Sem trabalho
11 de agosto de 2011Durante anos, a Europa representou para jovens de várias partes do mundo a possibilidade de conseguir um bom emprego e a garantia de melhores perspectivas de vida. A economia pujante oferecia grandes chances para quem estivesse atrás de um espaço no mercado de trabalho. O cenário nesta segunda década do século 21, porém, traz um quadro bastante diferente. Os altos índices de desemprego no Velho Mundo, especialmente entre os jovens, vêm alarmando autoridades.
Segundo um levantamento do Escritório de Estatísticas da União Europeia (Eurostat), 20,5% das pessoas entre 15 e 24 anos que vivem nos 27 países-membros da União Europeia (UE) não têm ocupação profissional. E a situação é ainda mais dramática em alguns países: quase metade dos jovens espanhóis nesta faixa etária, 45,7%, está desempregada. Na Grécia, que aparece em segundo lugar no ranking do desemprego juvenil, o índice alcança 38,5%. E na Eslováquia, terceira, o percentual é de 33,3%.
O relatório do Eurostat, relativo a junho deste ano, mostra ainda que a Holanda (7,1%), a Áustria (8,2%) e a Alemanha (9,1%) representam, respectivamente, os três países com menores índices de desemprego nesta faixa etária na UE.
O Eurostat esclarece que muitos jovens que entram nas estatísticas na realidade nem estão em busca de emprego por serem estudantes em tempo integral, mas ressalta que os altos índices refletem dificuldades para achar uma vaga no mercado.
Problema socioeconômico
Segundo especialistas, o desemprego nesta faixa etária não é apenas um problema econômico dos Estados, especialmente os mais afetados pela crise financeira no continente. A falta de perspectivas destes rapazes e moças sem colocação no mercado de trabalho reflete-se diretamente nas relações sociais.
Não por acaso, protestos violentos, vandalismos e crimes de toda ordem ocorridos nos últimos meses envolveram principalmente jovens dos países mais atingidos pelo desemprego. Em junho passado, manifestantes tomaram as ruas de Atenas para protestar contra o pacote de medidas implantado no país para tentar superar a crise econômica.
Um mês antes, a população espanhola assistiu à "revolução dos indignados", com barracas montadas nas praças centrais de várias cidades em protesto contra os altos índices de desemprego no país.
No Reino Unido, palco de cenas de violência e vandalismo nos últimos dias, o desemprego juvenil está em torno dos 20%. A falta de espaço no mercado de trabalho, somada a programas de austeridade implantados pelos governos a fim de superar a crise financeira, fazem com que os conflitos sejam praticamente inevitáveis, segundo observadores.
"E só seria possível evitar (estes distúrbios) se realmente se chegasse às suas causas. No caso do Reino Unido, seria preciso encarar seriamente a falta de perspectivas e o enorme abismo entre as classes alta e baixa", avalia o sociólogo Michael Hartmann, da Universidade Técnica de Darmstadt.
"As pessoas têm a sensação de que o sistema de maneira geral não trabalha em benefício delas, que elas não têm espaço; que a política não oferece apoio, nem qualquer perspectiva", avalia Simon Teune, sociólogo do Centro de Ciências para Pesquisas Sociais em Berlim.
Segundo ele, apesar de o problema do desemprego juvenil já existir há anos, a questão agora toma maiores proporções entre os jovens porque os governos voltaram as prioridades para a estabilidade dos bancos e dos mercados financeiros.
Tensões no bloco
Os altos índices de desemprego também aumentam as tensões dentro do próprio bloco. Para evitar que o fluxo de migrantes pressione seu já saturado mercado de trabalho, a Espanha conseguiu a autorização da Comissão Europeia para impor temporariamente restrições a trabalhadores da Romênia – país com um dos maiores volumes de migrantes em terras espanholas.
"Estou convencido que a restrição ao livre fluxo de trabalhadores europeus não é uma resposta aos altos índices de desemprego. Mas a comissão entende que nesta situação particular, com a dramática situação de desemprego e neste ambiente financeiro complexo, as autoridades espanholas queiram frear este fluxo", justificou o comissário europeu para o Emprego, Assuntos Sociais e Inclusão, Laszlo Andor.
Autora: Mariana Santos
Revisão: Roselaine Wandscheer