Aplausos e vaias para nova montagem do "Anel" em Bayreuth
2 de agosto de 2006"Completada em Wahnfried, em 21 de novembro de 1874. Não tenho mais nada a dizer!!", escreveu Richard Wagner, na última página da composição de Crepúsculo dos Deuses.
O compositor podia não ter mais nada a dizer, mas os críticos e os apreciadores de Wagner têm muito o que desabafar, mesmo 130 anos depois do primeiro Festival Bayreuth e da estréia do ciclo O Anel do Nibelungo.
As opiniões estavam bem divididas quando a primeira apresentação completa do ciclo se encerrou na segunda-feira (31/07), e na Colina Verde se ouviram tanto vaias quanto aplausos. "Agora, questiona-se se [o diretor Tankred Dorst] em algum momento procurou desenvolver uma interpretação de O Anel , ou se sua inspiração em Wagner se esgotou após apenas alguns pensamentos decorativos", consta em crítica no jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung.
Dois anos são pouco para quatro óperas
O dramaturgo de 80 anos Tankred Dorst concordou em criar uma nova montagem da maratonística obra-prima de Wagner apenas há dois anos, pouco tempo para polir as ásperas extremidades e experimentar novas idéias. O resultado foi falta de "conclusividade dramatúrgica" e de "caracterização bem elaborada", escreveu um crítico.
Em entrevista à agência de notícias AP, após a apresentação de apenas O Ouro do Reno e Valquíria, Dorst atribuiu aos cantores a responsabilidade pelo desenvolvimento pouco perfeito dos personagens. "Eu encorajei os cantores a personificar eles mesmos seus papéis", disse. "Mas nem todos têm o talento para isso."
No entanto, a alta qualidade do canto "geralmente contribuiu para que Siegfried contrabalançasse o desapontamento de uma produção desesperadora", continuou a crítica do Frankfurter Allgemeine Zeitung, referindo-se à terceira ópera no ciclo.
O tenor nascido na Virgínia Stephen Gould lutou contra o nervosismo no início, de acordo com várias fontes, mas conseguiu se recuperar com uma performance, em geral, convincente como Siegfried.
Em contraste com a última montagem de O Anel, de Jürgen Flimm, em 2000, Dorst optou contra pesadas mensagens sociais e políticas. O problema foi, de acordo com os críticos, que ele não conseguiu transmitir nenhuma mensagem convincente.
Thielemann em posição privilegiada
O favorito unânimo em Bayreuth, esta semana, não estava nem no palco, nem atrás. O regente Christian Thielemann estava em baixo do palco, onde tinha ventilação extra instalada em função das temperaturas de uma das mais quentes semanas alemãs.
O berlinense Thielemann, um dos mais solicitados regentes de óperas desde o início dos anos 90, é um veterano em Bayreuth, tendo regido Tannhäuser, Os Mestres Cantores de Nurembergue, Parsifal e a Nona Sinfonia de Beethoven, em anos anteriores.
O maestro de 47 anos tinha provavelmente o melhor lugar na casa de espetáculo, considerando a temperatura acima dos 30ºC. Os apreciadores sérios de Wagner chegaram ao festival, como de praxe, em ternos ou vestidos de gala – não a melhor opção de roupa para o estreito e abafado teatro, totalmente lotado com 2 mil espectadores.
Outra chance é aguardada
A onda de calor vai passar, e Dorst terá a oportunidade de revisar sua montagem de O Anel antes da reapresentação no próximo ano. Esta é a vantagem do festival no estilo workshop, onde novas produções são apresentadas por três a cinco temporadas.
Dorst disse que apenas pôde implementar 70 a 80 por cento de suas idéias originais na sua produção final, quer por limites de tempo quer por conflitos com a diretoria autoritária do festival. Como disse à AP que não quer se dedicar a uma nova montagem, resta esperar para ver se estará motivado a aprimorar esta, deixando mais convincente o confronto do humano com o divino.
O Anel será apresentado na íntegra mais duas vezes durante o Festival Wagner de 2006, que vai até 28 de agosto.