Após primeiras vitórias, novo partido eurocético alemão enfrenta crise
6 de janeiro de 2014A carreira do partido eurocético Alternativa para a Alemanha (AfD) tem sido meteórica: fundado no início de 2013, já nas eleições legislativas de setembro ele conseguiu 4,7% dos votos – equiparando-se ao veterano Partido Liberal Democrático (FDP). No entanto, após tamanho sucesso, a AfD se encontra diante de numerosos problemas, em diversas frentes.
Entre eles, por exemplo, as acusações de extremismo de direita contra um membro de sua liderança em Hessen, e as diversas querelas intrapartidárias. Acrescente-se, ainda, o euro – tema central do partido contrário à moeda única europeia –, o qual tem se mostrado robusto, apesar de todas as crises. Ao que tudo indica, essas dificuldades vêm se expressando justamente no desempenho cada vez mais fraco do AfD nas pesquisas de opinião.
Radicalismo em Hessen
A ala do AfD no estado de Hessen é a que tem mais chamado atenção negativa sobre si. Seu tesoureiro, Peter Ziemann, teria advertido, na internet, contra uma infiltração da sociedade por imigrantes criminosos, usando o termo "pragas".
Dele é também a citação: "O socialismo de hoje, que ousa se chamar democracia, precisa ter o mesmo destino do Bloco do Leste." Por sua vez, o líder estadual do partido, Volker Bartz, classificou a declaração, claramente anticonstitucional, como "filosoficamente interessante".
Em reação, a diretoria nacional do partido demitiu Ziemann do cargo de tesoureiro de Hessen. E o presidente do AfD, Bernd Lucke, sugeriu que Volker Bartz renunciasse – supostamente também devido a falhas cometidas por ele num emprego anterior.
Em seguida, uma troca de e-mails confidencial entre ambos foi revelada à imprensa. Por fim, a presidência dos eurocríticos decidiu exonerar Bartz do cargo, por "graves danos ao partido". Uma prova clara dos graves cismas internos no AfD, especialmente no estado de Hessen.
"Captura acidental"
"Nós conseguimos que bons elementos se associassem a nós – também alguns dos quais não gostamos tanto", admitiu o vice-presidente do AfD, Konrad Adam, em entrevista à DW. "Eles existem em qualquer partido. Na época da nossa fundação, eles nos procuraram em grande número, especialmente em Hessen."
Na opinião de Adam, tais pessoas não têm lugar no partido. "Os pescadores chamam isso de 'captura acidental'. Ela entrou por acaso na rede: é preciso jogá-la de volta ao mar." A solução soa simples, mas o problema ainda deverá ocupar o partido durante algum tempo, sobretudo porque a "captura acidental" conseguiu chegar até os postos de liderança.
A explicação sobre como tal coisa foi possível não desperta exatamente confiança na estrutura do partido, nem nas votações intrapartidárias. "As pessoas têm dez minutos para se apresentar, e aí se diz: 'Neste eu voto, neste, acho que não.' A quota de acaso nos resultados é atipicamente alta, o que levou a esta situação", constata o vice-presidente Konrad Adam. "Fora os nomes e os rostos, a maioria dos membros não sabe muita coisa. A rigor, eles não sabem em quem estão votando."
Falta de carisma na liderança
O AfD parece ter o mesmo problema com sua imagem pública: seus eleitores não sabem em quem votam. A maioria dos alemães já ouviu falar em seu presidente, Bernd Lucke, mas "atrás dele, são relativamente poucos os que são conhecidos em grande escala", explica Manfred Güllner, diretor-geral da instituto de pesquisa de opinião Forsa.
"No fim das contas, é isso que falta ao AfD: algo assim como um Haider alemão. Aí ele se tornaria, de fato, extremamente perigoso para os outros partidos." Entretanto Lucke não chega nem perto do carisma que irradiava o populista de direita austríaco Jörg Haider, morto num acidente em 2008.
E a crítica contra o líder cresce. "Lucke certamente ajudou o AfD antes das eleições parlamentares, pois se tornou conhecido, graças à sua presença pública. Mas agora ele está também se revelando um fanático, um missionário, que não conta mais com simpatia de todos os lados", analisa Güllner.
Incerteza nas urnas
Segundo uma enquete representativa do Forsa, o Alternativa para a Alemanha conta com o apoio de cerca de 4% do eleitorado alemão. Ou seja, desde as eleições de setembro de 2013, ela se encontra pela primeira vez abaixo da marca de 5%, necessária ao ingresso no Bundestag (câmara baixa do parlamento alemão).
Isso, porém, não significa que o partido esteja automaticamente ameaçado de ficar fora do Parlamento Europeu nas eleições de maio próximo: neste caso, a porcentagem mínima é de apenas 3%, e o comparecimento às urnas desempenha um papel decisivo.
"Quando se considera que a participação nas eleições da União Europeia deverá ser bastante reduzida, possivelmente abaixo de 40%, então bastariam 750 mil votos para alcançar os 3%", esclarece Güllner: "O AfD conseguiu mais de 2 milhões nas eleições para o Bundestag. Então, do ponto de vista matemático, as chances são bastante boas."
Entretanto, as querelas intrapartidárias podem comprometer ainda mais o apoio do eleitorado: nos quatro meses e meio até o pleito para o Parlamento Europeu, ainda se poderá quebrar muita louça – com consequências talvez graves.
E se o AfD não conseguir alcançar a marca de 3%? "Isso seria um sinal que deveríamos levar muito a sério", responde o vice-líder partidário Konrad Adam. "Eu temo que isso colocaria a existência do partido em perigo."