Após incêndio no Rio, museu em Berlim ganha verba extra
12 de novembro de 2018O incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro foi uma tragédia de repercussão global. A notícia e as imagens do fogo consumindo séculos de história circularam no mundo todo, causando comoção e acendendo o alerta em instituições cujas condições de segurança também estavam em situações um tanto precárias.
Um destes alertas foi feito em Berlim. Após a tragédia brasileira, o diretor do Museu de História Natural da cidade, Johannes Vogel, escreveu um longo artigo no jornal local Tagesspiegel sobre a importância do Museu Nacional e os terríveis impactos do incêndio. No texto, lembrou ainda que a instituição carioca não era uma exceção em relação à situação de risco: muitos museus em todo o mundo enfrentavam problemas semelhantes, inclusive o que ele coordena.
Inaugurado em 1889, o museu é atualmente um dos mais visitados de Berlim, recebeu em 2016 mais de 820 mil visitantes. Apesar da popularidade, a instituição não tinha verba suficiente para fazer reformas necessárias, como restaurar algumas das salas que estavam no mesmo estado que ficaram no fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945. Além disso, faltava um sistema moderno de proteção contra incêndio e também isolamento nas paredes do prédio para evitar umidade e alterações de temperatura que danificam os objetos.
Há anos, Vogel vem alertando sobre essa situação e lembrando que cerca de 70% do acervo e do prédio não tinham condições de serem abertos ao público. Outro problema era o armazenamento inadequado, do ponto de vista de conservação, que atingia grande parte dos 30 milhões de objetos que pertencem ao museu. Mas até então esses alertas constantes pareciam não chegar ou comover os governantes.
Em seu artigo sobre o incêndio no Rio, Vogel mencionou novamente esses problemas e, no final, fez um apelo a governantes e parlamentares para evitar uma tragédia semelhante na Alemanha.
Quem visita o museu, se depara com essa triste realidade. Muitas salas estão fechadas, outras parecem que se perderam no tempo. Mesmo assim, o passeio é enriquecedor. Entre as estrelas do museu estão a coleção de ossos de dinossauros e algumas das amostras colecionadas por Alexander von Humboldt e Charles Darwin. A instituição guarda ainda exemplares de 10% de todas as espécies conhecidas no mundo, inclusive algumas já extintas.
Depois de tantos apelos, finalmente, os governos federal alemão e local resolveram tomar uma atitude. Em meados da semana passada, foi anunciada uma verba extra de 660 milhões de euros para o museu, a partir de 2020. O dinheiro será repassado ao logo de dez anos.
Parte destes recursos será investida em reformas e restaurações necessárias, na ampliação do prédio e na modernização da exposição e laboratórios. O projeto prevê ainda aproximar visitantes das pesquisas que são realizadas na instituição e ampliar as pesquisas, voltadas para a preservação, sobre o genoma de espécies raras.
Se a decisão de repassar uma verba extra ao museu berlinense tem alguma relação com o incêndio no Rio de Janeiro, é difícil dizer, mas, com certeza, as imagens do fogo consumindo séculos de história chegaram aos parlamentares que aprovaram a medida. Certo é que há anos os apelos de Vogel sobre a situação da instituição eram ignorados e, de repente, foram prontamente ouvidos.
Clarissa Neher trabalha como jornalista freelancer para a DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
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