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Apesar da derrota, Frente Nacional mostra força

Erin Conroy de Paris
8 de maio de 2017

Muitos franceses se dizem surpresos com o apoio sem precedentes aos populistas de direita: foram mais de 11 milhões de votos para o partido de Le Pen. "Talvez ela tenha perdido a batalha, mas não a guerra", diz analista.

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Frankreich - Wahlkampf: Anti-Marine Le Pen Plakat in der Innenstadt Paris
Cartaz contra Marine Le Pen nas ruas de ParisFoto: DW/B. Riegert

Os eleitores em Paris demonstraram pouca surpresa com a vitória neste domingo (07/05) do ex-banqueiro e tecnocrata Emmanuel Macron, no segundo turno das eleições presidenciais francesas, contra Marine Le Pen da Frente Nacional.

Ainda assim, muitos viram com preocupação que a populista de direita tenha conseguido conquistar cerca de 35% dos votos, mesmo sem o apoio dos principais partidos à direita e à esquerda, que deram seu voto ao centrista Macron. O apoio à Frente Nacional foi sem precedentes e confirma os progressos constantes feitos pelos populistas nas eleições locais e nacionais.

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A parcela de votos de Le Pen foi quase o dobro da obtida por seu pai, Jean-Marie, na eleição de 2002, a outra vez que a Frente Nacional conseguiu chegar ao segundo turno.

"Ela não venceu, mas [o resultado] diz muito sobre a força da maré populista na França", analisa Alain Leroy, gerente de negócios em Paris. "Acho que isso provoca arrepios em muita gente no país".

Le Pen se beneficiou do mais baixo comparecimento dos eleitores desde 1969 (75%) e de um grande número de votos brancos ou nulos – cerca de 8% do total. Esse fenômeno se explica pelo fato de que muitos eleitores estavam insatisfeitos com as duas opções, após os candidatos de sua preferência serem eliminados no primeiro turno, há duas semanas. O candidato da extrema esquerda, Jean-Luc Mélenchon, que perdeu por uma pequena margem de votos, se recusou a pedir o apoio de seus eleitores a Macron na reta final das eleições.

"Essa acabou sendo uma grande derrota para Marine Le Pen, já que ela tinha muitas esperanças de atingir os 40% dos votos ou mais", diz Thomas Vitiello, do Centro de Pesquisas Políticas Sciences Po.

"Mas, se observarmos de modo mais amplo, isso foi um avanço para ela. A cada eleição, seu partido demonstra uma dinâmica eleitoral positiva. Talvez ela tenha perdido a batalha, mas não a guerra. Acho, porém, que muitas pessoas não quiseram dar um grande salto com alguém que é vista como uma candidata despreparada num partido político despreparada".

Debate abalou candidata

O ponto crítico, segundo o especialista do Sciences Po, foi o brutal debate presidencial na semana que antecedeu a votação, que incluiu troca de insultos, punhos erguidos e dedos em riste, deixando chocados em alguns momentos tanto o público quanto os moderadores. Le Pen tentou pintar Macron como um capitalista sem coração, enquanto ele repetidamente pedia que ela parasse de mentir e de dizer "coisas estúpidas".

"Ela deu a impressão aos eleitores de ser muito agressiva e incompetente, enquanto ele manteve suas posições, e acho que foi isso que abalou o ímpeto de sua campanha", afirma Vitiello.

Gilles Dorronsoro, professor em Paris, havia dito no domingo que, em sua opinião, o debate minimizou as chances de Le Pen, que segundo ele, "foi muito violenta e se mostrou disposta a utilizar notícias falsas". "No final, as pessoas estavam, acho, um pouco desconfiadas, e ela perdeu credibilidade."

Um vazamento de emails da campanha de Macron menos de 48 antes do início da votação não pareceu ter grande impacto nas eleições. Pouco antes do início do prazo em que os candidatos ficariam proibidos de fazer declarações, a equipe do centrista informou que documentos falsos estavam misturados a outros verdadeiros com o intuito de "disseminar dúvidas e desinformação".

Durante a campanha, seu partido, o Em Marcha, afirmou ter sido vítima de vários ataques cibernéticos, acusando grupos apoiados por Moscou que seriam a favor de Le Pen. 

Mudanças no partido

Os mercados financeiros projetavam ganhos com a vitória de um candidato a favor dos negócios e da União Europeia (UE). Le Pen prometia fazer com que a França deixasse a UE e a zona do euro, apesar de às vezes retroceder desses pontos de vista em razão do baixo apoio entre os eleitores a essas questões.

Macron agradece os franceses pela campanha vitoriosa

E, para muitos analistas, foi justamente sua insistência no discurso eurocético que custou votos a Le Pen. No domingo, quando a notícia da derrota emergiu, a líder de extrema direita, de 48 anos, afirmou que a Frente Nacional vai precisar passar por uma renovação profunda.

"Eu vou propor iniciar esta profunda transformação de nosso movimento para criar uma nova força política", discursou aos seguidores. Não está claro, porém, que impacto a reformulação teria nas políticas do partido.

Florian Philippot, um dos vice-presidentes do partido, sugeriu que a legenda poderá deixar de se chamar Frente Nacional, seu nome durante mais de quatro décadas. O nome é conhecido na França e no exterior, mas, em sua visão, muito associado a Jean-Marie, famoso por incitar o ódio racial.

No momento, a Frente Nacional tem uma base leal, porém apenas dois assentos na Assembleia Nacional. Segundo pesquisas, o partido deve obter entre 15 e 25 cadeiras no pleito legislativo de junho – espera-se que o movimento de Macron saia como a maior bancada, seguido dos republicanos.

Leila Amzoug, uma banqueira de Paris, acredita ser possível que o eleitorado mantenha o apoio a Macron. "É bom que tenhamos agora um rosto jovem e uma nova visão", diz. "Talvez seja difícil para ele em alguns momentos porque seu partido é muito novo, mas as pessoas sabem que é melhor não paralisar o governo francês. Essa eleição deixou a França numa encruzilhada, mas as pessoas sabem em que direção seguir."

Outros, porém, já não são tão otimistas. "É bom que conseguimos evitar cinco anos de Le Pen, mas ainda há muito trabalho pela frente", afirma Alexander Martin, gerente de vendas. "Não será fácil para o Macron, já que ele foi eleito por que as pessoas claramente não queriam que o país fosse governado pela Frente Nacional. Meu medo é que ele terá muita pressão sobre seus ombros, e principalmente, todos os outros partidos políticos vão lutar contra cada decisão sua."