Alemanha vive boom de autônomos
7 de julho de 2004Apesar de um índice de desemprego que cresce a cada dia, a Alemanha nunca havia tido antes tantos autônomos como no momento. O maior número de registros é de microempresas, as chamadas Ich-AG (literalmente: Eu-S.A.), que pululam por todos os lados. Apenas em Berlim, foram registrados nos três primeiros meses deste ano 11 mil empreendimentos do gênero – 15% mais que no mesmo período em 2003.
Dobro do trabalho e metade do dinheiro
Em toda a Alemanha, o número de microempresas passou de 723 mil a 810 mil. A principal razão do boom, segundo os especialistas, é a existência de um incentivo do Estado para todo desempregado que se disponha a trabalhar "por conta própria". A boa vontade, no entanto, não garante o sucesso posterior.
"Quem funda uma empresa sozinho tem que saber que nos três primeiros anos vai ter que trabalhar duas vezes mais do que se fosse funcionário. E ganhar, na melhor das hipóteses, a metade do dinheiro, tendo um terço das férias, quando se é possível falar em férias", descreve Sasha Monath, da Federação dos Autônomos no país.
Apesar dos riscos, única saída
Mesmo diante de perspectivas não muito alentadoras como essa, a fundação de uma microempresa é a única saída viável para muitos. O mais importante, alerta Monath, é estar munido de uma boa idéia, envolver-se de corpo e alma no trabalho e enfrentar os riscos inevitáveis. Uma falência, por exemplo. O que acabou acontecendo com cerca de 8% das microempresas no país, nos últimos meses.
"É preciso trazer uma boa dose de disciplina, pois ninguém faz o trabalho para você ou diz a que você deve ficar atento. Caso necessário, você tem que estar às seis da manhã no escritório e ficar lá até meia-noite", diz Monath.
"Teria morrido de fome"
Para Cornelia Bergemann e Peggy Rittmüller, duas alemãs que se tornaram autônomas há pouco, essa foi a única saída, da qual não se arrependem. Rittmüller, por exemplo, montou aos 39 anos, em Berlim, uma clínica de consultoria alimentar. Isso depois de ter perdido seu emprego como enfermeira e ter ficado um bom tempo desempregada.
"Se eu não fosse casada, já teria morrido de fome, se fosse depender dos rendimentos da minha microempresa", diz. A longo prazo, no entanto, ela espera que o negócio engate de verdade: "Meu sonho é que isso aqui funcione e que eu possa até mesmo fundar, no futuro, uma filial", declara cheia de otimismo.