EUA-África
8 de fevereiro de 2007As Forças Armadas norte-americanas dividem o mundo em regiões estratégicas. O Northcom cuida da América do Norte e México, o Southcom da América do Sul, o Centcom da Ásia Central, Oriente Médio, Egito, Sudão e o Chifre da África. O Pacom fica com Madagáscar e as regiões do Pacífico na Ásia, enquanto o Eucom cobre 89 países da Europa e da África, indo do Cabo Norte ao Cabo da Boa Esperança.
"Herança da Guerra Fria"
Até hoje, as questões militares relacionadas à África ficavam nas mãos do Eucom, sediado em Stuttgart – o único comando militar com sede fora dos EUA. Esta divisão, contudo, afirma Gates, "é uma herança ultrapassada dos tempos da Guerra Fria".
Até agora, já chegaram 50 homens a Stuttgart, que irão atuar no Africom. O Pentágono pretende investir 40 milhões de dólares no novo quartel-general. No futuro, o comando militar deverá se transferir para algum país africano.
Porto seguro para terroristas?
O argumento do governo dos EUA é o de que, com o 11 de setembro de 2001, teve início uma guerra contra o terrorismo e desde então muitos extremistas encontram abrigo em países africanos. E o que Washington pretende evitar é que eles continuem encontrando um "porto seguro" na África.
De acordo com o governo norte-americano, isso já vem acontecendo na Somália, por exemplo. As atividades de "elementos terroristas" no país põem em risco a estabilidade do Chifre da África, afirma Jendayi Frazer, subsecretária de Estado norte-americana. "A Somália é uma espécie de grito de alerta sobre o quanto a África é importante no combate ao terrorismo", analisa o especialista Gärtner.
Nadando em petróleo
Ottfried Nassauer, diretor do Centro Berlinense de Informação para a Segurança Transatlântica (BITS), vê a situação sob um outro ângulo. Em sua opinião, a decisão de Washington de criar um comando militar especial para a África tem razões econômicas. De fato, São Tomé e Príncipe foi cogitado por muito tempo como possível sede do Africom, antes que os EUA se decidissem por Stuttgart.
O arquipélago, situado no Golfo da Guiné na costa oeste da África (ex-colônia portuguesa, cujo idioma oficial é o português), não é apenas conhecido por suas praias paradisíacas e florestas tropicais, mas por estar situado em uma região riquíssima em petróleo. Isso num contexto em que o governo norte-americano constata dificuldades cada vez maiores em relação ao fornecimento de petróleo ao país.
Uma das possibilidades de solucionar esse problema seria apelar para fontes petrolíferas da África, mais especificamente as do Golfo da Guiné. Até hoje, as importações da África cobrem apenas 20% das necessidades de petróleo e gás dos EUA, mas especialistas prevêem que podem chegar aos 25% até 2015.
Medo da China
Outra preocupação de Washington é certamente não "entregar" à China o potencial militar e econômico da África. Afinal, também não pode ter sido nenhuma coincidência o fato de o anúncio do secretário norte-americano da Defesa sobre a criação do Africom, com sede em Stuttgart, ter sido feito exatamente quando o presidente chinês Hu Jintao visitava a África.
A China tem por meta estabelecer uma parceria econômica e tecnológica com países africanos e pretende continuar investindo no continente, declarou Hu Jintao na quarta-feira (07/02). "Os EUA sentem aqui uma grande necessidade de correr atrás", comenta o especialista Gärtner.
Estratégias conflitantes
E mesmo que os EUA tenham como objetivo apenas o combate ao terrorismo, ao criarem um comando militar para a África, não resta dúvida de que Washington vê conflitos na região e pretende eliminar militarmente o terrorismo.
Enquanto os europeus preferem formar as tropas de paz da União Africana, a iniciativa norte-americana de combate ao terrorismo do Trans-Saara (TSCI) baseia-se no combate a supostas células terroristas da Al Qaeda em países como Mali, Argélia, Nigéria, Chade e Senegal.
Logo, o especialista em política de segurança Nassauer prevê: "Tudo isso vai levar a uma concorrência entre as estratégias dos europeus e dos norte-americanos na África, como a que acontece hoje no Afeganistão".