Após queda de Kherson, moradores reforçam portas e janelas
4 de março de 2022Após quase uma semana de guerra, tropas russas tomaram a cidade portuária de Kherson, no sul da Ucrânia. Essa foi a primeira grande conquista da Rússia desde o início da invasão em 24 de fevereiro. Com a queda, moradores aguardam apreensivos em suas casas.
"Não temos Forças Armadas ucranianas na cidade, apenas moradores pacíficos que querem viver aqui!", escreveu o prefeito de Kherson, Igor Kolychayev, num comunicado na noite desta quinta-feira (03/03). Os soldados russos estiveram na prefeitura da cidade, mas a bandeira ucraniana ainda está tremulando sobre o prédio.
Alexey Sandakov, que mora perto do centro de Kherson, confirmou à DW nesta quinta-feira que a administração ucraniana ainda estava funcionando na cidade. Por telefone, ele disse que não sai de casa há dois dias.
"Nós reforçamos as janelas e portas", contou. Uma câmera transmite imagens da rua. "Vimos veículos militares, mas nenhuma força terrestre [russa]."
Sandakov e outro morador, Artemii Perun, também relatam saques por soldados russos. Perun disse que se mudou temporariamente para outra parte da cidade, porque seu apartamento na periferia estava na região dos combates. Ele conta que ouviu tiros na noite de quinta-feira, apesar dos relatórios do Exército ucraniano não mencionarem mais nenhuma luta pela cidade.
Maioria dos moradores fica em casa
Com 300 mil habitantes, a cidade portuária de Kherson, no sul da Ucrânia, tem uma localização estratégica para a Rússia, devido à sua proximidade à Península da Crimeia e à foz do rio Dnipro. Ela é o primeiro grande centro urbano conquistado por Moscou.
De acordo com Perun, as tropas russas montaram bloqueios nas estradas. "Quem viaja sozinho ou em duplas e transporta comida ou remédios pode passar. Mas alguns também foram barrados", contou.
Longas filas se formaram também em frente a mercearias e farmácias, disse Perun. "Muitos tentam se ajudar e trocam medicamentos entre si." A maioria dos moradores fica em casa.
O aposentado americano Donald Flett, que vive há anos na cidade, contou à DW por telefone que testemunhou ataques com foguetes perto de sua casa, na periferia ao norte, antes da invasão russa.
"Um foguete atingiu o primeiro andar de um prédio residencial, e uma idosa morava lá. Ela foi retirada do local em ruínas", disse ele. Ele também confirma que não houve nenhuma mudança na administração da cidade até agora e que está em contato com o prefeito Kolychayev, que atualmente negocia um corredor humanitário com o Exército russo.
Tropas russas avançam
Moscou invadiu a Ucrânia há uma semana e, desde então, atacou várias cidades. Mais recentemente, a Rússia aumentou significativamente os ataques aéreos. Paralelamente ocorrem negociações para um cessar-fogo.
Berdyansk, uma cidade portuária muito menor localizada a 350 quilômetros a leste de Kherson, também foi conquistada pelas tropas russas. Uma ofensiva está em andamento contra a Mariupol.
"Hoje foi o dia mais difícil e cruel da guerra até agora", afirmou o prefeito de Mariupol, Vadim Boichenko, em um vídeo postado no aplicativo de mensagens Telegram na quinta-feira.
A Câmara Municipal disse que a Rússia mantém Mariupol sob constante bombardeio e tem como alvos a infraestrutura civil. Pontes e ferrovias danificadas tornaram impossível a retirada de pessoas e entrega de suprimentos. O abastecimento de água e energia foi prejudicado, assim como o aquecimento.
Na cidade de Enerhodar, no sul da Ucrânia, tropas russas dispararam contra um posto de controle montado por civis, de acordo com o prefeito.
Os russos avançaram com um grande comboio militar e usaram armas contra civis, escreveu Dmytro Orlov nesta quinta-feira no Telegram. Estas informações não puderam ser verificadas de forma independente. A Rússia nega veementemente ataques contra civis.