha, o número de armas ilícitas seria, pelo menos, duas vezes maior do que o de armas legais. Streitberger acrescenta que os crimes praticados por portadores de armas legais representam somente 0,004% dos crimes cometidos na Alemanha. Na sua opinião, leis mais restritivas não reduziriam o número de crimes praticados com armas de fogo.
Atirador tinha história de uso ilegal de armas
A polícia de Münster afirmou que foram encontradas três armas de fogo históricas semelhantes junto ao corpo do adolescente. Duas das armas eram chamadas "armas de percussão", construídas segundo antigos modelos de antes de 1870 e que podem ser compradas sem licença. A terceira arma, uma espingarda de pequeno calibre, requer licença de porte de armas.
Além disso, Sebastian B. fixou três bombas de fabricação caseira em torno do corpo. Cinco outras foram encontradas mais tarde em sua mochila.
Christian Brockert, porta-voz do Departamento Federal de Investigações (BKA), declara que casos envolvendo réplicas de armas seriam um problema. "Estas armas podem ser reabilitadas", afirma. A porta-voz do ministério Hermani acrescenta que as restritivas leis alemãs para venda de armas de fogo não se aplicam quando uma arma antiga foi reconstruída e reequipada.
Deve-se culpar a sociedade?
Os disparos em Emsdetten trouxeram de volta a lembrança do pior massacre já visto numa escola alemã, em 2002, na cidade de Erfurt, no Leste do país. Na ocasião, Robert Steinhäuser saiu disparando às cegas, deixando 17 mortos, inclusive o próprio atirador.
O incidente levou as autoridades alemãs a enrijecer as leis de armas de fogo. Ao mesmo tempo, houve vários debates públicos sobre se os pais, professores e o entorno de Steinhäuser não teriam contribuído para o crime.
No atual caso, Sebastian B. já havia entrado em conflito com a polícia por uso de armas. Ele deveria se apresentar a um tribunal juvenil, na última terça-feira, respondendo a acusações por porte ilegal de armas de fogo.
Adolf Gallwitz, professor de Psicologia e Sociologia na Universidade Politécnica da Polícia em Villingen-Schwenningen, afirmou que Sebastian teria, possivelmente, se comportado no passado de forma a chamar a atenção.
"Provavelmente houve uma série de sinais de distúrbio antes do acontecido", comentou Gallwitz. Mas a pressão exercida pelo sistema educacional sobre os professores seria tamanha que os impediria de reagir.