EUA - Alemanha
5 de junho de 2009
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, faz nesta sexta-feira (05/06) sua terceira visita à Alemanha. Ele foi recebido pela chanceler federal, Angela Merkel, em Dresden. Após uma breve reunião, ambos visitam a igreja Frauenkirche. O presidente norte-americano pretende visitar ainda o campo de concentração de Buchenwald, nas proximidades de Weimar.
Sessenta anos de relações teuto-norte-americanas
Ao longo das últimas seis décadas, vários presidentes norte-americanos visitaram a Alemanha, marcando momentos importantes da história alemã:
26 de junho de 1963. Em frente à então prefeitura de Berlim Ocidental, no bairro de Schöneberg, o jovem presidente norte-americano John F. Kennedy fazia sua famosa declaração a Berlim: "Há 2 mil anos, o maior orgulho era afirmar 'Sou um cidadão de Roma'. Hoje, no mundo livre, o maior orgulho é afirmar 'Sou um berlinense.'" Esta última frase foi pronunciada por Kennedy em alemão: "Ich bin ein Berliner" – do ponto de vista emocional, este foi um ponto alto das relações teuto-americanas.
Centenas de milhares de pessoas celebravam Kennedy naquele dia de verão em Berlim. O comércio fechou, muitas crianças não tiveram aula. Não só os berlinenses sentiam falta de um discurso claro por parte dos americanos após a construção do Muro de Berlim em agosto de 1961.
Dois anos depois, Kennedy retornou à cidade por ocasião dos 15 anos do corredor aéreo criado pelo governador militar norte-americano Lucius D. Clay. Em junho de 1948, aterrissavam os primeiros aviões aliados que garantiriam o abastecimento de Berlim Ocidental, bloqueada por tropas soviéticas. "Nesta cidade", declarou o então prefeito de Berlim e futuro chefe de governo alemão Willy Brandt (SPD), "nasceu a amizade teuto-alemã após essa terrível guerra".
Guerra Fria une Alemanha e EUA
O primeiro chefe de governo da Alemanha Ocidental, Konrad Adenauer (CDU, 1949-63), estava determinado a promover a integração da jovem república ao Ocidente. A crise da Coreia havia despertado temores de um confronto arriscado com a União Soviética.
Na Alemanha, ou seja, no centro do conflito Leste-Ocidente, os EUA queriam fortalecer a democracia, aproximar mais o país das potências ocidentais e garantir sua segurança. O rearmamento do país, muito polêmico na discussão política interna, foi associado por Adenauer à exigência de uma maior soberania do Estado alemão ocidental. De fato, o estatuto de ocupação ocidental foi suspenso em 1955 e a República Federal da Alemanha se tornou membro da Otan.
Adenauer: cachimbo da paz e pacto de sangue
O chanceler federal Adenauer visitou diversas vezes os EUA. Em 1956, ele viajou a Milwaukee, em Wisconsin, considerada "a cidade mais alemã nos EUA". Os alemães eram historicamente a maior comunidade de imigrantes no país. Até os índios honraram o convidado. Adenauer foi condecorado com um paramento de penas indígena e nomeado "líder sábio de muita gente", fumou cachimbo da paz e selou um pacto de sangue.
A aliança teuto-americana permaneceu estável nas décadas seguintes. Por um lado, protestos alemães contra o rearmamento e o estacionamento de armas nucleares no país geraram tensões. Por outro, o sucessor de Adenauer na Chancelaria Federal, Ludwig Erhard (CDU, 1963-66) manteve a estreita parceria com os EUA, rechaçando tentativas de aproximação por parte de franceses e soviéticos. Erhard estava convicto de que a RFA só sobreviveria a um eventual conflito com ajuda militar dos EUA.
Primeiro estranhamento com a Guerra do Vietnã
Em meados dos anos 60, durante a grande coalizão sob o chanceler federal Kurt Georg Kiesinger (CDU, 1966-69), crescia na Alemanha o movimento de protesto contra a guerra dos EUA no Vietnã. O Partido Social Democrata, ao qual pertencia Willy Brandt, ministro do Exterior na época, exigiu publicamente o fim de todas as atividades militares no Vietnã.
Quanto mais os EUA se envolviam na guerra do Vietnã, mais o governo alemão passava a se orientar por Paris. Quanto Willy Brandt, primeiro social-democrata a se tornar chanceler federal, tomou posse em 1969, a política alemã em relação ao Leste tomava novos rumos. O empenho de Brandt em descontrair a relação com a União Soviética gerava preocupação nos EUA, mas não deixou de ser endossado pelo presidente norte-americano Richard Nixon.
Quanto ao sucessor de Brandt, Helmut Schmidt (SPD, 1974 -82), e ao presidente norte-americano Jimmy Carter, conta-se que nenhum gostava muito do outro. Durante uma visita a Bonn, Carter até mostrou que sabia falar alemão e citou a "Ode à Alegria", de Schiller: "Todos os homens se irmanam".
No entanto, os Estados Unidos e a Alemanha estavam em desavença – em relação à cotação do dólar, a questões econômicas, à exportação de tecnologia nuclear alemã e à política de Bonn para o Leste. Mesmo assim, a resolução dupla da Otan relativa à ampliação do potencial nuclear alemão foi aprovada em claro consenso entre os dois países. Na Alemanha, contudo, o debate sobre o armamentismo atômico desencadeou vastos protestos por parte do movimento pacifista. O entusiasmo pelos EUA sofreu uma interrupção.
"Sr Gorbatchov, derrube este muro."
O conservador Ronald Reagan, sucessor de Carter, cooperava estreitamente com o novo chefe de governo conservador da Alemanha, Helmut Kohl (CDU, 1982-98). Reagan apostava na linha dura de um poderio militar contra o comunismo e a União Soviética. Ele se inscreveu nos livros de História com uma visita a Berlim em junho de 1987.
A União Soviética já estava nitidamente enfraquecida, o chefe de Estado soviético Mikhail Gorbatchov já começava a introduzir reformas. Acompanhado de manifestações contra o armamentismo, Reagan fez um pronunciamento a 25 mil espectadores selecionados diante do Portão de Brandemburgo: "Sr. Gorbatchov, abra este portão. Sr. Gorbatchov, derrube este muro."
O Portão se abre – EUA contribuem para reunificação
Dois anos depois, chegava a hora: em 9 de novembro de 1989, caía o Muro de Berlim. E o chanceler federal Kohl recebia apoio do presidente George Bush sênior em seu empenho de reunificar os dois Estados alemães. Em maio de 1989, durante uma visita a Mainz, Bush denominou os alemães "partners in leadership" (parceiros em liderança).
Enquanto os aliados europeus, França e Reino Unido, temiam o superpoderio de uma Alemanha reunificada, Bush saudou o desejo alemão de se reintegrar em um único país. Ele só exigiu que a Alemanha reunificada continuasse sendo membro da Otan.
"Jamais nos esqueceremos desse apoio", prometeu posteriormente o premiê Kohl. Em 1994, junto com o sucessor de Bush, Bill Clinton, ele atravessaria o Portão de Brandemburgo já aberto.
"Solidariedade ilimitada" em referência a John F. Kennedy
Em 11 de setembro de 2001, os atentados terroristas em Nova York e Washington também chocaram os alemães. O premiê Gerhard Schröder (SPD), sucessor de Helmut Kohl desde 1998, assegurou aos EUA uma "solidariedade ilimitada". Perante o Parlamento alemão, ele se referiu explicitamente à visita que Kennedy fizera a Berlim em 1963.
"A declaração 'Ich bin ein Berliner'", declarou Schröder, foi expressão de "uma solidariedade inacreditável com a Alemanha". Agora, seria a hora de mostrar a mesma solidariedade para com o povo americano. Dois dias depois, quase 250 mil pessoas saíam às ruas de Berlim para apoiar os EUA.
Solidariedade sim, guerra no Iraque não – o afastamento teuto-alemão
A Alemanha apoiou os EUA após o ataque ao Afeganistão e colocou milhares de soldados à disposição para a guerra contra o terror. Em Washington, quem governava já era George W. Bush, filho de George Bush sênior.
Quando se configurou que os EUA estavam planejando atacar o Iraque, Schröder deixou claro que Bush não contaria com o apoio alemão. A maioria da população alemã também era contra a guerra. Quando Schröder foi reeleito, em 2002, Bush não o parabenizou. Em janeiro de 2003, 500.000 pessoas protestaram em Berlim contra a iminente guerra no Iraque.
Nos anos seguintes, as relações teuto-alemãs se mantiveram frias. Bush visitou Mainz em fevereiro de 2005 sob forte esquema de segurança. A cidade o recebeu com ruas praticamente desertas.
"Ela é sensata e ama a liberdade"
Só durante o governo da premiê Angela Merkel (CDU, a partir de 2005) é que as relações teuto-alemãs reaqueceram. Durante a primeira visita da chanceler federal alemã a Washington, no início de 2006, o presidente Bush se mostrou fascinado pelo passado de Merkel na Alemanha Oriental. "Ela é sensata e ama a liberdade", elogiou.
As visitas bilaterais dos governantes de ambos os países se tornaram mais frequentes e pessoais. Merkel recebeu Bush para um churrasco de javali em sua cidade natal, em Mecklemburgo; Bush, em contrapartida, a convidou para uma visita ao seu rancho no Texas. No entanto, assuntos como a proteção ao clima ou a política dos direitos humanos continuaram gerando divergência entre os dois governos.
"Yes we can" – entusiasmo alemão por Obama já durante a campanha
Mas a população alemã só se entusiasmou de novo pela política norte-americana durante a campanha presidencial de Barack Obama, rotulado de "Kennedy negro".
Em agosto de 2008, Obama visitou Berlim durante sua campanha eleitoral e falou para 200 mil pessoas que o recepcionaram com seu slogan eleitoral: "Yes, we can!". Pela primeira vez desde a visita de Kennedy à cidade, berlinenses e alemães se mostraram totalmente entusiasmados com um estadista norte-americano, mesmo que ele exija um apoio maior de parceiros como a Alemanha.
Autora: Andrea Grunau / Roselaine Wandscheer
Revisão: Rodrigo Abdelmalack