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Alemanices: O flerte que não existe

Karina Gomes
28 de abril de 2017

Começar um relacionamento sério ou ficar com alguém na balada podem se tornar uma missão longa e difícil na Alemanha. Karina Gomes conta na coluna.

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Wiesn-Wortschatz 2012
Quem toma a iniciativa na Alemanha, geralmente, é a mulherFoto: DW/Johanna Schmeller

Flertar na Alemanha é, definitivamente, uma missão difícil. Depois de trocar olhares por duas horas na balada e não dar em nada, ser censurado por dar um beijo de língua num bar ou perder as esperanças depois de cinco encontros seguidos sem um beijo sequer, alguém pode se perguntar: o flerte existe por aqui?

É arriscado dar uma resposta categórica sobre como uma paquera tão sutil, intrigante e desafiadora resulta num relacionamento. Experiências vividas por estrangeiros na roleta da conquista alemã não devem ser generalizadas, mas ajudam a entender o que se passa no coração alemão.

Karina Gomes, Journalistin der DW
A jornalista Karina Gomes vive na Alemanha desde 2013Foto: privat

É o quinto encontro. Ele sempre dá sinais de interesse. Até já ficaram até as cinco da manhã conversando na casa dele, apesar de nada ter acontecido. Ela decide tomar a iniciativa para, no final, conseguir um beijo de leve. Assim foi até virar namoro. Depois de alguns meses de relacionamento, ele explica que a demora no início foi para conhecê-la melhor, estabelecer uma amizade e, depois de "300 encontros", ter certeza de que poderiam namorar.

A ideia de "ficar" e deixar rolar um flerte despreocupado na linha do "vamos curtir e ver no que vai dar" não combinam, em geral, com alemães que procuram um relacionamento sério. Quando a intenção é verdadeira, o processo é lento. E se querem apenas diversão, vão deixar claros os limites: nada de romantismo.

Em bares e baladas, não é comum ver "pegação geral". Quando vão a uma festa, é para curtir a música e os amigos. Vão, claro, trocar olhares, caso se interessem por alguém. Mas não se surpreenda se as olhadas durarem a noite toda e o cara não vier conversar com você. Esse papel é, muitas vezes, da mulher.

Num país em que não é comum os homens pagarem a conta do restaurante, abrirem a porta do carro para a mulher ou se oferecerem para carregar uma mala pesada, a independência feminina fica evidente. O poder da paquera está com as mulheres, e o flerte agressivo não é bem recebido. Não é não. E são elas que gostam de dar o primeiro passo.

Saber até onde podem ir ao se interessarem por alguém pode gerar insegurança entre os alemães. Para pular essa etapa tão difícil, muitos recorrem aos sites e apps de encontros, que fazem muito sucesso na Alemanha. Outra estratégia é entrar para um curso de culinária ou ir a festas de amigos para conhecer um possível amor.

E para os estrangeiros que se deparam de primeira com uma equação tão complexa de conquista é normal se sentir um peixe fora d'água e até ficar frustrado. Pedi a colaboração de colegas da DW Brasil para traduzir o que é vivenciar o "flerte inexistente” alemão. A boa notícia é que, segundo me contaram, quando o relacionamento engata, a coisa é intensa.

Na coluna Alemanices, publicada às sextas-feiras, Karina Gomes escreve crônicas sobre os hábitos alemães, com os quais ainda tenta se acostumar. A repórter da DW Brasil e DW África tem prêmios jornalísticos em direitos humanos e sustentabilidade e vive há três anos na Alemanha.