Alemães aprovam mudança radical em política externa e defesa
4 de março de 2022A invasão russa da Ucrânia levou o governo alemão a mudar radicalmente algumas de suas políticas. No domingo (27/02), o chanceler federal Olaf Scholz, do Partido Social-Democrata (SPD), anunciou a exportação de armas para Kiev, um aumento drástico nos gastos com defesa e o apoio de seu país a sanções severas contra a Rússia, principal fornecedor de gás e carvão da Alemanha.
O instituto de pesquisa infratest realizou uma pesquisa, por telefone e internet, com 1.320 adultos que podem votar em toda a Alemanha, de 28 de fevereiro a 2 de março, e descobriu que 53% dos entrevistados consideram a nova resposta do governo alemão, mais dura, como apropriada. Para 27%, ela ainda é branda demais, e para 14% é mais severa do que deveria.
Refugiados, economia e Bundeswehr
A maioria dos alemães, mesmo aqueles que apoiam o partido ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD), é a favor de a Alemanha receber refugiados da Ucrânia: 91% concordam que isso é a coisa certa a ser feita.
Durante décadas, os governos alemães seguiram uma política rígida de não enviar armas para regiões em conflito. Berlim inicialmente se recusou a fornecer ajuda militar à Ucrânia na atual crise, mas agora deu luz verde. A opinião em relação à entrega de armas mudou drasticamente: em fevereiro, apenas 20% dos eleitores entrevistados eram a favor. Agora, esse número subiu para 61%. Além disso, 45% acham que a mudança de postura de Berlim chegou tarde demais.
O aumento de verbas para as forças armadas da Alemanha (Bundeswehr) também foi aprovado pelos entrevistados. O governo anunciou um investimento extra de 100 bilhões de euros (R$ 555 bilhões) e o aumento do orçamento militar para atender o recomendado pela Otan, de 2% do PIB – para satisfação de muitos.
A própria Otan parece estar desfrutando de um impulso de popularidade durante a crise atual: 83% dos entrevistados enfatizaram a importância da aliança atlântica de defesa para a paz na Europa.
A maioria dos entrevistados é crítica às políticas amistosas e comerciais da Alemanha em relação à Rússia nas últimas décadas: 68% disseram que Berlim foi muito leniente com o presidente russo, Vladimir Putin.
Seis em cada dez entrevistados apoiaram a admissão da Ucrânia à União Europeia. Mas o pessimismo prevalece: três em cada quatro entrevistados acham que a Ucrânia será totalmente ocupada pela Rússia.
Temores sobre guerra na Europa
O sentimento geral é sombrio: nove em cada dez entrevistados disseram estar muito preocupados. No verão de 2014, no 100º aniversário da eclosão da Primeira Guerra Mundial, três em cada dez alemães estavam com medo de uma nova grande guerra no continente. Agora, sete em cada dez estão preocupados que outros países possam ser atacados pela Rússia.
A maioria dos entrevistados na pesquisa disse estar ciente de que a Alemanha não sairá ilesa: 64% temem uma deterioração da situação econômica do país e 66% têm medo de restrições no fornecimento de gás e energia.
Metade dos entrevistados duvida que as sanções contra Moscou terão algum impacto no curso atual da Rússia. No entanto, a maioria dos alemães apoia as medidas punitivas.
A Rússia está no final da lista de países que os entrevistados classificam como parceiros confiáveis – atrás da China. Os EUA, por ouro lado, registraram uma alta na confiança.
Aprovação do governo
A nova coalizão do governo federal entre SPD, Partido Verde e FDP – que não está nem há 100 dias no poder – conseguiu recuperar a confiança, depois de ter perdido apoio significativo no início do ano. Há um mês, apenas 38% diziam estar satisfeitos com o governo, agora o número é de 56%.
No geral, os políticos no poder na Alemanha tiveram uma boa pontuação: 56% dizem estar satisfeitos com o trabalho de Scholz, aumento de 13 pontos percentuais em relação ao mês passado.
A ministra das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, do Partido Verde, obteve ganhos significativos e agora tem um índice de aprovação de 50%. O ministro das Finanças, Christian Lindner, do FDP, e o ministro da Economia e vice-chanceler federal, Robert Habeck, do Partido Verde, ganharam 7 e 8 pontos percentuais – para 49% e 47% nos índices de aprovação, respectivamente.