Amor é tema central de diversos candidatos à Palma de Ouro
24 de maio de 2012O amor é um tema comum a vários filmes concorrentes no Festival de Cinema de Cannes, que se realiza na cidade litorânea da Costa Azul, na França. Por exemplo em Dupa Dealuri (Além das colinas), do diretor romeno Cristian Mungiu, que tematiza o amor a Deus.
Mungiu foi premiado em Cannes em 2007, quando seu drama sobre o aborto 4 Meses, 3 Semanas, 2 Dias recebeu a cobiçada Palma de Ouro. Agora ele se volta para a época após a ditadura de Nicolae Ceausescu.
A história gira em torno de Voichita e Alina, duas amigas que cresceram juntas num orfanato e se apaixonam. Porém os caminhos delas se separam: Alina vai para a Alemanha em busca de trabalho e Vochita ingressa numa seita cristã ortodoxa, passando a viver isolada nas montanhas geladas da Romênia.
Ao visitar Voichita, Alina tenta convencê-la a ir para a Alemanha. Já apegada à nova casa na comunidade religiosa, Voichita recusa o pedido. As regras rígidas dão a ela a sensação de segurança que tanto almejava. Voichita diz que o amor que sentia por Alina mudou e não quer obrigá-la a também ingressar na comunidade religiosa.
Alina acaba por se revoltar contra o religioso ortodoxo e o poder que ele exerce sobre as mulheres da comunidade. Com 155 minutos, este é o filme mais longo do festival, um drama sobre amor e sacrifício.
Lawless (Sem lei), do diretor australiano John Hillcoat, é uma mistura de bangue-bangue e filme de gângsteres que se passa em 1931, na época da Lei Seca dos Estados Unidos. O filme narra as aventuras da destemida gangue dos irmãos Bondurant, envolvida com o comércio ilegal de bebidas, e como eles se mantêm unidos contra a polícia e as autoridades no pequeno condado de Franklin.
A história se baseia no livro autobiográfico de Matt Bondurant The wettest county in the world e garante boa diversão com muito glamour, graças aos personagens ironicamente caricaturizados dos três irmãos e um elenco de estrelas como Gary Oldman, Guy Pearce e Jessica Chastain.
Com o drama Amour, o diretor austríaco Michael Haneke conta a história do casal de idosos Georges e Anne. O amor do casal octogenário é colocado à prova quando Anne sofre um derrame. A ex-professora de música fica com um lado do corpo paralisado e necessita de uma cadeira de rodas. O marido passa a cuidar dela com toda dedicação.
Ambos lutam para manter a dignidade, para tentar levar adiante, ao menos dentro da própria casa, a vida comum que criaram ao longo dos anos. Um filme sobre dedicação e o enorme poder de um amor que dura toda uma vida. Ao mesmo tempo, o diretor apresenta a velhice, a doença e a decadência física de uma forma crua, sem estilização. Haneke ganhou a Palma de Ouro de 2009 com o filme A Fita Branca.
O favorito ao prêmio
Um amargo acerto de contas com a falta de compaixão de supostos bons cidadãos é o que apresenta um outro queridinho de Cannes: o diretor dinamarquês Thomas Vinterberg, co-fundador do movimento Dogma. O ganhador do Prêmio do Júri em 1998, com Festa de Família, tematiza o abuso sexual de menores sob uma nova perspectiva no filme Caça.
Lucas, de 40 anos, muito bem interpretado por Mads Mikkelsen, finalmente conseguiu se reestabelecer na vida. Após o fechamento da escola em que trabalhava, o ex-professor consegue emprego num jardim de infância e se dedica às novas tarefas com entusiasmo.
Além disso, o filho dele, de 12 anos, vem finalmente morar com o pai. Lucas também arruma uma nova namorada. Mas a vida dele desaba quando Clara, uma menina de 5 anos, diz à diretora do jardim de infância que foi molestada por ele.
Lucas é inocente, mas o rumor se espalha rapidamente, como um vírus, e envenena sua vida. Ele perde o emprego e os amigos e passa a ser impiedosamente segregado e perseguido. E mesmo quando as suspeitas diminuem, Lucas fica marcado pela acusação.
Vinterberg conta sobre o amor exacerbado de pais e educadores às crianças, um amor perigoso e que podem causar muitos danos. O medo de que algo possa ter acontecido com um filho provoca uma histeria cega nos adultos, despertando seu instinto de caça. Esse filme magnífico sobre o poder destrutivo do amor é apontado por muitos como o favorito à Palma de Ouro de 2012.
Autora: Susanne Lenz-Gleißner (aks)
Revisão: Alexandre Schossler