Após acordo de paz, violência continua no leste da Ucrânia
13 de fevereiro de 2015Um dia após o acordo entre o governo da Ucrânia e rebeldes separatistas por um cessar-fogo, que passará a valer a partir da primeira hora do próximo domingo (15/02), o clima ainda é de desconfiança sobre a chance real de, desta vez, as armas serem silenciadas no leste ucraniano. A violência continua intensa na região, com pelo menos 20 mortos e 19 feridos desde a assinatura do acordo. Entre os mortos estão dez civis, sendo três crianças.
Segundo os rebeldes, pesados ataques de artilharia prosseguem nas cidades de Donetsk, Horlivka e Lugansk. As Forças Armadas ucranianas afirmam que oito soldados morreram e 34 ficaram feridos na zona de conflito. Mesmo após 17 horas de negociações em Minsk, militares dizem que na madrugada desta sexta-feira os ataques mantiveram "a mesma intensidade de antes".
Em Debaltsevo, os embates vêm ganhando contornos cada vez mais violentos. Estratégica por servir de ligação ferroviária entre as bases rebeldes de Donetsk e Lugansk, a cidade, mantida sob controle governista, é alvo constante de artilharia e de foguetes lançados do lado separatista. Milhares deixaram suas casas em busca de um lugar seguro.
Poroshenko cético
Nesta sexta-feira, o presidente ucraniano, Petro Poroshenko, admitiu que o país ainda está longe da paz. Em tom melancólico, ele afirmou não haver garantias que o acordo de cessar-fogo assinado um dia antes na capital de Belarus terá algum efeito.
"Não quero que ninguém tenha ilusões, tampouco quero parecer ingênuo. Ainda estamos muito longe da paz por aqui", afirmou Poroshenko durante visita a uma área de treinamento militar. "Ninguém acredita firmemente que as condições para a paz assinadas em Minsk serão estritamente implementadas."
Já Dimitry Peskov, porta-voz do presidente, Vladimir Putin, afirmou nesta sexta-feira que o Kremlin espera que todas as partes cumpram o acordo assinado "em alto nível" em Minsk. Segundo ele, Putin e Poroshenko, além da chanceler federal alemã, Angela Merkel, e do presidente francês, François Hollande, voltarão a se falar por telefone no domingo, primeiro dia de validade do cessar-fogo.
O Kremlin diz ainda que a Rússia quer um fim imediato das hostilidades, e que o prazo de domingo de manhã foi acertado por pressão dos líderes rebeldes. Citado pelo jornal econômico Kommersant, o porta-voz de Putin afirmou que 15 de fevereiro foi escolhido "de acordo com a vontade dos separatistas", devido à dificuldade de "conseguir efetivamente um cessar simultâneo".
Os rebeldes "expressaram ativamente suas exigências, que tivemos de ouvir", disse Peskov, ressaltando que Putin "se esforçou bastante para persuadir os rebeldes a assinar o documento".
Na quinta-feira, Putin disse que as conversações se tinham prolongado porque Kiev se recusou a falar com os rebeldes diretamente.
Possíveis sanções
A União Europeia anunciou na quinta-feira que prepara novas sanções a Moscou para o caso de o cessar-fogo não ser respeitado.
"Se houver dificuldades, nós não descartamos novas sanções", afirmou a chanceler federal alemã, Angela Merkel, durante a cúpula da UE em Bruxelas.
Após a maratona de negociações em Minsk, Merkel comentou que o pacto representa nada mais que um "raio de esperança" e destacou que ainda haverá "grandes obstáculos" na busca pela paz na Ucrânia.
Hollande, que juntamente com Merkel intermediou as negociações em Minsk, saiu do encontro desaconselhando um otimismo excessivo. Segundo ele, a assinatura do acordo não garante seu sucesso duradouro.
Na manhã de quinta-feira, após uma maratona de conversas que se estenderam durante toda a madrugada, Putin, Poroshenko, Hollande e Merkel, além de líderes separatistas pró-Rússia, anunciaram terem chegado a um acordo sobre a retirada de armas pesadas da fronteira da Ucrânia e para um cessar-fogo, que começará a valer na madrugada de sábado para domingo.
Em uma declaração conjunta distribuída pelo Kremlin, os líderes comprometem-se a respeitar a soberania ucraniana e a integridade territorial do país. Eles também concordam em participar de encontros regulares para garantir que os pontos do acordo assinado na quinta-feira sejam cumpridos.
MSB/rtr/dpa/lusa/ap