Após protestos, Macron anuncia "pacote de bondades"
10 de dezembro de 2018O presidente da França, Emmanuel Macron, proferiu nesta segunda-feira (10/12) um discurso à nação no qual anunciou uma série de medidas econômicas em resposta ao movimento dos "coletes amarelos", que há quatro semanas realiza manifestações no país contra as políticas econômicas do governo.
Foi o primeiro discurso de Macron desde a eclosão do movimento, que teve como ponto de partida um plano do governo para aumentar os impostos sobre combustíveis. A medida enfureceu os franceses que dependem dos automóveis particulares para trabalhar e se deslocar, muitos deles habitantes de cidades pequenas.
Nas últimas semanas, a popularidade do presidente despencou. Na semana passada, uma pesquisa mostrou que seu governo só é aprovado por 21% da população.
No início do discurso, Macron condenou a violência dos protestos – as manifestações do sábado passado resultaram na detenção de mais de 2 mil pessoas. "Quando a violência corre, a liberdade cessa", disse o presidente, que apontou ainda que a "violência não será tolerada".
Macron, no entanto, disse reconhecer que a raiva da população é "mais profunda" e vai além do aumento dos impostos sobre combustíveis, que já foram suspensos. "É a raiva da mãe solteira ou divorciada que não tem condições de cuidar dos filhos e de melhorar sua renda mensal, e não tem esperança" e "dos aposentados que contribuíram a vida toda e não conseguem se sustentar".
Ele também pediu desculpas e disse que seu governo não soube responder de forma adequada. "Entendo que possa ter frustrado alguns com minhas propostas. (...) Mas acredito que possamos encontrar uma nova via para que possamos sair disso juntos", disse. "Isso pode ser uma oportunidade."
Logo em seguida, Macron anunciou um pacote de bondades em resposta aos protestos. Entre as medidas estão um aumento de 100 euros no salário mínimo (hoje o valor bruto é de 1.498 euros, ou 1.185 euros líquido), a suspensão de impostos sobre horas extras pagas a funcionários até 2019 e que aposentados que recebem menos de 2 mil euros por mês ficarão de fora da elevação de uma contribuição social em 2019. Macron ainda disse que as empresas que decidirem pagar um bônus aos funcionários no fim do ano poderão fazer isso sem precisar recolher impostos.
Macron ainda declarou um "estado de emergência econômica e social" e prometeu realizar um debate sem precedentes sobre uma profunda reforma do estado. "Um debate sem precedentes vai acontecer em nível nacional em nossas instituições, cada uma terá seu papel: governo, Assembleia Nacional, parceiros sociais e associações, vocês terão seu papel", disse o presidente, que ainda apontou que a "questão da imigração deve ser enfrentada", mas sem entrar em detalhes.
O presidente francês, no entanto, descartou rever a questão do imposto sobre fortuna (ISF, na sigla em francês). O ISF é pago por cerca de 1% dos franceses, mas Macron decidiu acabar com a taxa – que cobrava mais encargos daqueles com renda superior a 1,3 milhão de euros por ano – e substituí-la por uma taxa sobre o patrimônio imobiliário. Segundo Macron, com o fim do imposto, os mais ricos teriam a oportunidade de investir seus ganhos na economia. "Não haverá recuo", disse Macron.
Só que o fim do ISF é rejeitado pelas classes baixa e média da França, que eram simpáticas a sua manutenção como forma de melhorar a igualdade no país. A extinção do imposto acabou reforçando a imagem de Macron como "um presidente dos ricos", especialmente entre os "coletes amarelos".
Repercussão
Adversários do presidente criticaram o discurso de Macron e as medidas anunciadas. Marine Le Pen, a candidata de extrema direita derrotada por Macron no segundo turno da última eleição presidencial, escreveu em sua conta no Twitter que Macron "renunciou a uma parte dos seus erros fiscais, tanto melhor, mas ele se recusa a admitir que o modelo do qual é um defensor ferrenho é que esta sendo contestado. É o modelo da globalização selvagem, da concorrência desleal e da imigração em massa e suas consequências sociais e culturais", disse.
Outro adversário de Macron nas últimas eleições, o esquerdista Jean-Luc Mélenchon, disse em um vídeo que "Macron pensou que uma distribuição de trocados poderia acalmar uma insurreição cidadã". "Uma fatia considerável da população não é contemplada por nenhuma das medidas anunciadas pelo presidente. Notadamente os que mais precisam, como os desempregados", disse.
Após o anúncio, o presidente da CGT, uma das principais confederações sindicais da França, Philippe Martinez, disse que as medidas são insuficientes e conclamou uma mobilização na próxima sexta-feira em apoio aos coletes amarelos.
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