Após debate na TV, Merkel e adversário duelam no Parlamento
3 de setembro de 2013O candidato de que tantos já haviam desistido está em grande forma e – eloquente e autoconfiante – pronto para o ataque. A três semanas das eleições parlamentares na Alemanha, o social-democrata Peer Steinbrück encontrou o tom certo e esbraveja com perícia contra a atual chanceler federal e sua coalizão.
É terça-feira (03/08) de manhã em Berlim. No Bundestag, a câmara baixa do Parlamento alemão, os assentos dos deputados estão lotados. Nas galerias para visitantes, aposentados se acotovelam com estudantes.
O tema a ser debatido – a presente situação da Alemanha – serve com perfeição à época de campanha eleitoral. Após seu duelo televisivo do último domingo, voltam a se confrontar a chanceler federal e candidata da União Democrata Cristã (CDU), Angela Merkel, e Steinbrück, do Partido Social Democrata (SPD).
Mais uma vez ela vai traçar um quadro cor-de-rosa da situação; ele, um bastante negro. Mais uma vez ela louvará o próprio trabalho e a coalizão de governo; ele vai falar de fracasso e estagnação. Uma situação, duas imagens.
Portanto, primeiro as rosas: Merkel pega seu fichário preto e assume o microfone. Aplausos das alas da CDU/CSU e do parceiro de coalizão, o Partido Liberal Democrático (FDP). A oposição posta no Twitter, folheia e sussurra de forma ostensiva.
A premiê atesta, para si mesma e sua coalizão cristã-liberal – "quatro bons anos, considerando-se tudo" – e enumera, bem inexpressiva: da ampliação do sistema de creches à estabilização do euro, passando pela regulamentação dos bancos. A Alemanha de Merkel está bem, bem mesmo, é a singela mensagem da chefe de governo: há muito as taxas de desemprego não eram tão baixas.
Quando afirma que tornou "o trabalho terceirizado socialmente correto", Steinbrück gesticula e balança a cabeça. Mais tarde ele acusará: o abuso do trabalho terceirizado e temporário se alastrou nos últimos quatro anos.
Mensagem aos eleitores
Por enquanto, Merkel prossegue: os cidadãos estão diante da questão. "Se seguimos pelo caminho do sucesso ou se vamos ter que ver grandes erros que vão aniquilar essa evolução", explica, esboçando um sorriso.
O apelo se dirige aos eleitores, que em 22 de setembro darão seu voto nas eleições federais, decidindo, assim, a formação do governo nos próximos quatro anos. A câmera do Bundestag se desloca para as galerias e dá um zoom sobre duas moças, de pulôveres idênticos, com os dizeres "I love Berlin". Ambas aparentam estar bastante entediadas.
Quando Merkel aborda o tema energia nuclear, as interjeições das alas oposicionistas se tornam mais eloquentes. Merkel encara brevemente a plateia e censura: "Este é um dos seus problemas. É que os senhores não conseguem se alegrar pelo avanço na Alemanha". Disso, acrescenta, as pessoas "não gostam nem um pouco". As alas da oposição se acalmam novamente. Steinbrück sacode a cabeça, irado.
Também na crise do euro, e com o pacote de resgate para a Grécia, seu governo fez tudo certo, assegura Merkel. E, finalmente, uma admissão: foi lento demais o avanço na regulamentação do "sistema bancário das sombras". Dito isso, a premiê fecha seu fichário preto, com um sumário "Muito agradecida", e retorna a seu lugar. Aplauso prolongado da coalizão, Merkel dá um sorriso aberto, pela primeira vez – até que seu adversário se levanta.
Tintas escuras
Peer Steinbrück se dirige ao microfone e começa: um governo progredindo em círculos, cuja gestão de crises fracassou – veja-se a Grécia. Além disso: estagnação ao invés do prometido avanço, e uma reforma do setor energético que é um desastre só.
O social-democrata aborda um tema após o outro, preciso, bem estruturado. A chanceler federal diz sempre: "Nós vamos, nós vamos, nós vamos". Mas quem governou a Alemanha, de verdade, nos últimos anos? Falta visão a Merkel, ela é a arquiteta do poder, "porém não mais a arquiteta do país".
A democrata-cristã não está mais sorrindo, ela apenas encara o espaço diante de si, de olhar fixo. Nos próximos 25 minutos, sua expressão praticamente não muda. Os políticos da oposição aplaudem com força.
"A senhora pinta o nosso país em cores bonitas", descreve Steinbrück, para então vir com uma camada de tinta bem escura: ameaça de colapso no sistema de cuidados médicos, abuso do trabalho terceirizado e temporário, falta de investimentos na educação. Seus gestos ficam cada vez maiores, sua voz cada vez mais alta.
"Dia horroroso em Berlim"
Resumindo: não há mais como seguir no caminho atual. A Alemanha precisa de um recomeço – para isso ele quer se tornar chanceler federal, brada para a sala lotada. Com uma coalizão de social-democratas e verdes no governo, não haverá resgate de bancos estrangeiros, e sim investimentos em educação e infraestrutura.
Merkel se inclina brevemente para seu vice-chanceler federal, Philipp Rösler, do FDP. A liderança do Partido Verde – parceiro de coalizão preferencial de Steinbrück, em caso de vitória – tagarela.
É claro que um governo rubro-verde "vai aumentar alguns impostos, somos honestos, nesse ponto", prossegue Steinbrück. O candidato verde a chefe de governo, Jürgen Trittin, aplaude um pouco, depois se volta novamente para seus correligionários.
Também o candidato social-democrata sorri, ao retornar a seu assento. Colegas de partido se inclinam para a frente e o congratulam. Angela Merkel não diz nada. Mais tarde, está entretida com o telefone celular.
"Que dia horroroso em Berlim", diz a mensagem no Twitter. A qual, no entanto, não é da autoria da atual chefe de governo alemã, mas sim um parodiador. Há muitos deles na internet.