Crise na Síria
25 de novembro de 2011Pelo menos 3.500 mortos, dezenas de milhares de feridos e mais de 30 mil prisioneiros políticos. Este é o balanço provisório das revoltas na Síria. Desde março, há manifestações por todo o país contra o regime de Bashar al Assad e seu partido Baath. Os descontentes exigem democracia, participação no poder, um governo melhor e liberdade. Mas há meses os protestos são reprimidos pelas forças de segurança de forma sangrenta, manifestantes são presos, torturados e mortos.
Para Gunter Mulack, ex-embaixador alemão na Síria, uma coisa é certa: Assad não é mais sustentável. O presidente da Síria passou dos limites com a perseguição implacável à oposição em seu país, afirmou o diplomata em uma conferência do Instituto Alemão do Oriente e da Fundação Konrad Adenauer, em Berlim. Mesmo a vizinha Turquia, que fez grandes esforços para conversar com a Síria, já desistiu.
Assad tomou posse prometendo mudança
Entretanto, a gestão de Assad, que há 11 anos sucedeu o pai Hafez al Assad, começou de forma bastante esperançosa, acompanhada por expectativas de uma abertura da Síria. Em seu discurso inaugural em junho de 2000, o então médico oftalmologista de 35 anos de idade disse que queria ser um presidente mais perto de seu povo. E convocou a população de seu país para transformar a Síria.
Mas quando os intelectuais na capital, Damasco, levaram esta chamada a sério e fundaram clubes de debates e salões políticos, o jovem presidente, ainda cercado pelo círculo de poder estabelecido por seu pai, oprimiu esses primeiros sinais de mudança democrática. considerada pelo filósofo sírio Sadiq al Azm como um ensaio geral para a "Primavera Árabe", essa breve “Primavera de Damasco”, nos primeiros meses do governo Assad, chegou rápido ao fim: o regime respondeu com repressão e perseguição aos oposicionistas.
Na política externa, a Síria caiu no isolamento, sói atenuado em 2008, quando o Ocidente começou a se abrir para o país. Esses dez anos de governo Assad foram uma década de oportunidades perdidas, afirma Carsten Wieland, especialista em estudos islâmicos e em Síria. “Hoje, o país está isolado, e Assad está de costas para a parede. Há pouca chance de que o conflito com o movimento democrático termine pacificamente.
Três cenários possíveis
O especialista em assuntos sírios Nikolaos van Dam vê três cenários possíveis para o futuro do país. Um primeiro seria o golpe militar contra Assad e o partido Baath, pondo fim ao derramamento de sangue. Mas não são grandes as chances de que tal coisa aconteça, reconhece Van Dam. Pois para os potenciais líderes de um golpe os riscos seriam muito altos. A inteligência onipresente iria descobrir rapidamente uma conspiração contra o regime e matar os conspiradores.
Uma segunda possibilidade poderia ser a continuação do atual regime, caso ele se abra para reformas. Seria um governo Assad, porém menos ditatorial e mais democrático. Em tal cenário, mesmo uma renúncia do presidente não seria descartada, caso ele e os líderes do regime tivessem garantias de imunidade e talvez mesmo de asilo político no exterior. “Isso, no entanto, dependeria de um diálogo com a oposição, um diálogo que não é muito provável”, acrescenta o expert.
O terceiro cenário possível – atualmente considerado o mais provável pela maioria dos observadores – é o agravamento dos atuais protestos em direção a uma guerra civil. “Este seria um cenário desastroso e sangrento, que ninguém pode desejar. Muitas pessoas sofreriam, e a Síria teria um retrocesso enorme, com prejuízos que repercutiriam por gerações. Também os países vizinhos poderiam ser afetados", alerta o ex-diplomata holandês e autor de uma obra de referência sobre a Síria, que acaba de ser reeditada.
Nikolaos van Dam prefere o segundo cenário. Isto significaria que os países ocidentais não deveriam ameaçar a Síria com sanções e intervenção, mas sim buscar o diálogo com Assad. Se ele e sua família tivessem a chance de permanecer impunes e ir para o exílio, poderia se encontra uma saída que pusesse fim ao derramamento de sangue na Síria e evitasse a eclosão de uma guerra civil.
Este é um cenário semelhante ao que está sendo tentado agora no Iêmen, onde Ali Abdullah Saleh renunciou ao cargo de presidente, recebendo, em troca, imunidade jurídica para si e sua família.
Oposição exige justiça
Contudo quase ninguém na oposição síria apoia tal cenário. Os manifestantes, que se rebelam contra o regime há meses, e a oposição no exterior exigem justiça e reparação pela injustiça sofrida. Hozan Ibrahim, que vive na Alemanha como refugiado do regime Assad, é membro do círculo de liderança Conselho Nacional Sírio, um grupo de oposição fundado no exílio em junho passado. Ele considera impossível um acordo com o regime em Damasco.
"Depois de mais de 3.500 mortos, incluindo mais de 200 crianças, já não podemos mais falar de uma transição pacífica para a democracia", diz. A oposição está pronta para um diálogo, mas pede uma condição fundamental: Assad deve suspender imediata e totalmente a violência contra a oposição.
Para Ammar Abdulhamid, ativista de direitos humanos da Síria que vive há seis anos em Washington, essa reivindicação não tem a menor chance. Ele pede, ao invés disso, uma intervenção estrangeira. A Otan deve apoiar os rebeldes e colocar um fim aos ataques do regime. Do contrário, a Síria corre o risco de entrar em uma guerra civil durando anos, como ocorreu no Líbano nas décadas de 70 e 80.
Autora: Bettina Marx (md)
Revisão: Augusto Valente