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Apoio alemão à Ucrânia na mira dos populistas

7 de setembro de 2024

Partidos populistas de direita e esquerda, que se destacaram nas eleições no leste alemão, são contra envio de armas, o que impõe desafios ao governo federal que prometeu defender Kiev "pelo tempo que for necessário".

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Chanceler Olaf Scholz passa em frente a um tanque de guerra em uma fábrica
Apoio do governo do chanceler Olaf Scholz à Ucrânia jamais foi tão criticado desde o início da guerraFoto: Fabian Bimmer/Getty Images

"Apoiamos a Ucrânia em sua resistência à guerra de agressão da Rússia. Obviamente, continuaremos a fazê-lo", disse um porta-voz do governo alemão após o resultado das recentes eleições nos estados da Turíngia e Saxônia, onde as legendas populistas de direita e de esquerda receberam votações expressivas.

Mas seria isso tão "óbvio" após o sucesso eleitoral da Alternativa para Alemanha (AfD) e da Aliança Sahra Wagenknecht (BSW) no leste do país? Trata-se de dois partidos que defendem o fim do apoio militar à Ucrânia e a melhora das relações com a Rússia.

Apesar de as decisões em política externa não serem tomadas em nível estadual, o apoio alemão à Ucrânia se tornou um dos temas da campanha eleitoral nos estados do leste.

A esquerdista Sahra Wagenknecht fez da votação uma escolha entre a guerra e a paz. O líder da AfD na Turíngia, Björn Höcke, chegou a afirmar que "essas eleições no leste também decidirão se esse país deixa o caminho da guerra ou se continua rumo a uma escalada".

Algumas estatísticas refletem as dimensões do problema que o governo federal alemão vem enfrentando, principalmente no leste do país, apesar de o chanceler federal, Olaf Scholz, garantir que Berlim apoiará Kiev "pelo tempo que for necessário".

Medo de uma ampliação da guerra

Segundo a edição de 2024 do Relatório Allensbach de Segurança, 76% dos entrevistados no leste do país temem que a Alemanha acabe sendo arrastada para um conflito militar. Em contraste, apenas 44% das pessoas no oeste alemão expressam esse mesmo sentimento.

Uma pesquisa divulgada em julho pelo instituto Infratest Dimap afirma que 36% dos respondentes em todo o país avaliam que o envio de armamentos para a Ucrânia por parte da Alemanha já teria ido "longe demais". No leste, 50% pensam dessa forma.

"Muitos no leste temem uma escalada da guerra através do envio de armas", explica Katja Hoyer, uma historiadora natural de Brandemburgo, também no leste alemão, que vive agora no Reino Unido.

"Nas últimas semanas, ouvi vez após vez o argumento de que a Rússia, de qualquer forma, não poderá ser derrotada, e que o futuro apoio à Ucrânia seria somente uma provocação desnecessária que iria prolongar a guerra".

Em email à DW, Hoyer diz acreditar que essa perspectiva teria origem nas experiências vividas na antiga Alemanha Oriental, sob o jugo soviético. "A União Soviética era uma das duas potências mundiais. A reverência que muitos no leste sentiam pelo Estado soviético foi transferida para Rússia atual – não tanto para o Ocidente." Além disso, a opinião das pessoas do leste do país sobre a União Soviética não era totalmente negativa.

"As duas ramificações do Kremlin"

O governador da Saxônia, Michael Kretschmer, ecoou esse sentimento durante a campanha eleitoral deste ano e defendeu um "congelamento" da guerra na Ucrânia. Esse posicionamento gerou críticas de dentro de seu partido, a conservadora União Democrata Cristã (CDU), a maior sigla de oposição no Bundestag (Parlamento), na qual muitos veem as posições de Kretschmer em relação à guerra como uma traição à Ucrânia.

O analista político Roderich Kiesewetter avalia que a CDU se deixou pressionar pelo que chamou de "as duas ramificações do Kremlin", se referindo à AfD e BSW.

Em email à DW, ele afirmou que "um 'congelamento' no conflito resultaria em crimes de guerra massivos nos territórios ocupados e no envio de soldados dos países do Ocidente para reforçar as linhas de frente. Serviria como um modelo para outros países agressivos e resultaria em milhões de refugiados a mais e pessoas deslocadas que terão de fugir para a Alemanha e para a Europa Ocidental." Kiesewetter atribui a perspectiva no leste alemão à "romantização da Rússia, distorção da história e antiamericanismo".

Carro alegórico do carnaval alemão mostra Putin conduzindo as líderes da AfD, Alice Weidel, e da BSW, Sahra Wagenknecht
Carro alegórico do carnaval alemão mostra Putin conduzindo as líderes da AfD, Alice Weidel, e da BSW, Sahra WagenknechtFoto: Michael Probst/AP/picture alliance

Mesmo assim, Kretschmer conseguiu encontrar ressonância em meio aos eleitores da Saxônia. Em parte, provavelmente, em razão de suas críticas ao apoio à Ucrânia, a CDU superou por margem bastante apertada a AfD, um partido que não tem escrúpulos ao torcer abertamente por um triunfo russo na guerra.

"Teste de resistência" para a CDU

Na futuras negociações para formar coalizões de governo na Saxônia e na Turíngia, a pergunta "qual é a sua posição sobre o apoio à Ucrânia?" poderá ter consequências concretas. Nos dois estados, há uma boa chance de que a CDU lidere o próximo governo. Os conservadores, no entanto, necessitarão de parceiros de coalizão. Até agora, a CDU diz descartar alianças com a AfD, embora não tenha feito o mesmo com a BSW.

Antes das eleições, Wagenknecht deixou claro que a adesão de seu partido a uma coalizão de governo dependerá do tema Ucrânia. "Somente participaremos de um governo estadual que adote uma posição clara em nome da diplomacia e contra as preparações para a guerra também em nível federal", afirmou, antes da votação.

Desde as eleições, contudo, Wagenknecht adotou um tom mais ameno. Ela passou a dizer que um governo que inclua a BSW deve comunicar publicamente a intenção de ver mais "iniciativas diplomáticas" por parte do governo federal visando o fim da guerra na Ucrânia, e que não apoia o envio de armas a Kiev "na escala atual".

BSW como o "longo braço do Kremlin"

É possível, contudo, que a BSW faça valer a sua vontade? "Isso não deverá ser um grande desafio na Saxônia", diz Katja Hoyer. "Kretschmer, desde o começo, já se pronunciou claramente contra o envio de armas."

A especialista, porém, avalia que na Turíngia a situação é bem diferente. Ali, a AfD terminou as eleições como a sigla mais forte, à frente da CDU. "A BSW pode e irá colocar pressão sobre a CDU, que não venceu a eleição", prevê Hoyer.

"Quase a metade do eleitorado votou na AfD ou na BSW, ou seja, em um partido pró-Rússia. Mesmo que Wagenknecht tenha descartado isso, uma coalizão entre as duas siglas teria maioria no Parlamento estadual." Isso faz com a BSW tenha uma margem de negociação considerável para exigir concessões da CDU.

Kiesewetter, por sua vez, aconselha fortemente contra fazer concessões à sigla esquerdista. "O BSW é o braço longo do Kremlin e vai contra todos os valores que a União [a longeva aliança da CDU com a União Social Cristã (CSU) na Baviera] tradicionalmente defende: paz através da liberdade e autodeterminação, leis internacionais, democracia e comprometimento com o Ocidente". Para ele, colaborar com a BSW "equivaleria a autodestruição".

Uma saída seria os dois lados reconhecerem que os estados não são responsáveis pela situação na Ucrânia, enquanto se comprometem, mesmo que vagamente, aos esforços pela paz. Em nível federal, porém, a questão está longe de ser resolvida.

O apoio público à Ucrânia está se erodindo, especialmente no leste da Alemanha. Quanto mais a guerra se arrastar, mais difícil será para o governo manter sua política de apoio a Kiev. O tema certamente voltará à tona em 2025, antes das eleições gerais no país, em 28 de setembro.