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Alemães perdem confiança

Laís Kalka25 de abril de 2003

Pesquisa revela que os alemães confiam cada vez menos nos políticos, na Igreja e outras instituições. Mas sua disposição a mudanças vai além do que a política exige atualmente.

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Diminui o número dos que se declaram religiososFoto: Bilderbox

"Os números são em parte alarmantes e assustadores", comentou o ex-presidente da Alemanha Richard von Weizsäcker, patrono de uma ampla pesquisa realizada na internet por incumbência da revista Stern, a emissora de TV ZDF e a consultoria Mc Kinsey.

As respostas de mais de 356 mil cidadãos entre 16 e 69 anos a perguntas compiladas sob o título de "Perspectiva Alemanha" revelaram um alto grau de desconfiança em relação aos políticos, Igreja, sindicatos e outros órgãos da vida pública. A população, ao que indicam os números, está disposta a dar sua parte de colaboração para uma ampla reforma do país, mas não encontra correspondência nas visões — ou na falta de visão — dos políticos e dirigentes.

Políticos, partidos & cia. —

Apenas 3% dos participantes na enquete declararam-se plenamente confiantes nos partidos políticos. Mais da metade (57%) consideram deficiente o trabalho realizado pelos partidos e 80% vêem a "necessidade urgente" de melhorias em sua atuação. "A frustração aumenta com a idade das pessoas: entre 16 e 19 anos de idade, 67% falam da necessidade urgente de melhorias; depois dos 40 anos, a cota sobe para 82%", completa Heino Fassbender, diretor da McKinsey alemã.

A avaliação da atuação de outras instituições públicas é igualmente desoladora: apenas 7% acham o trabalho das delegacias de trabalho satisfatório; somente 11% confiam no sistema de previdência social. A entidade mais merecedora da confiança dos alemães é o automóvel clube ADAC, seguido da Polícia — um resultado certamente surpreendente para brasileiros —, da ONG ambientalista Greenpeace e dos jardins-de-infância (enquanto o sistema escolar em geral é visto como necessitado de reformas).

Fé e caridade —

Também para as Igrejas, o resultado da pesquisa foi decepcionante. Apenas 39% dos participantes se definiram como religiosos, enquanto a mesma porcentagem se vê como ateísta ou arreligiosa. A Igreja Católica conta com a confiança de somente 11%, enquanto 17% confiam na Igreja Luterana. As atividades das duas principais congregações religiosas do país são consideradas boas por 12% e 18% dos entrevistados, respectivamente. As organizações de ajuda humanitária das duas igrejas, a Caritas e a Diakonie, por sua vez, gozam de maior prestígio entre a população do que a própria instituição Igreja.

O presidente da Confederação dos Bispos Alemães, cardeal Karl Lehmann, falou em entrevista à Stern de um "resultado dramático". "Dói perder em importância", afirmou o cardeal, admitindo que a Igreja deixou de servir de orientação em questões pessoais, familiares, do casamento e da sexualidade.

Contribuição própria —

O que surpreendeu os organizadores da pesquisa foi a disposição de grande parte da população de dar sua contribuição para a reforma do sistema social da Alemanha. Quase a metade (45%), por exemplo, concordaria com aposentadorias mais modestas e estaria disposta a complementá-las com seguros particulares, se isso contribuísse para evitar o colapso do sistema previdenciário.

"As pessoas no país vão além daquilo que a política permite. Estão dispostas ao sacrifício e às mudanças", afirma Fassbender. E o ex-presidente Von Weizsäcker completa: "A responsabilidade própria é um bem almejado e não temido".