América Latina: foco dos interesses europeus?
5 de maio de 2006Dando continuidade à sua visita à América Latina, o ministro alemão das Relações Exteriores, Franz-Walter Steinmeier, aterrissou na madrugada de quinta-feira (04/05) no Rio de Janeiro, iniciando sua visita de dois dias ao Brasil.
A agenda do ministro Steinmeier no Brasil começou com a inauguração da exposição "Arte e Futebol", com trabalhos de 30 artistas brasileiros, alemães e de outros países, organizada pelo Instituto Goethe no Centro Cultural do Banco do Brasil do Rio de Janeiro, com a participação do ministro da Cultura, Gilberto Gil.
Ao abrir a mostra, Steinmeier comentou que o Brasil seria o país certo para tal exposição: "Não existe um outro país no mundo onde o futebol é tão venerado como no Brasil". No Rio de Janeiro, o ministro encontrou-se ainda com a governadora do Estado, Rosinha Garotinho, e visitou a escola Padre Francisco da Mota, co-financiada com recursos alemães e freqüentada por mais de mil crianças cariocas.
Na tarde de quinta-feira, o ministro Steinmeier seguiu para Brasília, onde encontrou-se rapidamente com o presidente Lula, de volta de seu encontro com os outros presidentes sul-americanos, para tratar da nacionalização do petróleo e do gás na Bolívia.
Após a abertura da Reunião do Conselho de Comércio, na manhã de sexta-feira (05/05), ele se encontra com o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, encerrando sua visita à América do Sul, após o almoço e a conferência de imprensa com seu colega de pasta brasileiro.
Volkswagen e União Européia
O Brasil conta com o maior parque industrial alemão dos países em desenvolvimento, com um volume de intercâmbio comercial que chegou a 11 bilhões de dólares em 2005, sendo o parceiro comercial alemão mais importante da América Latina.
A chegada de Steinmeier ao Brasil coincide com o anúncio do plano de reestruturação da Volkswagen, que implica o provável corte de milhares de empregos e eventualmente até o fechamento de uma das suas cinco fábricas no país.
Martin Traine, cientista político do Centro de Ensino e Pesquisa para a América Latina da Universidade de Colônia, vê uma possível correlação entre o anúncio da Volkswagen e a chegada de Steinmeier ao Brasil.
Em entrevista à DW-WORLD, o cientista político Martin Traine afirmou não esperar, entretanto, que a visita de Steinmeier implique em decisões importantes para as relações bilaterais Brasil-Alemanha, já que a política alemã em relação à América Latina estaria diretamente ligada à tomada de decisões da União Européia.
Subvenções e neopopulismo
A política da União Européia para a África e América Latina ainda não está definida, a não ser quanto à consolidação da democracia, opina Traine. A Alemanha, apesar de muito importante economicamente, ainda não é influente o suficiente para agir de forma independente na política internacional.
Martin Traine salienta também que, ainda que Steinmeier seja um importante membro do novo governo da Alemanha, sua visita acontece seis meses após a posse do novo governo. Até agora não está planejada visita de Merkel à América do Sul.
O cientista político vê uma certa hierarquia nas visitas feitas por Steinmeier à América do Sul: primeiro ao Chile, depois à Argentina e por último ao Brasil. Ele considera que, atualmente, em temas como energia nuclear e subvenção agrícola, Brasil e Alemanha têm poucos pontos em comum para consolidar uma base para maior cooperação.
Quanto ao neopopulismo crescente no continente sul-americano, Martin Traine afirma que ele faz parte de um fenômeno mundial, cujos contornos são mais liberais do que marxistas. Por conta deste fenômeno, ele não prevê uma mudança de paradigma na política externa européia em relação à América Latina. A não ser em países como a Espanha, cujas empresas, bastante presentes no continente, estariam diretamente afetadas por qualquer tipo de nacionalização.
União Européia, América Latina e Caribe
A viagem de Steinmeier à América Latina também serviu de preparação para a cúpula União Européia, América Latina e Caribe, a ocorrer de 11 a 13 de maio em Viena, na presença de 60 chefes de Estado e de governo da Europa e da América Latina.
Além disso, de 8 a 11 julho, será realizado em Berlim o Encontro Econômico Brasil-Alemanha, um importante foro nas relações bilaterais entre os dois países.
Durante sua viagem, o ministro Steinmeier fez um apelo para que a América Latina volte a se tornar foco dos interesses econômicos europeus. Além disso, ele afirmou esperar um avanço das negociações entre a Europa e o Mercosul no encontro a ser realizado na próxima semana em Viena.