Após confrontos, Temer aciona Exército
24 de maio de 2017Após o confronto entre manifestantes e polícia durante uma marcha em Brasília a favor da destituição de Michel Temer e eleições direitas, o presidente emitiu nesta quarta-feira (24/05) um decreto autorizando o emprego das Forças Armadas para garantir a lei e a ordem no Distrito Federal até a próxima quarta-feira.
O decreto, publicado numa edição extra do Diário Oficial da União foi anunciado por meio de um pronunciamento do ministro da Justiça, Raul Jungmann.
"O senhor presidente da República faz questão de ressaltar que é inaceitável a baderna, que é inaceitável o descontrole e que ele não permitirá que atos como esse venham a turbar o processo que se desenvolve de forma democrática e com respeito às instituições", disse Jungmann.
Tropas foram enviadas para o Palácio do Planalto e o Palácio do Itamaraty. Segundo a assessoria de imprensa do Ministério da Defesa, a atuação das Forças Armadas se restringirá a área dos prédios dos ministérios e palácios. O reforço na segurança da cidade deve contar com 1,5 mil militares.
Em nota, Temer afirmou a convocação das Forças Armadas visa "garantir uma manifestação pacífica e não destrutiva, buscando preservar a ordem pública e a segurança das pessoas". O presidente destacou que a medida está prevista na Constituição e já foi usada em diversos estados a pedidos dos governadores.
O anúncio do decreto foi feito em meio à violência durante uma marcha contra Temer na capital federal. Depois de um início pacífico, a Polícia Militar (PM) entrou em confronto com manifestantes na Esplanada dos Ministérios. Bombas de efeito moral e spray de pimenta foram usados contra um grupo que tentava furar o bloqueio da PM.
Um grupo de cerca de 50 manifestantes incendiaram três ministérios: Agricultura, Fazenda e Cultura. Os incêndios foram controlados pelos bombeiros. Em meio à confusão, Temer ordenou que os prédios da Esplanada dos Ministérios fossem esvaziados.
Após o confronto na Esplanada, os manifestantes seguiram para a rodoviária, onde usuários do transporte coletivo foram atingidos por bombas de efeito moral e spray de pimenta lançados por policiais. Houve 49 feridos e oito detidos.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, sete pessoas foram detidas na marcha por lesão corporal, dano ao patrimônio público, porte de entorpecentes e porte de arma branca. A Polícia Militar afirmou que seis policiais teriam ficado ferido nos confrontos. Pelo menos 49 manifestantes ficaram feridos, um teria sido atingido por uma arma de fogo. Cerca de 1,5 mil policiais e bombeiros integram o esquema de segurança organizado para o protesto.
Ainda de acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, cerca de 35 mil pessoas participavam da marcha pela tarde. Os organizadores falaram em 150 mil pessoas. Depois mais de cinco horas, o protesto foi chegando ao fim e os confrontos se acalmaram.
Chamado de Ocupa Brasília, o protesto foi convocado por centrais sindicais e pelas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, que organizaram os atos contra o impeachment de Dilma Rousseff.
Os manifestantes, vindos de várias regiões do país, partiram do estacionamento do estádio Mané Garrincha e caminharam pelo centro da cidade em direção ao Congresso Nacional. Deputados e senadores da oposição ao governo Temer se juntaram ao protesto.
Segurando cartazes com a inscrição "Fora Temer", os manifestantes se posicionaram não apenas a favor da destituição do presidente e de eleições diretas, mas também contra as reformas trabalhista e previdenciária em tramitação.
Críticas à convocação
A convocação das Forças Armadas pelo presidente foi criticada por parlamentares da oposição, que acusam o governo de colocar em risco a democracia país.
O senador Randolfe Rondrigues (Rede) afirmou que Temer está querendo romper com a Constituição. "O uso das Forças Armadas cabe quando todos os mecanismos policiais de segurança tiverem sido esgotados. Mas não é este o caso", acrescentou.
O senador Humberto Costa (PT) solicitou uma reunião de líderes do Senado para discutir a medida. "O presidente da República extrapolou as suas competências e tomou uma decisão que compromete a democracia brasileira", disse.
O senador Cristovam Buarque (PPS), que apoiou o impeachment de Dilma, afirmou que o presidente comentou uma insensatez ao convocar as Forças Armadas.
O líder do PMBD no Senado, Renan Calheiros, afirmou que o decreto foi feito de forma dissimulada e acusou o governo de convocar as Forças Armadas por não se sustentar mais. "Beira a insensatez fazer isso num momento em que o país pega fogo", ressaltou.
A revelação dos áudios envolvendo o presidente e do conteúdo da delação do empresário Joesley Batista provocou um terremoto político e há uma semana leva milhares de pessoas às ruas em várias cidades do país pedindo a renúncia de Temer. O Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou a abertura de inquérito contra Temer por obstrução de Justiça, corrupção passiva e organização criminosa. O peemedebista nega as acusações e afirmou que não renunciará.
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