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Aplicativo indica cosméticos com substâncias que podem alterar hormônios

Clarissa Neher30 de julho de 2013

Mais de 18 mil produtos de higiene vendidos na Alemanha possuem substância que podem causar alterações hormonais. O aplicativo ToxFox facilita a identificação desses produtos para o consumidor.

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Foto: BUND e.V.

Uma nova ferramenta digital ajuda o consumidor a decifrar os rótulos de produtos de higiene. O aplicativo Tox Fox, desenvolvido pela Federação para Meio Ambiente e Proteção da Natureza da Alemanha (Bund, na sigla em alemão), indica a presença de substâncias que podem causar alterações hormonais.

O aplicativo foi criado a partir de um estudo feito com mais de 60 mil produtos de higiene, entre pastas de dente, xampus, sabonetes, cremes e artigos de maquiagens vendidos na Alemanha. Por meio da leitura do código de barras, o app indica se aquele produto possui alguma substância que pode agir como hormônio.

"Muitos produtos possuem substâncias com efeito endocrinológico e para o consumidor é difícil saber quais são elas. Os componentes utilizados na fabricação estão escritos nas embalagens, mas quem pode lembrar o que são esses nomes químicos?”, conta à DW Brasil Jurek Vengels, pesquisador da Bund, que faz parte da rede de ONGs Friends of the Earth. O aplicativo responde essa pergunta rapidamente.

A pesquisa apontou que cerca de 30% dos produtos analisados – ou seja, mais de 18 mil – possuíam alguma substância que age como hormônio. Os componentes são liberados para uso em comésticos pela legislação europeia, mas especialistas suspeitam que eles estejam associados com o aparecimento de doenças de origem hormonal.

Na lista suspeita

Dentre os produtos de higiene, quinze elementos químicos foram identificados com esse poder. Eles são empregados, principalmente, como conservante e filtro UV. A empresa que mais faz uso dessas substâncias é a Beiersdorf, fabricante das marcas Nivea e Eucerin. Em 46% de seus produtos foram detectados elementos com efeitos endocrinológicos.

ToxFox App Pressebild
Mais de 100 mil downloads em uma semanaFoto: BUND e.V.

Consultada pela DW Brasil, a empresa rebateu o relatório da Bund. Por meio de um comunicado, a Beiersdorf afirmou que não foram apresentados dados científicos novos, além de alegar que as advertências da federação não têm fundamento. A empresa lembra que a legislação alemã permite o uso das substâncias criticadas e admite utilizar parabeno em produtos de beleza, além de produzir filtros solares com substâncias químicas apontadas como suspeitas pelo relatório.

Segundo a empresa, ambos não apresentam riscos e são essenciais para a qualidade e segurança dos consumidores, fato comprovado por vários testes e estudos. "Uma quantidade muito pequena dessas substâncias entra em contato com o corpo. Dessa maneira, mesmo com o uso constante de diversos produtos, não é possível ocorrer uma atividade hormonal relevante", afirma o comunicado.

Efeitos nocivos

A pesquisa afirma que existem cerca de 550 substâncias químicas suspeitas de agirem como hormônios. Grande parte delas é encontrada em produtos utilizados diariamente, como cosméticos, e também em pesticidas e aditivos usados em embalagens.

Um relatório da Organização Mundial de Sáude (OMS) publicado no início do ano apontou que substâncias conhecidas como químicos com efeitos endocrinológicos podem alterar o funcionamento do sistema hormonal.

Bildergalerie Rapex Gefährliche Produkte Kosmetika
Parabeno é utilizado como conservanteFoto: Fotolia

O órgão associou a exposição a esses elementos com a redução da quantidade e qualidade dos espermatozóides, aceleração da puberdade em meninas, aparecimento de doenças – como câncer de mama, próstata e disfunção da tireóide –, além de déficit de atenção e hiperatividade em crianças.

A OMS também acrescentou que são necessárias avaliações mais abrangentes e melhores métodos de teste para redução dos riscos de doenças. "Nós precisamos de mais estudos para obter uma imagem mais completa do impacto dos químicos com efeitos endocrinológicos na saúde e no meio ambiente", afirmou Maria Neira, diretora para saúde pública e meio ambiente da OMS.

O estudo mostra que esses materiais sintéticos atuam de forma parecida com os hormônios corporais, podendo interferir em processos de desenvolvimento. Algumas dessas substâncias agem como os hormônios sexuais femininos e masculinos. Também são conhecidos efeitos no sistema hormonal da tireóide.

Uma semana no ar

O aplicativo está disponível há uma semana e já contabiliza mais de 100 mil downloads. Segundo a Bund, a ferramenta até agora foi usada para verificar mais de 2 milhões de produtos.

O ToxFox possui também uma função que permite ao usuário enviar mensagens de protesto para os fabricantes. Os e-mails seguem diretamente para as empresas. "Queremos que os fabricantes parem de usar esses elementos. Esperamos que, ao receber essas mensagens, eles reajam e mudem a fórmula de seus produtos", diz Vengels.

O aplicativo está disponível em alemão e funciona somente na Alemanha, com exceção para os produtos analisados vendidos em outros países com o mesmo código de barras. "Ficaríamos felizes se organizações de outros países também desenvolvessem aplicativos como o ToxFox. Estamos abertos a ajudar quem tiver interesse", diz Vengels.