Apocalipse destruiu paraíso
29 de dezembro de 2004Três dias após o maremoto, as informações vindas das regiões destruídas no Sudeste Asiático assemelham-se à descrição do apocalipse. "Morte no paraíso", "Número de vítimas aumenta de forma dramática", "Notícias do horror não têm fim", "Só um milagre pode salvar desaparecidos" e "Pior catástrofe do século" são algumas das manchetes da mídia internacional. Engana-se quem pensa que as "notícias do horror" não passam de sensacionalismo – elas são confirmadas por sobreviventes que voltam à Europa.
"Por que esta catástrofe natural nos parece ser tão diferente de outras, nos comove tanto, enquanto esquecemos imediatamente outras tragédias, como as dezenas de milhares de mortos dos terremotos do Irã e da Turquia?", pergunta o editorialista do jornal La Stampa, da Itália.
"Não é porque foi fruto de uma excecão geológica nem pelo elevado número de vítimas que causou e, sim, porque atingiu em cheio um dos aspectos mais inovadores do nosso moderno estilo de vida: o de um turismo global, que supera diferenças econômicas e culturais. Muitos pensavam que esse turismo poderia prestar uma contribuição decisiva para diminuir a injustiça no mundo", responde.
Os tsunamis abalaram esse sonho e deixaram um rastro de destruição e sofrimento que não cabe em palavras. Os números divulgados nesta quarta-feira (29/12) assustam: até 80 mil mortos nos países atingidos, meio milhão de feridos só na Ilha de Sumatra. Diante desse quadro, a morte de 500 estrangeiros e o desaparecimento de mil alemães na Tailândia – confirmado pelo chanceler federal Gerhard Schröder – se tornam relativos, por mais que doam aos familiares.
Números não traduzem a dor da perda
As estatísticas da catástrofe são corrigidas a cada minuto. Estimativas oficiais dão conta de que morreram até 40 mil pessoas na Indonésia, 22 mil no Sri Lanka, 17 mil na Índia, cerca de 1,6 mil na Tailândia. Dependendo do que aconteceu com os desaparecidos, o número de vítimas fatais pode chegar a 100 mil. A Organização Mundial da Saúde (OMS) teme uma duplicação dessa cifra em função de epidemias. Além disso, calcula-se que há milhões de feridos e desabrigados.
Ajuda exemplar
Nos aeroportos da Alemanha, continuam chegando vôos especiais de resgate dos milhares de turistas alemães que estavam passando as férias de fim de ano nos balneários turísticos do Sudeste Asiático. Aliviados, os sobreviventes da tragédia não poupam elogios aos primeiros socorros que receberam da população e das autoridades locais.
"Os tailandeses ajudaram de forma rápida e profissional. Recebemos o melhor cuidado possível", disse Helmut Herrmann, de Graz, na Áustria. "Eles me deram até ajuda em dinheiro", acrescentou uma turista de Munique. A atuação das operadoras de turismo e das companhias aéreas alemãs também foi elogiada. "Senti falta de um apoio semelhante por parte das autoridades alemãs. Só ouvi que a Força Aérea resgatou o ex-chanceler federal Helmut Kohl no Sri Lanka", disse Fritz Öttinger, de Ingolstadt.
Os hospitais tailandeses divulgam em murais e na internet listas de estrangeiros feridos que se encontram internados. O governo da Tailândia também instalou várias linhas telefônicas diretas para o auxílio às vítimas nos balneários turísticos destruídos. Na praia de Khao Lak, por exemplo, até agora só foram resgatados com vida 185 dos 415 hóspedes (70% alemães) do luxuoso hotel Magic Lagoon. Ali e em outros balneários, muitos turistas continuam procurando familiares e parentes desparecidos, enquanto os mortos são enterrados às pressas em valas comuns para evitar uma epidemia.
Solidariedade internacional
A Organização das Nações Unidas (ONU), que coordena a "maior campanha de ajuda humanitária da história", elogiou a solidariedade demonstrada pela comunidade internacional. Governos de todo o mundo prometeram doar mais de 100 milhões de euros a título de ajuda de emergência às vítimas da catástrofe. Os maiores doadores são o Japão e a União Européia (cada qual com 30 milhões de euros). A Alemanha liberou três milhões de euros. As igrejas e principais organizações filantrópicas alemãs realizam campanhas especiais de auxílio às vítimas e já enviaram equipes de apoio para o Sudeste Asiático.
A distribuição da ajuda humanitária é difícil devido à destruição da infra-estrutura das regiões devastadas. No Sri Lanka, a situação é agravada pela guerra civil, que já dura mais de 20 anos, informou o governo francês, que coordena a ajuda no país. O governo da Índia rejeitou a ajuda internacional, dizendo que o país tem meios suficientes para resolver o problema.
Rever a política de desenvolvimento
O maremoto não só causou milhares de vítimas como destruiu projetos de desenvolvimento apoiados por agências internacionais nos países asiáticos. "Vai demorar uns cinco a seis anos até voltarmos ao patamar em que nos encontrávamos antes da catástrofe", disse o vice-ministro alemão da Cooperação Econômica, Erich Stather. "O primeiro passo, agora, é novamente garantir uma moradia para os desabrigados, reconstruir a infra-estrutura e instalar um sistema de alerta para tsunamis. O governo terá de fazer um plano geral de ajuda à região, considerando as características de cada país", disse.