Fim da ocupação
18 de dezembro de 2011O último comboio de soldados norte-americanos cruzou a fronteira iraquiana em direção ao Kuwait nas primeiras horas deste domingo (18/12), levando ao fim a ação militar dos EUA no Iraque após quase nove anos. Apenas 157 soldados ficaram no país, a fim de treinar as forças iraquianas, enquanto um grupo da Marinha permanecerá para garantir a segurança da missão diplomática.
Uma frota com cerca de 100 veículos militares, transportando 500 homens, viajou durante cinco horas ao longo da rota desértica no sul do Iraque após deixar a base de Imam Ali, próxima da cidade de Nasiriyah. Forças norte-americanas pagaram xeques tribais xiitas para inspecionarem regularmente as imediações das rodovias, a fim de reduzir o risco de bombas ou ataques às últimas tropas.
Em março de 2003 os EUA lideraram uma invasão que derrubou o governo de Saddam Hussein e desencadeou uma violência sectária brutal. A guerra matou 4,5 mil norte-americanos e mais de 100 mil iraquianos, segundo a ONG britânica Iraq Body Count.
Promessa cumprida
O cronograma para a retirada militar foi acertada entre Bagdá e Washington em 2008 e foi objeto de promessa durante a campanha eleitoral do atual presidente Barack Obama. A ocupação no Iraque foi uma herança deixada pelo seu antecessor, George W. Bush, e considerada uma das guerras mais impopulares encabeçadas pelos norte-americanos, atrás apenas da guerra do Vietnã.
As tropas dos EUA deixam para trás um Iraque que tenta superar novos impasses políticos e incertezas acerca da força suas estruturas políticas. Neste sábado (17/12), o bloco político Iraqiya – que despontou após as eleições em março de 2010, com apoio da minoria sunita – disse que estava boicotando o Parlamento como forma de protesto contra a centralização das decisões nas mãos do primeiro-ministro Nuri al-Maliki, xiita. O bloco controla nove ministérios e ainda não deixou a base do governo iraquiano.
Após a ocupação das tropas norte-americanas e da queda de Saddam Russein, o país mergulhou em um caos. Em vez de uma nova orientação democrática e de expansão econômica, revoltas sangrentas contra a presença dos EUA e confrontos étnicos e religiosos levaram a uma completa instabilidade.
Olho no futuro
Apesar dos graves problemas, os iraquianos aprovaram uma constituição democrática no ano passado e realizaram eleições. "Apesar de todas as dificuldades, problemas e vítimas do país desde a ocupação norte-americana, o Iraque de 2011 está melhor que o de 2003, pois um dos ditadores mais violentos do Oriente Médio saiu de cena", avalia Henner Fürtig, diretor do Instituto de Estudos do Oriente Médio Giga em Hamburgo.
O especialista em Oriente Médio e diretor do Instituto Alemão de Relações Internacionais e de Segurança (SWP) em Berlim, Volker Perthes, a consolidação da política interna e o fortalecimento social serão decisivos para o futuro do Iraque. A segurança social também é importante, afirma Perthes, por isso deve haver uma melhor distribuição de recursos. Uma base financeira já existe, já que o Iraque voltou a produzir petróleo nas mesmas quantidades que antes da guerra. Mas nem todos lucram com isso.
"Nos últimos anos, poderia se colocar a responsabilidade de tudo que estava errado sobre os norte-americanos. Os EUA realmente têm grandes responsabilidades e culpas. Mas, ultimamente, grupos e facções políticas também foram responsáveis por muita coisa", afirmou o especialista.
MSB/afp/rtr/dw
Revisão: Soraia Vilela