Aliados rejeitam nova proposta de impunidade dos EUA
11 de julho de 2002O governo Bush propôs impunidade de um ano, renovável anualmente, no lugar da impunidade constante que exigira inicialmente como condição para aprovar a prorrogação do mandato da tropa de proteção na Bósnia. A impunidade é para os soldados norte-americanos que participem de missões das Nações Unidas. O embaixador americano na ONU, John Negroponte, apresentou a nova proposta ao Conselho de Segurança, em Nova York, na noite de quarta-feira. A representação da União Européia rejeitou a nova proposta americana de resolução.
O presidente do Conselho, o britânico Jeremy Greenstock, considerou o texto como base para uma discussão. Ele pretende conduzir um acordo sobre a imunidade para soldados americanos até a noite desta sexta-feira, porque vai expirar na segunda-feira 15 o mandato da tropa internacional na Bósnia. Por causa da contenda, ele foi renovado na semana passada só por 12 dias em vez dos seis meses planejados. A União Européia está pronta para substituir a ONU no comando do contingente multilateral na ex-república iugoslava, se o mandato não for prorrogado.
Só mudou o vocabulário
Para muitos diplomatas da ONU, o novo texto sinaliza disposição crescente dos EUA para um consenso, mas várias ONGs ativistas dos direitos humanos consideram que a proposta americana permanece a mesma. A Human Rights Watch, por exemplo, avaliou que o conteúdo é o mesmo e só mudou a linguagem. Nesse meio tempo, quase 40 países criticaram a exigência do governo Bush para impedir que soldados americanos sejam julgados pelo TPI, em Haia, por violações dos direitos humanos, crimes de guerra ou contra a humanidade. Só a Índia recomendou ao Conselho de Segurança um exame diligente da nova proposta.
Passado alemão
O embaixador da Alemanha na ONU, Hanns Schumacher, advertiu para as conseqüências de uma imunidade para soldados em missão da ONU. Uma resolução como a desejada pelos Estados Unidos representaria uma violação do acordo de criação do Tribunal Penal Internacional ratificado por 76 países, segundo ele. "Com isso o Conselho de Segurança prestaria um péssimo serviço", disse o diplomata alemão. Ele advertiu que os alemães aprenderam com o seu passado nazista que não pode haver impunidade para genocídio, crimes de guerra e contra a humanidade.
Em nome da União Européia, a embaixadora dinamarquesa Ellen Margrethe rejeitou o ponto de vista dos EUA. A representante do país na presidência rotativa da UE apelou ao Conselho de Segurança para que solucione o impasse, de forma não a ferir a integridade do estatuto romano e, ao mesmo tempo, para garantir o prosseguimento da missão de paz da ONU na Bósnia. A tropa foi criada com base no Acordo de Dayton, que encerrou a guerra de independência da república iugoslava, em 1995.